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EXPERIÊNCIA DO GRUPO DE ADOLESCENTES EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Resumo
A adolescência constitui-se em uma fase do desenvolvimento humano que, por muito tempo, foi negligenciada pelos profissionais de saúde e pela própria sociedade. Compreende um período de transição e de peculiaridades que exige uma abordagem adequada e contextualizada, que não pode ser entendida como um fenômeno biológico, social ou cultural, separadamente, mas articulada, como entidade dinâmica e em constante mutação. As modificações biopsicossociais caracterizadas na adolescência afetam o processo natural de desenvolvimento e envolvem a necessidade de experimentar comportamentos que deixam os adolescentes mais vulneráveis a riscos e danos a sua saúde. Por sua vez, o grupo é o habitat natural do adolescente e, nele, ele se organiza, com linguagem característica e distinta dos demais grupos sociais. A compreensão dessas particularidades levou a equipe de profissionais de saúde da Clínica da Família Souza Marques a organizar um grupo, com abordagem conscientizadora e reflexiva, visando a garantir o acesso do adolescente ao exercício pleno da cidadania. A primeira atividade consistiu numa dinâmica lúdica, cujo objetivo foi empoderar os adolescentes no autocuidado e na busca pelo serviço de saúde, através da discussão sobre o funcionamento da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Foram confeccionadas maquetes de campos de futebol e jogadores, com material reciclado. Em grupos de no máximo quatro, propôs-se que os adolescentes posicionassem os jogadores em campo, relacionando-os aos indivíduos envolvidos na ESF, entendendo que a marcação de um gol representaria uma ação de saúde bem sucedida. Quando esta atividade foi aplicada aos profissionais da clínica, a maioria relacionou o papel do atacante ao médico ou ao agente comunitário em saúde (ACS). Surpreendentemente, os adolescentes facilmente se reconheceram no papel de atacantes, entendendo que, mesmo que todos os profissionais cumpram seu papel, se o usuário não seguir as orientações recebidas, nenhuma atuação em saúde poderá ser efetiva. As demais posições demandaram mais discussões entre os adolescentes e os facilitadores dos grupos, comprovando que a maioria desconhecia a dinâmica de trabalho da ESF. Por fim, todos concordaram que o meio-campo estaria relacionado aos ACS, que fazem a interface entre os usuários e os outros profissionais das equipes de saúde. Na posição de zagueiros, estariam os técnicos de enfermagem e de saúde bucal. Nas laterais, os profissionais do Núcleo de Apoio à ESF e a posição de goleiro seria ocupada pelo médico, cirurgião dentista ou enfermeiro, que são os prescritores da maior parte das ações em saúde e, no caso de uma doença evitável, são o último elo de defesa. Ao final da atividade, as avaliações dos adolescentes foram muito positivas, no sentido de termos conseguido estabelecer uma linguagem compreensível e próxima ao seu cotidiano. Da parte dos profissionais, consideramos termos marcado um gol de placa.
Palavras-chave
saúde da família; saúde do adolescente; promoção da saúde
Referências
Saúde: Práticas locais, experiências e políticas públicas