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A INTERFACE ENTRE UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA MÉDICOS DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ASPECTOS DA ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE
Resumo
O discurso institucional nas últimas décadas, por meio de políticas formalizadas, apresenta consenso quanto à prioridade da expansão da estratégia de Saúde da Família (SF). Assim, um Programa de Educação Permanente (PEP) para Médicos de SF, proposto por um estado da região Sudeste (SE), representa um subsídio à qualidade desses serviços, diante de desafios pertinentes à formação médica e à fixação desse profissional. Por sua vez, há de se compreender a realidade da implementação da estratégia da SF e do PEP na perspectiva da organização da rede de atenção que se constitui a partir da distribuição e aplicação de recursos nos mais variados serviços de saúde. As informações foram coletadas por meio de entrevistas com coordenadores da ação educativa no âmbito de faculdades de medicina e nas regionais de saúde; e gestores municipais. Realizaram-se grupos focais com médicos atuantes na SF e participantes do PEP, com enfermeiros e ACS de suas respectivas equipes e médicos responsáveis pela condução das atividades. O estudo em questão representou um recorte dos achados sistematizados pela análise de conteúdo segundo unidades temáticas relacionadas aos componentes do sistema de saúde e do próprio PEP. No que tange à interface entre a ação de educação permanente e a organização da atenção, constata-se que na percepção dos coordenadores do programa há uma divergência quanto à real priorização e valorização da rede APS frente aos serviços como hospitais e referências especializadas. Essa contradição está associada à ausência de um Plano de Cargo Carreira e Salário para o profissional da SF, induzindo a uma disputa pelo médico entre municípios, com diferentes propostas. A formação médica foi referida como uma causa da dificuldade do médico da SF em incorporar em seu processo de trabalho práticas relacionadas à organização dos serviços ou do próprio processo de trabalho, principalmente em equipe. O conjunto de fatos foi referido como explicação da expressiva presença de recém-formados na SF, da alta rotatividade, do pouco vínculo com o trabalho e com a educação permanente. O estudo concluiu que a análise prévia de aspectos como a gestão e organização da atenção à saúde no município são pré-requisitos para a reorientação da implementação de políticas de educação permanente referida.