Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A literatura como recurso de humanização promovida por grupo de militância artística pela saúde.
Leon Henrique Mourão, Vitor Nina Lima, Heitor Silva Portal, Ana Paula Prata Costa, Bianca Leão

Resumo


Caracterização problema: A Trupe da Pro-Cura é um grupo de extensão da Universidade Federal do Pará composto por acadêmicos de diversas áreas e trabalha as questões da saúde através da transdiciplinaridade, apropriando-se de diferentes linguagens artísticas, como a palhaçaria, a música e a literatura. Por entender que a promoção da saúde é um meio eficaz de garantia de emancipação social, dignidade e justiça, o grupo busca resgatar o perfil do profissional engajado na prática cotidiana. Diante das condições deficitárias na infraestrutura de trabalho, que oprimem continuadamente a busca pela prestação adequada de serviços, a Trupe busca a manutenção do interesse do profissional pelo ser humano. Isso só é possível por meio da renovação do olhar prestativo, que oferece cuidados – trata-se do olhar humanizado, carregado de empatia. O aporte da literatura como complemento das atividades exercidas é uma tentativa de ampliar o domínio das múltiplas linguagens artísticas à instrumentalização da saúde, entendida em seu conceito mais amplo. O desenvolvimento do todo é compreendido como intrínseco ao desenvolvimento pessoal, e vice-versa. Esse desenvolvimento se traduz na capacidade de libertar-se do entrave à expressividade própria de cada indivíduo, que tem direito e dever de se conscientizar da coletividade em que está ambientado. Descrição da experiência: O encontro com a humanização para este grupo de militância artística pela saúde ocorre de forma dinâmica e continuada. Uma das bases para a fundamentação da prática é a publicação periódica de diversos textos: crônicas, contos, poemas, cartas, etc. Os autores – acadêmicos de diversas áreas, membros da Trupe da Pro-Cura – expõem suas vivências, com o olhar subversor característico do clown, renovado a partir das frequentes intervenções artísticas do grupo. São produzidos textos sobre as ações da palhaçoterapia, ensaios semanais, espetáculos teatrais, motivações particulares e situações cotidianas. Visualizar a arte como uma ferramenta popular para aprofundar e expandir qualquer discurso tem como conseqüência priorizar o esforço pela consolidação da perspectiva de coletividade e não simplesmente da técnica. Os autores dos textos têm apenas noções básicas de literatura que trazem ainda do ensino médio, mas a necessidade de expressão supera este obstáculo, estimulando a busca pelo desenvolvimento da habilidade literária por quem escreve continuadamente. No que diz respeito ao discurso da promoção da saúde, a trupe valoriza a popularização da arte para tratar do tema saúde, conceito também de interesse público e popular. Dessa forma, existe uma contra tendência ao movimento de virtuosismo da arte, que compõe a noção estética a partir de valores elitistas. Os escritores com mais experiência compartilham dicas de como traduzir uma experiência em formato literário. Uma destas é fazer a verbalização da vivência, no modelo de um relatório e, em seguida, tentar enquadrar em uma modalidade literária (conto, crônica, poema, etc.) aquela experiência da forma mais interessante para o autor. Um reforço para este método é a composição do relatório de atividades da palhaçoterapia semanal que ocorre no Hospital Universitário João de Barros Barreto. Efeitos alcançados: Por considerar a internet o veículo mais acessível para a publicação desse material, a produção literária tem exposição prioritária no blog do grupo (http: //blogdatrupe.wordpress.com) e nas redes sociais. Os mais de 3.000 acessos em oito meses têm sido motivadores para a continuidade do trabalho, além de serem prova da popularização do que é desenvolvido pela Trupe. Não existe premiação para os textos criados, pois isso poderia reforçar um indesejável espírito de competição entre os membros. O que se espera é que o autor encontre a satisfação na sua liberdade de expressão e se sinta engajado a produzir material para consolidar o trabalho do grupo e a carreira pessoal. Para tanto, tudo o que é produzido é amplamente divulgado por todos os outros membros, nas mais diversas formas possíveis, a fim de criar um reconhecimento e prestígio àquela obra e ao autor, além de alimentar o trabalho em grupo. Além desses meios, projetos em outras modalidades de publicações – como revistas, livros, artigos – estão em andamento para expandir a linha de pesquisa e aprofundá-la. Tanto o público quanto os próprios autores têm aderido ao olhar prestativo em seu cotidiano com a abrangente repercutida divulgação das obras. Paralelamente, se tem encontrado resultados na profissionalização dos acadêmicos de medicina envolvidos a partir das bases da medicina baseada em narrativas. Nesta, o paciente e o médico são encarados como contadores de histórias, logo a abordagem clínica pode ser potencializada em sua eficácia através do domínio da técnica narrativa, diretamente relacionada à composição literária do que é proposto na relação médico-paciente, que ocorre nas entrelinhas de seus discursos isolados. Recomendações: É necessário prestar atenção à realidade em que se está inserindo, bem como a realidade em que outras pessoas que temos contato estão, para compor um texto que expõe sutilmente essa perspectiva. O mais importante é não se esquecer de abarcar outras perspectivas, pois o que é mais necessário para a desprecarização e desenvolvimento do processo de saúde é resgate da empatia. Dentro da atividade médica, é indispensável a competência em narrativa, por ser o veículo para o reconhecimento, assimilação, interpretação das motivações e dificuldades dos pacientes a partir das suas histórias contadas por eles. Dessa forma é possível solidificar a conduta médica centrada na pessoa, não na doença, contrapondo-se ao modelo bio-médico de assistência à saúde. A ideologia da Trupe da Pro-Cura é a de que a arte tem papel fundamental no desenvolvimento da individualização do homem, integrando-o ao meio em que vive. Nessa luta, todos somos seres ativos. O agente executor é alguém que inicia o processo que, para ser posto em movimento, é necessário que toque e motive o outro. Por isso, é importante encontrarmos formas de divulgar gestos que podem modificar a sociedade onde é mais necessário: no homem.