Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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PARA ALÉM DO DIAGNÓSTICO, UM SUJEITO – CONTRIBUIÇÃO DA PSICANÁLISE AO CAMPO DA SAÚDE MENTAL INFANTO-JUVENIL
Alissia Gressler Dornelles, Edna Linhares Garcia, Carla Franco Hoffmann, Willian Augusto dos Santos, Fabiana Borowsky, Silvana Cristina Jaeger, Adriana Reni Krüger

Resumo


No campo da saúde mental, encontramos uma proliferação de descrições nosográficas e diagnósticas. Este trabalho visa problematizar a questão do diagnóstico e sua relação com a posição subjetiva do sujeito, utilizando como base a experiência de profissionais no Centro de Atendimento Municipal Especializado do município de Vera Cruz/RS, serviço que atende crianças e adolescentes com diferentes questões nos aspectos psíquico e cognitivo, dificuldades no desenvolvimento neuropsicomotor e distúrbios da comunicação. Constata-se a incidência dessa perspectiva de classificação no processo terapêutico das pessoas atendidas, que muitas vezes tomam o diagnóstico médico como verdade absoluta e passa a utilizar esse “rótulo” como forma de subjetivação, o que limita o desenvolvimento de suas potencialidades. Percebe-se que as próprias famílias insistem na busca de tal diagnóstico para dar um nome àquilo que lhes causa angústia. Freud (1930) refere que a reação mais comum frente ao mal-estar é a tentativa de sua imediata supressão. Esta premissa ajuda a entender a função dos diagnósticos em nossa sociedade. Costa (2009) assinala que temos desenvolvido um aparente domínio sobre nossa condição de falibilidade, em que as dúvidas e as barreiras de nosso conhecimento são constantemente transpostas. Isso reflete a tentativa de um domínio (ilusório) sobre o corpo, exemplificado pelas intenções classificatórias dos diagnósticos, que colocam o sujeito numa posição de exterioridade em relação ao seu sintoma. Já a psicanálise reconhece a impossibilidade do sujeito dominar este mal-estar, uma vez que faz parte da própria construção da civilização humana, e entende o diagnóstico enquanto forma dinâmica de pensar o sujeito em sua estruturação subjetiva, a partir do seu posicionamento diante do Outro, da forma como endereça seu discurso às instâncias que lhe constituem (pais, família, trabalho, sociedade). Esta perspectiva muito colabora com as diretrizes propostas para a saúde coletiva, principalmente o campo da saúde mental, pois percebe o sujeito como agente ativo de sua posição subjetiva e social, o que nos permite redimensioná-lo como autor de sua própria história e, a partir daí, estimular a reinvenção de seus modos de vida, ao adquirir condições psíquicas de construir um percurso diferente daquele esperado pelas limitações até então impostas pelo seu diagnóstico.

Palavras-chave


Diagnóstico; Modos de subjetivação; Psicanálise; Singularidade.

Referências


Costa, A. M. M. Classificação do mal-estar e medida comum de alienação. In: Boletim de Saúde, vol. 23, n. 2. Porto Alegre: SES/ESP, 2009.

Freud, S. (1930) O mal-estar na civilização. Sigmund Freud - Obras Completas, vol. 18. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.