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PROPOSTA DE REORIENTAÇÃO DE VIDA PARA O HOMEM NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE.
Resumo
CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA: A partir de altos índices de morbimortalidade dos sujeitos homens, fato que se caracterizou em um problema de saúde pública, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH). Neste contexto, a PNAISH, alinhada à Política Nacional de Atenção Básica, visa, nesta rede de atenção à saúde, garantir uma linha de cuidados integrais voltada para a população masculina, incentivar e qualificar profissionais de saúde para um atendimento específico dos sujeitos homens e apoiar ações e atividades de promoção de saúde que facilitem e ampliem o acesso aos serviços de saúde por parte dessa demanda masculina. A PNAISH, segundo o Ministério da Saúde, tem a função, também, de tornar relevante a heterogeneidade das possibilidades de ser homem. Fato de abordagem na presente discussão, pois a questão da identidade biológica, a qual se diferencia da questão de gênero, este podendo ser masculino ou feminino, enfatiza a masculinidade como sendo um fator construído socialmente. A construção social, Bourdieu (1994) apud Waldow et al (1996), afirma estar apoiada em uma condição social, existindo construção de estruturação das mentalidades, lutas cognitivas e simbólicas, este, nesta ocasião, é determinado por um conjunto de crenças e valores sobre o masculino e o feminino. OBJETIVO: Refletir sobre a construção social do sujeito masculino, sua relação com o cuidado de si, suas dificuldades e limitações no acesso aos serviços de Atenção Primária à Saúde (APS). Segundo Barbara Starfield (2002) apud Lavras (2011), a APS é o primeiro contato da assistência continuada centrada na pessoa, busca satisfazer necessidades de saúde a nível ambulatorial e atuar principalmente na prevenção e promoção da saúde. Porém, considerando sujeitos masculinos a APS tem tido baixos índices de adesão, visto que dificuldades de acesso, enfrentamento de filas para marcações de consultas, não resolução de problemas em única consulta ou dia são citados como principais limitações. E, de acordo com Gomes et al (2007); Kalckmann et al, (2005); Schraiber (2005) apud Lavras (2011), questões relacionadas a esquemas terapêuticos exigentes, necessidade de mudanças de hábitos de vida e até deficiência de recursos financeiros e intelectuais que auxiliem a continuidade dos tratamentos, são apontados como fatores que dificultam o acesso e a adesão aos possíveis tratamentos. Gomes (2007) também é indica como um fator que dificulta esse acesso, a falta de unidades específicas para o tratamento da saúde do homem, assim como o despreparo das unidades atuantes. A maior utilização feminina de serviços de saúde, ambulatoriais ou hospitalares, segundo Andersen (1977) apud Aquino (1992) é factual e descrita com natural continuidade ou regularidade. Em relação a comportamento e construção do sujeito homem socialmente vemos que o senso comum exige condutas do ser masculino de maneira que este deve se comportar integralmente com atitudes que o diferenciem do feminino, a masculinidade sendo fator culturalmente construído, varia entre as sociedades e em uma mesma sociedade em tempos históricos diferentes. Gomes ( 2007), afirma que no imaginário do homem a sua identidade deve ser constituída por virilidade, invulnerabilidade, e fortaleza. Estes atributos podem limitá-lo culturalmente, dificultando a adoção de práticas de autocuidado, assim ocorre a não procura do serviço de saúde para práticas preventivas e intervencionistas. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Mediante a experiência vivida durante anos nos serviços de atenção básica de saúde no município de Itaboraí, e da observação do reduzido acesso de homens adultos a estes cenários de assistência, construímos um projeto de pesquisa que vem analisando no ano de 2011 e 2012, os limites e dificuldades de acesso por parte de homens cadastrados em unidades básicas de saúde. Esta reflexão compõe a primeira das etapas deste projeto mais amplo que analisa a construção social dos sujeitos masculinos e como estes, dentro do processo singular de formação e de socialização, apropriam-se dos cenários de APS. Os sujeitos são homens adultos cadastrados nas unidades de PSF’s do município de Itaboraí-RJ. A pesquisa segue abordando aspectos de gênero, construção social de identidade, formas de acesso, frequência dos sujeitos à APS e motivos que os levam, ou não, ao cuidado de si. Discute-se a APS como lócus ideal para a implantação de estratégias de promoção à saúde, por ser serem estes espaços de fácil acesso pelos usuários. EFEITOS ALCANÇADOS: Proporcionou um maior entendimento e compreensão do universo masculino e suas vertentes. Assim, vem possibilitando indicar revisões e formulações de estratégias de saúde e iniciativas de abordagem diferenciada a estes sujeitos, tendendo para um acolhimento com escuta sensível e para a personalização dos atendimentos. Acredita-se que as atividades das unidades de atenção primária possam abarcar questões que discutam a influência da construção social e de gênero na busca pelo cuidado de si e, dessa maneira, reduzir os indicadores de morbimortalidade de homens. Podem, ainda, incluí-los, gradativamente, em um processo de revisão de hábitos de vida, promovendo ou ampliando a manutenção de bem estar e de saúde. RECOMENDAÇÕES: Construímos como sugestão que os serviços de atenção básica à saúde adotem práticas que insiram o homem em processos ascendentes, criativos, eficazes e atraentes de cuidados, atendendo, deste modo, as suas necessidades de saúde que. Em linhas gerais, o objetivo e intuito principais da criação da PNAISH consistem em realizar uma mudança de paradigma tanto da percepção da população masculina em relação ao cuidado com a sua saúde, quanto do modelo de qualificação e capacitação do arsenal de profissionais da APS. Assim, a assistência básica tende a fortalecer-se, mantendo e garantindo o acesso e qualidades específicas para atender a população de homens. Dentro do elenco de recomendações reveladas em pesquisas de Gomes (2011), oriundas de relatos de homens, está a realização de campanhas publicitárias mais atrativas, que despertem nos homens, um maior cuidado com a própria saúde; Sobre a necessidade de oferta de profissionais especializados em urologia, sexologia e psicologia, nas policlínicas ou unidades secundárias de atendimento, voltados e capacitados para atenderem especificamente homens com problemas disfuncionais. Recomendações estas que acolhemos e acatamos em nossa proposta. Destacamos, por fim, que os serviços de atenção primária à saúde aprimoram-se, tornando-se resolutivos, à medida que todos os participantes do processo de cuidar-assistir, inserem-se plenamente e dele participam ativamente. Logo, a mobilização científica e prática devem ser factuais e presentes nas unidades e serviços, nos modos de pensar e de fazer dos profissionais da área de saúde e afins. Palavras-chave: Saúde do Homem, Atenção primária à saúde, Construção social, Gênero. Referências Bibliográficas POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM (Princípios e Diretrizes) http: //portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/politica_nacional_atencao_integral.pdf. Acessado em 20 de Novembro de 2011 PORTARIA nº 1.944, de 27 de agosto de 2009. Disponível em: http: //bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt1944_27_08_2009.html . Acessado em: 22 de Novembro de 2011 LAVRAS, Carmen. Atenção primária à saúde e a organização de redes regionais de atenção à saúde no Brasil. Saude soc., São Paulo, v. 20, n. 4, dez. 2011 . Disponível em : http: //www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902011000400005&lng=pt&nrm=iso>. Acessado em: 17 de Janeiro de 2012. http: //dx.doi.org/10.1590/S0104-12902011000400005. GOMES, Romeu; NASCIMENTO, Elaine Ferreira do; ARAUJO, Fábio Carvalho de. Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres? 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