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EDUCAÇÃO, SAÚDE E PARTICIPAÇÃO: OUSADIA DE CONSTRUIR REDES PRODUTORAS DE VIDA NO COTIDIANO
Resumo
Caracterização do problema: Atualmente mais de 33 milhões de pessoas no mundo vivem com o vírus hiv. Diante deste crescente número de pessoas portadoras do vírus e do preconceito vivenciado por essas pessoas, faz-se necessário ações educativas que orientem a população e permitam ao profissional de saúde e ao aprendiz a praticar ações de prevenção e promoção à saúde, exercitar a comunicação, desenvolver novas estratégias de aproximação e a reconhecer os seus próprios preconceitos. O Memorial das Velas Acesas (Candlelight) um tradicional movimento da sociedade civil iniciado a 25 anos na cidade de São Francisco (EUA), no qual se reverencia os que foram vitimizados pela epidemia da aids relembrando-os simultaneamente nas principais cidades de 115 países no terceiro domingo de maio, oportuniza ações de solidariedade, vínculo e apoio à pessoas soropositivas e atividades de educação em saúde desenvolvidas na comunidade. A cada ano o Candlelight apresenta uma temática distinta sobre hiv/aids, tema esse que norteia as atividades a serem desenvolvidas no evento e na frase ou expressão a ser lida ao acender as velas. No Rio de Janeiro, o evento é promovido pelo grupo terapêutico Com Vida, de reflexão e informação, também projeto de extensão vinculado ao Departamento de Medicina Integral Familiar e Comunitária da Faculdade de Ciências Médicas/UERJ que é composto profissionais de saúde (médico, enfermeiro, psicólogo, assistente social, nutricionista), alunos e residentes de diferentes categorias profissionais e pessoas portadoras de hiv em acompanhamento nas unidades de saúde da UERJ que apresenta como objetivos compartilhar experiências e trocar informações que visem reforçar a solidariedade e estimular o sentimento de responsabilidade individual e coletiva. O Memorial das Velas Acesas é realizado em locais de fácil acesso e grande fluxo de pessoas com a participação de várias organizações voltadas para o cuidado, acolhimento e acompanhamento a esses pacientes. No Rio de Janeiro já foi realizado no Parque do Cantagalo, no Centro de Tradições Nordestinas, na Praia de Copacabana e nos últimos 3 anos no Largo do Machado devido sua localização específica, pela diversidade da população que transita por esses bairros e pelo acolhimento que o evento tem da comunidade ao redor. Descrição da Experiência: Pacientes, profissionais de saúde, alunos e residentes de diferentes áreas da saúde participam do evento com diversas atividades interativas. Nessa perspectiva, abordam-se temáticas sobre tratamento, prevenção, modos de transmissão, uso de medicações, sexualidade, demonstrações práticas do uso de preservativos, esclarecimentos de dúvidas por multiplicadores e profissionais da área de saúde visando orientar a população. Também são distribuídos panfletos e folders explicativos junto com os preservativos. Como toda atividade de educação em saúde os desejos e interesses da população são preservados logo é comum que o preservativo não seja aceito ou que as pessoas não queiram ouvir algumas orientações. Isso por medo do desconhecido ou por preconceito. A rede promotora de vida que o Memorial das Velas Acesas favorece, estimula e transforma faz com que os participantes aprendam no dia a dia a lidar com esses questionamentos e imprevistos, além de desenvolver a competência da escuta ativa e da reflexão crítica sobre esta temática ainda tão significativa e de fundamental relevância para a saúde coletiva. Os participantes assistem a rodas de capoeira, esquetes com a participação de alunos e residentes, demonstração prática do uso de preservativos, pequenos grupos de orientação, apresentação de coral e exposição de fotografias e documentários. Se constitui em um grande espaço de construção de rede de solidariedade e cuidado aos soropositivos e aos que convivem com hiv/aids. O evento se inicia no começo da tarde com as orientações a população e distribuição de preservativos e ao longo do período são realizadas todas as atividades interativas, sempre buscando a aproximação com o público. Por volta de 18 horas se inicia o cerimonial das velas acesas onde todas as velas, já dispostas ao chão no formato da palavra ou expressão identificada pela equipe diante do tema do ano, são acesas por todos os participantes representando a luz que ilumina e que iluminará o caminho do tratamento dos soropositivos e da prevenção da população. É um momento especial, de grande emoção onde os participantes lembram e relatam sobre seus amigos e parentes vitimados. Em alguns eventos o grupo além de acender as velas, canta, faz a leitura de algum texto especial ou recita uma poesia. A cada ano este cerimonial se apresenta de forma diferenciada diante da comunidade que se disponibiliza para o evento mas sempre remete ao respeito, vínculo, responsabilidade, acolhimento, cuidado, humildade, união, amizade, fraternidade, profissionalismo, confiança e muito aprendizado. Ao final há uma grande confraternização com todos os participantes em roda. O público se retira do evento sempre demonstrando muito orgulho pela participação e muitas vezes algumas orientações ainda continuam até que todos o evento esteja terminado. Entendendo a rede promotora de vida no cotidiano, este evento é registrado em forma de fotografias para que no ano seguinte façam parte da exposição de fotografias, como um álbum , reforçando o aprendizagem significativa pelas imagens. Considerando ser uma atividade de educação em saúde a céu aberto e com a população que transita pelo espaço identificado são muito comuns os imprevistos e as situações inesperadas o que garante a grande mobilização da equipe, a flexibilidade para a solução e o aprendizado para todos. Efeitos da Experiência: Diante do planejamento da atividade e seu desenvolvimento são identificados alguns reflexos do Memorial como o fortalecimento da integração entre pacientes, multiplicadores, alunos, residentes e profissionais de diferentes áreas da saúde diante dos imprevistos da atividade e principalmente o desenvolvimento de habilidade de adaptação do discurso para o público alvo. Também se reconhece o empoderamento dos pacientes fazendo com que os mesmos tornem-se multiplicadores desta rede de informações diante de suas respostas e de sua participação nas atividades interativas. Não se pode esquecer do crescente vínculo dos pacientes aos profissionais de saúde que compõem a equipe do grupo ComVida e conseqüentemente melhor relação com sua condição como soropositivo. Recomendações: Como as doenças sexualmente transmissíveis exigem esclarecimentos constantes à população em especial a aids, projetos de educação em saúde com essa temática e abordagem são extremamente necessários e transformadores já que a informação é a base da prevenção. Sendo importante que a formação do profissional de saúde privilegie o desenvolvimento da capacidade de comunicar tais informações. Essa comunicação se transforma no núcleo da rede produtora de vida no cotidiano, cotidiano de quem passa pelo evento, de quem vive com hiv e dos profissionais que cuidam. Assim, o Candlelight, um movimento de solidariedade global, torna-se uma grande oportunidade de cuidado e aprendizagem para profissionais, pacientes e a população em geral, rompendo barreiras e dando esperança as novas gerações.