Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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INCURSÕES AO TERRITÓRIO DA INTERSUBJETIVIDADE NO PROCESSO DE TRABALHO E NA VIDA: A ARTE COMO DISPOSITIVO PARA CUIDAR DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE
Carla Pontes de Albuquerque, Ana Cláudia Menezes, Angela Philippini

Resumo


No modelo brasileiro de atenção primária, o ACS é um fundamental integrante da equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Por ser morador da área aonde trabalha, a demanda pela sua atuação tanto por parte dos profissionais de saúde e dos usuários do serviço é constante. Estar nesta fronteira entre limites tênues de ser profissional ou usuário, na interlocução entre culturas diversas  implica em um processo de trabalho exaustivo, que muitas vezes leva a degastes e sofrimento psíquico. Em contextos, nos quais a organização de trabalho reproduz relações verticais na equipe, com pouco compartilhamento de decisões, frequentemente são os/as ACS que têm menos poder de expressarem suas perspectivas e interesses. Há ainda muitos dilemas frente às competências do ACS, muito embora estas estejam definidas na Política Nacional de Atenção Primária (BRASIL, 2006). Assim como os prejuízos causados pela forma de contratação e remuneração do ACS, que é sujeita em geral a vínculos empregatícios provisórios e salários muitos desiguais em relação ao restante da equipe. Este relato versa sobre uma experiência de facilitação de oficinas de arteterapia para ACS em uma clínica da família situada em área vulnerável (cobertura de 3 comunidades de favela) na zona sul carioca. Ao supervisionar internos/as de Saúde Coletiva da graduação médica da UNIRIO na clínica e desenvolver com eles/as atividades educativas e culturais no território, para promoção da saúde e defesa da defesa da vida, o gestor da clínica consultou sobre a possibilidade de organizar uma oficina de cuidado com técnicas expressivas criativas para pessoas que apresentassem sofrimento psíquico. Após um período de conversações, que incluiu voluntariamente uma artista plástica, pós graduanda de Arteterapia da mesma turma na Clínica Pomar/RJ, ficou acertado o novo campo de estágio supervisionado pela coordenadora do referido curso. A configuração do estágio se deu através de 36 oficinas semanais de Arteterapia para agentes comunitários das três equipes da Clínica da Família. Com recursos expressivos diversos (desenho, pintura, colagem, dança, dramatização, fotografia, cinema, escrita criativa, bordado, contação, musicalização, imaginação ativa, passeios em museus e áreas culturais da cidade, dentre outros) foi sendo possível trabalhar o simbólico e a intersubjetividade dos/as participantes. Durante os 18 meses previstos na modalidade que envolvia os módulos diagnóstico, estímulos geradores e processos auto-gestivos, houve uma circularidade de participantes, tendo em vista o contexto de provisoriedade e luta pelo imediato da vida, vivenciado pelos ACS. Ainda assim, foram muitos momentos nos quais os/as ACS produziram trabalhos de forte expressão e criativa que apontaram possibilidades de novos e promissores caminhos. Os encontros mais significativos, certamente foram os que tanto as facilitadoras e os/as participantes das oficina afetaram e foram afetados/as no processo uns/umas com os outros/as.

Palavras-chave


Agente Comunitário de Saúde, Cuidando de quem Cuida, Arteterapia

Referências


AYRES,J. R. C. M. Cuidado e Reconstrução das Práticas de Saúde. In: Interface -Comunic.,Saúde, Educ.,v.8,n.14, p.73-92, set.2003PHILIPPINI,  A.    Grupos em Arteterapia: redes criativas para colorir vidas. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.SANTOS, L. F. & DAVID, H.L. Percepções do estresse no trabalho pelos agentes comunitários de Saúde. Revista de Enfermagem. v. 19. Uerj. Rio de Janeiro, 2011.