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A literatura como recurso de humanização promovida por grupo de militância artística pela saúde.
Resumo
Caracterização problema: A Trupe da Pro-Cura é um grupo de extensão da Universidade Federal do Pará composto por acadêmicos de diversas áreas e trabalha as questões da saúde através da transdiciplinaridade, apropriando-se de diferentes linguagens artísticas, como a palhaçaria, a música e a literatura. Por entender que a promoção da saúde é um meio eficaz de garantia de emancipação social, dignidade e justiça, o grupo busca resgatar o perfil do profissional engajado na prática cotidiana. Diante das condições deficitárias na infraestrutura de trabalho, que oprimem continuadamente a busca pela prestação adequada de serviços, a Trupe busca a manutenção do interesse do profissional pelo ser humano. Isso só é possível por meio da renovação do olhar prestativo, que oferece cuidados – trata-se do olhar humanizado, carregado de empatia. O aporte da literatura como complemento das atividades exercidas é uma tentativa de ampliar o domínio das múltiplas linguagens artísticas à instrumentalização da saúde, entendida em seu conceito mais amplo. O desenvolvimento do todo é compreendido como intrínseco ao desenvolvimento pessoal, e vice-versa. Esse desenvolvimento se traduz na capacidade de libertar-se do entrave à expressividade própria de cada indivíduo, que tem direito e dever de se conscientizar da coletividade em que está ambientado. Descrição da experiência: O encontro com a humanização para este grupo de militância artística pela saúde ocorre de forma dinâmica e continuada. Uma das bases para a fundamentação da prática é a publicação periódica de diversos textos: crônicas, contos, poemas, cartas, etc. Os autores – acadêmicos de diversas áreas, membros da Trupe da Pro-Cura – expõem suas vivências, com o olhar subversor característico do clown, renovado a partir das frequentes intervenções artísticas do grupo. São produzidos textos sobre as ações da palhaçoterapia, ensaios semanais, espetáculos teatrais, motivações particulares e situações cotidianas. Visualizar a arte como uma ferramenta popular para aprofundar e expandir qualquer discurso tem como conseqüência priorizar o esforço pela consolidação da perspectiva de coletividade e não simplesmente da técnica. Os autores dos textos têm apenas noções básicas de literatura que trazem ainda do ensino médio, mas a necessidade de expressão supera este obstáculo, estimulando a busca pelo desenvolvimento da habilidade literária por quem escreve continuadamente. No que diz respeito ao discurso da promoção da saúde, a trupe valoriza a popularização da arte para tratar do tema saúde, conceito também de interesse público e popular. Dessa forma, existe uma contra tendência ao movimento de virtuosismo da arte, que compõe a noção estética a partir de valores elitistas. Os escritores com mais experiência compartilham dicas de como traduzir uma experiência em formato literário. Uma destas é fazer a verbalização da vivência, no modelo de um relatório e, em seguida, tentar enquadrar em uma modalidade literária (conto, crônica, poema, etc.) aquela experiência da forma mais interessante para o autor. Um reforço para este método é a composição do relatório de atividades da palhaçoterapia semanal que ocorre no Hospital Universitário João de Barros Barreto. Efeitos alcançados: Por considerar a internet o veículo mais acessível para a publicação desse material, a produção literária tem exposição prioritária no blog do grupo (http: //blogdatrupe.wordpress.com) e nas redes sociais. Os mais de 3.000 acessos em oito meses têm sido motivadores para a continuidade do trabalho, além de serem prova da popularização do que é desenvolvido pela Trupe. Não existe premiação para os textos criados, pois isso poderia reforçar um indesejável espírito de competição entre os membros. O que se espera é que o autor encontre a satisfação na sua liberdade de expressão e se sinta engajado a produzir material para consolidar o trabalho do grupo e a carreira pessoal. Para tanto, tudo o que é produzido é amplamente divulgado por todos os outros membros, nas mais diversas formas possíveis, a fim de criar um reconhecimento e prestígio àquela obra e ao autor, além de alimentar o trabalho em grupo. Além desses meios, projetos em outras modalidades de publicações – como revistas, livros, artigos – estão em andamento para expandir a linha de pesquisa e aprofundá-la. Tanto o público quanto os próprios autores têm aderido ao olhar prestativo em seu cotidiano com a abrangente repercutida divulgação das obras. Paralelamente, se tem encontrado resultados na profissionalização dos acadêmicos de medicina envolvidos a partir das bases da medicina baseada em narrativas. Nesta, o paciente e o médico são encarados como contadores de histórias, logo a abordagem clínica pode ser potencializada em sua eficácia através do domínio da técnica narrativa, diretamente relacionada à composição literária do que é proposto na relação médico-paciente, que ocorre nas entrelinhas de seus discursos isolados. Recomendações: É necessário prestar atenção à realidade em que se está inserindo, bem como a realidade em que outras pessoas que temos contato estão, para compor um texto que expõe sutilmente essa perspectiva. O mais importante é não se esquecer de abarcar outras perspectivas, pois o que é mais necessário para a desprecarização e desenvolvimento do processo de saúde é resgate da empatia. Dentro da atividade médica, é indispensável a competência em narrativa, por ser o veículo para o reconhecimento, assimilação, interpretação das motivações e dificuldades dos pacientes a partir das suas histórias contadas por eles. Dessa forma é possível solidificar a conduta médica centrada na pessoa, não na doença, contrapondo-se ao modelo bio-médico de assistência à saúde. A ideologia da Trupe da Pro-Cura é a de que a arte tem papel fundamental no desenvolvimento da individualização do homem, integrando-o ao meio em que vive. Nessa luta, todos somos seres ativos. O agente executor é alguém que inicia o processo que, para ser posto em movimento, é necessário que toque e motive o outro. Por isso, é importante encontrarmos formas de divulgar gestos que podem modificar a sociedade onde é mais necessário: no homem.