Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Horta da Família: um relato de experiência da Clinica da família Rodrigo Roig, localizada no Complexo do Alemão Rio de Janeiro
Brena Gabriella Tostes Cerqueira, Caroline Niquini Assis, Luciana Chamarelli Teixeira, Stefânia Santos Soares, Yeda Cruz Souza

Resumo


Título: “Horta da Família: um relato de experiência da Clinica da família Rodrigo Roig, localizada no Complexo do Alemão – Rio de Janeiro” A concepção política e ideológica do movimento pela reforma sanitária, que culminou com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), defendia a saúde não como uma questão exclusivamente biológica a ser resolvida pelos serviços médicos, mas sim como uma questão social e política a ser abordada pelo setor público. Essa nova abordagem reconhece o conceito de saúde de forma mais ampla, como uma capacidade humana básica, um pré-requisito para os indivíduos alcançarem a auto-realização, um elemento da construção das sociedades democráticas e um direito humano básico cabendo ao Estado garantir o acesso a todos os cidadãos. Além disso, o conceito ampliado de saúde também remete ao seu caráter integral, incluindo prevenção, promoção, assistência e reabilitação. Há mais de vinte anos a Atenção Primária à Saúde (APS) vem sendo considerada protagonista para a organização do cuidado nos sistemas de saúde. Nesse sentido, a Organização Pan- Americana de Saúde (OPAS) reforça os valores de justiça social e o direito a melhor saúde para todos, participação e solidariedade que constituem a APS desde a Declaração de Alma Ata. Propõe também, que a APS seja renovada, a fim de dar conta dos atuais desafios epidemiológicos, ser mais eficaz e tornar-se uma ferramenta para reduzir as iniquidades na área da saúde (OPAS, 2007). Neste sentido, sistemas de saúde universais e com base na APS enfatizam a prevenção e a promoção e asseguram o cuidado no primeiro atendimento. É importante observarmos que as ações de promoção passam a ser valorizadas e não só a prevenção, um conceito diretamente relacionado a presença de doença. A prevenção em saúde "exige uma ação antecipada, baseada no conhecimento da história natural a fim de tornar improvável o progresso posterior da doença" (Leavell & Clarck, 1976). A saúde passa a ser valorizada, de forma ampla e há a preocupação para que este estado positivo se mantenha. As medidas para a promoção da saúde no nível de prevenção primária não são voltadas para determinadas doença, mas destinada a aumentar a saúde e o bem-estar gerais (BUSS,2003). A promoção de Saúde relaciona-se diretamente com o conceito de saúde, ao contrário da prevenção que está diretamente relacionada à doença. Diante do exposto, a experiência aqui relatada pode ser divida em dois momentos. Inicialmente o grupo iniciou-se com a perspectiva da prevenção à saúde, voltado para usuários com hipertensão arterial, cadastrados pela equipe Alvorada da Clínica da Família (CF) Rodrigo Roig, localizada no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. Essa experiência inicial possibilitou a construção do grupo “Horta da Família”, com enfoque na promoção à saúde. A escolha de usuários hipertensos deu-se apenas pela facilidade de construção de vínculo, pois estes procuravam espontaneamente a unidade e demandavam mais informações sobre a patologia e como controlá-la. O grupo teve início em maio de 2011, sendo realizados cinco encontros quinzenais. Os encontros iniciavam-se sempre com uma série de alongamentos e com uma roda de conversa sobre como inserir a atividade física no dia-a-dia dos usuários. Em um segundo momento eram discutidos temas relacionados à hipertensão arterial e hábitos de vida saudáveis e por fim, aferida a pressão arterial e discutidas dúvidas para o aprimoramento do auto-cuidado com a equipe multiprofissional. Os temas abordados foram: “Mitos e verdades sobre Hipertensão Arterial”; “A importância da nutrição no processo de controle da doença”; “Oficina Culinária: fazendo preparações gostosas sem sal”; “Atividade física no controle da pressão arterial” e “Avaliação dos encontros pelos participantes”. O planejamento inicial previa o encerramento do grupo no quinto encontro, porém devido ao vínculo estabelecido entre os integrantes e o interesse em dar continuidade ao projeto, foi sugerido pelos usuários o plantio de uma horta, cujo manejo e cultivo viriam a servir como recurso de aprendizagem, permitindo a discussão sobre a importância de uma alimentação saudável e equilibrada, a redução nas despesas domésticas, a possibilidade de geração de renda através da comercialização das hortaliças plantadas, o cuidado com o meio ambiente, além de ser uma atividade que poderia proporcionar momentos de lazer. Neste contexto, a “Horta da Família”, iniciada em agosto de 2011, foi inserida como uma atividade de promoção de saúde da CF. Foram parceiros desse projeto a Creche Municipal Dona Lindu, Companhia Municipal de Limpeza Urbana, Academia Carioca, localizados no Complexo do Alemão, e a Secretaria Municipal do Meio Ambiente. A idéia mobilizadora foi de integrar esforços no desenvolvimento de atividades educativas com o objetivo de promover espaços para troca de experiências e sensibilização da importância de construir hábitos de vida saudáveis. O objetivo da equipe era de promover o empoderamento dos usuários de conhecimentos e vivências capazes de modificar seus conceitos de saúde e doença e transmitir conceitos que pudessem ser aplicados em cada lar, formando multiplicadores e, desta forma, atingindo um número de usuários muito maior do que aquele presente nos encontros. A metodologia de intervenção baseia-se no trabalho multidisciplinar e intersetorial, desenvolvido em encontros quinzenais, com enfoque na realização de uma atividade física, no início do grupo, conduzida por uma educadora física e a construção na parede da USF de uma horta de temperos vertical em garrafas pet. Durante os encontros, foram realizadas atividades de artesanato para a construção das sementeiras, plantio e cuidados com a terra e meio ambiente e a realização de uma oficina culinária, visando aprimorar os conhecimentos e benefícios sobre a utilização dos temperos nas preparações. Ao final de quatro meses, período relativo aos encontros, foi realizada a primeira "Festa da Colheita" com o preparo dos vegetais e uso de temperos cultivados colocando em prática o conhecimento adquirido e as vivências nas oficinas de culinária. Pudemos perceber que a percepção do estado de saúde foi melhorando a cada encontro, assim como o auto-cuidado. Durante as aferições de pressão arterial, ao fim de cada encontro, os usuários assíduos apresentavam níveis tensionais normais e tinham perfeito entendimento da necessidade e forma de uso de suas medicações, assim como apresentavam maior aderência às mudanças de hábito de vida. Convidavam, por conta própria outros membros da comunidade e transmitiam as informações adquiridas nos encontros. O grupo permanece realizando atividades físicas e cultivando a horta em seus encontros e neste momento, serão selecionados usuários multiplicadores de saúde, para que um novo ciclo se inicie. Esse grupo tem traduzido uma das principais atribuições da Estratégia Saúde da Família: criar espaços para promover saúde, a partir da troca de conhecimentos entre profissionais de saúde e comunidade, possibilitando a construção de modos de viver a vida mais saudáveis. Sendo assim, acreditamos que se faz necessário o desenvolvimento de práticas que visem educação em saúde para aumentar a adesão dos pacientes, contribuindo para o controle da pressão arterial, esclarecimento de dúvidas e direcionamento do autocuidado. Palavras chaves: educação em saúde, promoção de saúde, Estratégia saúde da família, hipertensão arterial, horta comunitária, hábitos de vida saudável