Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
Contribuições da Ciência Pós-Normal para o fortalecimento da participação social
Tatiana Pereira das Neves Gamarra

Resumo


A Ciência Pós-Normal consiste em uma abordagem ampliada para lidar com situações complexas. De modo resumido, conforme Petersen e colaboradores (2011), a Ciência Pós-Normal é fundamentada no reconhecimento das incertezas inerentes à ciência e à política e pode ser considerada uma força em direção a uma mais adequada solução para problemas complexos e emergentes da realidade social. Nesse sentido, este estudo de natureza teórico-conceitual buscará discutir como os referenciais da Ciência Pós-Normal podem fortalecer as iniciativas de participação social. Enquanto de maneira geral, justifica-se a participação social como necessidade de ampliação da democracia, para a Ciência Pós-Normal, a participação social é essencial também para a melhoria da qualidade das decisões, uma vez que de acordo com Hannah Arendt (2011), somente é possível desenvolver a compreensão a partir da pluralidade de visões existentes na sociedade. Segundo a Ciência Pós-Normal, as instâncias de participação social devem ser constituídas na forma de uma comunidade ampliada de pares que, como Funtowicz destaca (2006), ultrapassa a idéia de um recipiente passivo de materiais fornecidos por especialistas para a consideração de que os participantes também possuem seu próprio conhecimento e podem, dessa forma, acrescentar novas perspectivas e contribuir para soluções inovadoras que os especialistas sozinhos não são capazes de proporcionar, ampliando, assim, a qualidade da resolução de problemas com alto grau de complexidade e incerteza. A estruturação dessas comunidades ampliadas de pares, contudo, não é tarefa simples, uma vez que a mera inserção de participantes não melhora de modo automático a qualidade das decisões e há a necessidade de se propiciar uma ambiente favorável para que ocorra um diálogo construtivo, destacando-se as incertezas (epistemológicas, técnicas, metodológicas e sociais) envolvidas em uma determinada situação. Para concluir cabe lembrar que, conforme Douguet e colaboradores (2009), a ênfase na pluralidade não significa dizer que todas as perspectivas devem ser avaliadas como igualmente adequadas, mas, a questão crucial está em como avaliar o mérito dos diferentes argumentos -o que consiste em simples opinião, convicção, preconceito ideológico, observação científica, hipótese ou inferência - e como a partir dessa avaliação das diferentes visões sobre um determinado problema pode-se produzir uma base de conhecimento útil para subsidiar a tomada de decisão.