Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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FAMÍLIA NEGLIGENTE OU FAMÍLIA NEGLIGENCIADA?
Erika Schreider, Isabel Marco Huesca

Resumo


A negligência é uma das formas de maus-tratos mais notificadas. Segundo o Observatório da Infância (2013), ela está entre os primeiros lugares das denúncias de maus-tratos que chegam àquele Observatório. O que esses dados revelam? Será que essas notificações de negligência levam em consideração a negligência estrutural? Ou tem apenas a dimensão da culpabilização e punição da família? Será que há uma preocupação com o desenvolvimento de fato da criança no seu seio familiar? Ou será apenas uma atitude descontextualizada? Atitude esta alicerçada em valores conservadores em que a família é percebida exclusivamente como responsável pelas suas crianças, desconsiderando o contexto político, econômico e cultural em que a criança e sua família estão inseridas. O que se pode perceber é que as mudanças que vem ocorrendo na atualidade contribuem para a fragilização da família que, contraditoriamente, vê ampliadas suas responsabilidades de proteção social. Uma vez que, é tendência marcante o corte nos gastos sociais e a desresponsabilização do Estado por esta área das políticas públicas. A despeito dessa realidade, a denúncia de maus-tratos, mais especificamente de negligência, muitas vezes, coloca a família em questão. Ainda é comum, entre os profissionais de saúde, preconceitos que podem dificultar e estigmatizar famílias sem recursos econômicos, sendo essencial que se façam discussões sobre as situações e que os profissionais da equipe multiprofissional se capacitem, se valendo das diversas abordagens multidisciplinares, na compreensão dos vários determinantes em que os usuários estão inseridos. Sendo assim, a atuação do Serviço Social junto à equipe multiprofissional fomentando a reflexão mais crítica acerca da sociedade, a partir da perspectiva de totalidade é imprescindível para melhor compreensão acerca da realidade socioeconômica em que a família está inserida, desvendando, assim, os determinantes da negligência. Para que seja possível a construção de uma perspectiva de trabalho menos focalista e que vislumbre os direitos da criança/adolescente em uma direção mais ampla, imprimindo uma postura coadunada com o reconhecimento de que os direitos sociais devem ser garantidos pelo Estado. Recomenda-se um trabalho em equipe que possa ser direcionado para uma perspectiva mais ampliada de saúde, contextualizando a dimensão socioeconômica em que a família está inserida e refletindo sobre a negligência em uma direção mais crítica e voltada para a dimensão de totalidade.

Palavras-chave


Família; Negligência; Estado; Equipe de Saúde

Referências


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