Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O MOVIMENTO DA REDE UNIDA E A CONSTRUÇÃO DO SUS: EM BUSCA DE NOVAS ARQUEOLOGIAS
Tiago José Silveira Teófilo

Resumo


Este resumo é fruto de pesquisa com base em fontes primárias e secundárias acerca da história da Rede Unida. Sua construção foi gestada a partir das implicações e militância na área da saúde em vistas da produção de novas reformas sanitárias no Brasil. A década de 1970 foi um período de transição na reformulação dos planos nacionais de saúde na América Latina a partir da idéia principal de atenção primária à saúde, de extensão de cobertura e participação comunitária. No Brasil, a luta contra o Regime Militar e a intensa ineficiência do sistema de saúde gerou um movimento pela reforma no setor com incremento teórico-político importante. Tal movimento tornou-se forte divisor de águas entre a tradicional filosofia da medicina preventiva e a nova abordagem da teoria social da saúde. No que diz respeito aos investimentos para a conformação da educação dos trabalhadores da saúde às necessidades dos sistemas nacionais, a década foi marcada pela criação de um programa de apoio a projetos de medicina comunitária, através da parceria entre a Fundação Kellogg e a Federação Pan-Americana de Associações de Faculdades de Medicina chamado Integração Docente-Assistencial (IDA), a partir do qual se implantaram sete experiências na América Latina, uma delas tendo lugar em Paulínia-SP. A partir dessa experiência, em 1979, o governo brasileiro, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde, formalizou o Programa Geral de Desenvolvimento de Recursos Humanos, seguido pelo o Programa de Integração Docente-Assistencial em 1981, com intuito de unir esforços em um processo de crescente articulação entre instituições de educação e serviços de saúde. Tais iniciativas se desenvolveram em várias partes do país em unidade com a criação dos Distritos Docente Assistenciais e os Projetos de Saúde Materno-Infantil implantados em parceria entre universidades e serviços de saúde. Em 1985 já havia, baseados da idéia IDA, quinze projetos, além de outras treze experiências de apoio metodológico, desenvolvimento de gestão, produção didática e formação de profissionais de saúde. Neste contexto, muitos militantes surgirão no movimento em prol de reformas sanitárias principalmente no lócus das universidades, muitos dos quais à época participavam das experiências IDA dentro dos espaços políticos do movimento estudantil e acadêmico, levando-os ou a ocupá-los em seus estágios, no caso dos estudantes, ou engajar-se profissionalmente na organização dos serviços de saúde, no caso dos profissionais. Com intuito de criar uma articulação permanente entre as experiências IDA, criou-se em 1985 a Rede IDA-Brasil como meio para crescimento e sustentabilidade de experiências inovadoras. Tal Rede criada a partir de então, começa a firmar o engajamento nacional de diversas instituições por meio da realização de eventos como o Encontro Nacional da Rede de Projetos IDA-Brasil em 1986. Mesmo antecedendo a explosão tecnológica do uso de computadores e desenvolvimento da internet, a Rede IDA-Brasil trabalhava na perspectiva de promover intercâmbio, diminuir distâncias, aproximar atores e compartilhar experiências. Durante a década de 1980, quando a experiência IDA crescia em toda a América Latina e no Brasil, os movimentos pela redemocratização do país e pela construção de um sistema nacional de saúde público e universal tomaram força e conquistaram a aprovação do Sistema Único de Saúde na Constituinte em 1988, que incluiu, em 1990, a responsabilização do Estado na ordenação e incremento na formação dos profissionais de saúde. No entanto, neste período, embora os IDA tenham conseguido crescer em todo o país e aproximar as universidades da idéia de um sistema universal de saúde, já se podia perceber que as experiências enfrentavam muitas dificuldades como a ausência da participação da comunidade, a segmentação por faculdade, profissão ou departamento, o que impedia, portanto, alterações profundas nos projetos político-pedagógicos das escolas. No que diz respeito ao movimento da Rede IDA e suas interfaces com a construção do SUS na sua responsabilidade de incrementar e ordenar a formação dos trabalhadores observa-se que houve forte migração dos militantes dos Projetos IDA para diversas frentes de construção do novo sistema de saúde. Portanto, até a década de 1990, o impacto dos Projetos IDA no processo de formação e de incentivo à produção de políticas públicas na área foi pequeno e, a partir da sua avaliação, a mesma Fundação Kellogg, produziu uma nova proposta, chamada Projeto UNI: uma nova iniciativa na educação dos profissionais de saúde: união com a comunidade, com intuito de abranger os usuários e o desenvolvimento comunitário nos processos de mudança no ensino. Portanto, o novo Projeto baseava-se em inúmeros esforços de articulação do trabalho universitário com a comunidade, chamado de extensão, participação, ou ação comunitária, a partir das quais almejariam aproximação com os serviços de saúde. Tais Projetos logo obtiveram bons resultados e ao se articularem com a Rede IDA-Brasil, em 1996, formaram a Rede UNIIDA, a partir de 2000, chamada apenas Rede Unida. A nova Rede passa a funcionar, principalmente a partir daí, como um movimento crescente de troca e divulgação de experiências de articulação entre instituições de ensino e pesquisa, serviços e comunidade, constituído por projetos, instituições, movimentos e pessoas. Sua atuação nos espaços de construção de políticas públicas de saúde tem sido fértil e nos últimos quinze anos tem conseguido aglutinar potência trabalhando em frentes de ação como: produção e divulgação científica a partir de centros de pesquisa, de periódicos e de seus congressos, assessoria ao Conselho Nacional de Saúde e construção e implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos da Saúde. De 2001 a 2003, muitos militantes da rede se envolveram na gestão de políticas em âmbito estadual e nacional e militaram fortemente na criação de políticas de incentivo à mudança na educação na saúde e de educação permanente, o que culmina na criação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde no Ministério da Saúde e da construção da III Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde em 2006. Surge aí também a militância pelo fortalecimento das Residências em Saúde, entre outras. Com essa nova migração de atores políticos da Rede para o SUS, houve certa desestruturação do movimento, no entanto, a Rede segue em amplo processo de fortalecimento, tendo como prova disso o crescente número de participantes de seus congressos e sua intensa participação nos fóruns de discussão em prol da construção do SUS/reforma sanitária. Sua ousadia em inovar e produzir novas visibilidades se fortalece e se consolida como Rede produtora de aprendizagens e construindo movimentos em todo o país, incluindo contato com diversos atores da América Latina nos últimos anos, de forma dinâmica e extremamente interativa, com intuito de promover mudanças no modelo de atenção e de ensino e nas formas de participação social.