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A arte como recurso na qualificação de profissionais de Saúde
Resumo
Caracterização do Problema: Em consonância com os princípios e diretrizes do SUS e orientado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos de graduação na área da saúde, foi desenvolvido, desde 2010, um Curso de Extensão - Formação Pedagógica para a Prática da Preceptoria (CFPPP). O curso apresenta como eixo estruturante o cuidado, a educação, a gestão do trabalho na formação profissional em saúde e se orienta por princípios da Educação Permanente em Saúde. Dentre as competências pedagógicas que o preceptor deve desenvolver para lidar com o seu discente/residente identificamos a competência emocional, a qual tende a ser desvalorizada em relação à aquisição de conhecimentos e habilidades técnicas específicas por muitas vezes ser entendida como subjetiva ou menos importante no processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, identificamos em um grupo de palhaços que atua nas enfermarias de pediatria da instituição a parceria necessária para aproximarmos as competências profissionais que embasam a atuação do palhaço às competências do profissional de saúde para o cuidado com o paciente e com o residente/discente. Esse grupo de palhaços constitui um projeto de extensão que enfatiza a troca de experiências com os profissionais de saúde proporcionada pela atuação regular do palhaço, estreita os laços entre equipe de saúde e artistas e contribui para transformações do ambiente e educação profissional. A forma como o palhaço vê e se relaciona com o mundo pode ser sistematizada através de jogos e improvisações teatrais cujos conteúdos se baseiam no universo infantil. Suas ações privilegiam a interface com a pesquisa científica e o desenvolvimento de tecnologias sociais que permitam a construção de vínculos e relações transformadoras entre a sociedade e as áreas das artes e saúde. Essa competência emocional se torna fundamental na formação do profissional em saúde diante das necessidades da população e das outras competências a saber: tomada de decisão, liderança, comunicação, atenção à saúde, administração e gerenciamento e educação permanente em saúde. Descrição da experiência: O grupo de profissionais que atua como palhaços em enfermarias e junto aos profissionais participam em 3 momentos distintos no CFPPP, sendo o 1º com uma oficina de sensibilização no encontro inicial da turma, o 2º com uma oficina de integração de preceptores e residentes/discentes e um 3º momento com jogos/dinâmicas que favorecem o reconhecimento do hospital de ensino por meio da experiência sensível. As referidas oficinas apresentam como sustentação a possibilidade do encontro entre pessoas considerando que o encontro entre residentes e preceptores entre si, com os pacientes e demais profissionais é ponto fundamental na construção do saber por meio das práticas profissionais. Na oficina de sensibilização a proposta se fundamenta na construção de um espaço de prática e produção coletiva no qual os conceitos de vínculo, emoção, percepção, escuta, sensibilidade, olhar e criatividade puderam se experimentados a partir da relação entre os participantes e é identificada pelos participantes como “dinâmica, criativa, receptiva, instigante, planejada, compartilhada, motivadora, profunda, motivadora, acolhedora, inovadora, questionadora, construtiva, desbravadora, divertida, extensa e integradora.” Na segunda oficina com os preceptores e residentes/discentes as dinâmicas desenvolvidas estão diretamente relacionadas a prática na formação profissional e as questões relacionais a partir de vivências que promovam a co-responsabilização e a resolução de problemas. No terceiro momento os participantes reconhecem o hospital de ensino no qual trabalham de outro lugar, com outras perspectivas e se colocando “no lugar do paciente e do residente/discente”, caracterizando conhecer “outro hospital de ensino” e novas sensações e emoções. Esta terceira oficina é identificada como “incrível, assustadora, motivações e objetivos distintos” mobilizando sensações diferentes nos participantes, levando assim a uma aprendizagem significativa pela emoção, finalizando o ciclo de reflexões das e oficinas com “a troca de lugar ensina”. Efeitos alcançados: A análise das avaliações individuais dos participantes respondidas após o término das atividades e do mural construído coletivamente a cada oficina, no qual os participantes registram em tempo real durante as oficinas os sentimentos e pensamentos disparados pelas dinâmicas apontam para um impacto imediato no exercício da prática da preceptoria. A própria leitura do mural em cada oficina propicia a reflexão sobre a interação, a integração, o acolhimento, a confiança, o vínculo e o reconhecimento do outro entre os participantes e as interfaces com a prática da preceptoria. Na perspectiva da Educação Permanente, a experiência de profissionais da arte na qualificação de profissionais da saúde revela-se uma potente estratégia de desenvolvimento docente, resgate dos valores e aperfeiçoamento de linguagens mais adequadas ao cuidado e ao acolhimento. Com os jogos e brincadeiras as oficinas estimulam os participantes a exercitarem sua capacidade de olhar, ouvir e estabelecer contato com o outro, pré-requisitos essenciais para um vínculo potente entre profissional de saúde e paciente. O exercício de atuar com o outro situa o participante em um campo de investigação sobre a realidade e a saúde, possibilitando novos olhares em relação ao que lhe é apresentado no seu local de atuação profissional, estimulando uma empatia mais competente e transformadora. Outro efeito desejado e alcançado é a continuidade deste grupo de palhaços como integrantes da equipe de facilitadores dentro do CFPPP considerando as análises dos participantes e egressos do curso e as repercussões desta proposta dentro dos programas de residência, internato e graduação nas áreas de saúde. Essas repercussões são sentidas principalmente no processo de avaliação que se torna mais fidedigno, com critérios definidos incluindo itens até então considerados subjetivos e com maior participação do aprendiz. Recomendações: Considerando que o impacto das ações do grupo de palhaços na formação pedagógica para a prática da preceptoria promove o desenvolvimento de competências emocionais fundamentais para o exercício de todo profissional de saúde e que estas ações são orientadas pelas DCNs, faz-se necessário identificar outros cenários e atores para o desenvolvimento da proposta de capacitação relatada. Como uma estratégia de educação permanente faz-se também necessário o registro das oficinas, com o consentimento dos participantes, com o objetivo de aprofundar as análises e reflexões por meio da produção de vídeos educativos para divulgação e aprendizado além de produção de material científico com a sistematização e análise de todos os resultados encontrados nas oficinas. Cabe incluir que a competência emocional deve ser desenvolvida para que a relação entre preceptor e residente/discente entre si, com o paciente e demais profissionais se estabeleça de forma harmônica e profissional considerando todo o processo de avaliação e de aprendizagem.