Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A arte como recurso na qualificação de profissionais de Saúde
Daniela Pimenta, Carlos Eduardo Garcia, Denise Herdy Afonso, Lia Márcia Cruz da Silveira, Márcia Fernandes Mendes Araújo, Luciana Rodrigues, Letícia Rodrigues, Flávia Reis, Cristiana Brasil

Resumo


Caracterização do Problema: Em consonância com os princípios e diretrizes do SUS e orientado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos de graduação na área da saúde, foi desenvolvido, desde 2010, um Curso de Extensão - Formação Pedagógica para a Prática da Preceptoria (CFPPP). O curso apresenta como eixo estruturante o cuidado, a educação, a gestão do trabalho na formação profissional em saúde e se orienta por princípios da Educação Permanente em Saúde. Dentre as competências pedagógicas que o preceptor deve desenvolver para lidar com o seu discente/residente identificamos a competência emocional, a qual tende a ser desvalorizada em relação à aquisição de conhecimentos e habilidades técnicas específicas por muitas vezes ser entendida como subjetiva ou menos importante no processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, identificamos em um grupo de palhaços que atua nas enfermarias de pediatria da instituição a parceria necessária para aproximarmos as competências profissionais que embasam a atuação do palhaço às competências do profissional de saúde para o cuidado com o paciente e com o residente/discente. Esse grupo de palhaços constitui um projeto de extensão que enfatiza a troca de experiências com os profissionais de saúde proporcionada pela atuação regular do palhaço, estreita os laços entre equipe de saúde e artistas e contribui para transformações do ambiente e educação profissional. A forma como o palhaço vê e se relaciona com o mundo pode ser sistematizada através de jogos e improvisações teatrais cujos conteúdos se baseiam no universo infantil. Suas ações privilegiam a interface com a pesquisa científica e o desenvolvimento de tecnologias sociais que permitam a construção de vínculos e relações transformadoras entre a sociedade e as áreas das artes e saúde. Essa competência emocional se torna fundamental na formação do profissional em saúde diante das necessidades da população e das outras competências a saber: tomada de decisão, liderança, comunicação, atenção à saúde, administração e gerenciamento e educação permanente em saúde. Descrição da experiência: O grupo de profissionais que atua como palhaços em enfermarias e junto aos profissionais participam em 3 momentos distintos no CFPPP, sendo o 1º com uma oficina de sensibilização no encontro inicial da turma, o 2º com uma oficina de integração de preceptores e residentes/discentes e um 3º momento com jogos/dinâmicas que favorecem o reconhecimento do hospital de ensino por meio da experiência sensível. As referidas oficinas apresentam como sustentação a possibilidade do encontro entre pessoas considerando que o encontro entre residentes e preceptores entre si, com os pacientes e demais profissionais é ponto fundamental na construção do saber por meio das práticas profissionais. Na oficina de sensibilização a proposta se fundamenta na construção de um espaço de prática e produção coletiva no qual os conceitos de vínculo, emoção, percepção, escuta, sensibilidade, olhar e criatividade puderam se experimentados a partir da relação entre os participantes e é identificada pelos participantes como “dinâmica, criativa, receptiva, instigante, planejada, compartilhada, motivadora, profunda, motivadora, acolhedora, inovadora, questionadora, construtiva, desbravadora, divertida, extensa e integradora.” Na segunda oficina com os preceptores e residentes/discentes as dinâmicas desenvolvidas estão diretamente relacionadas a prática na formação profissional e as questões relacionais a partir de vivências que promovam a co-responsabilização e a resolução de problemas. No terceiro momento os participantes reconhecem o hospital de ensino no qual trabalham de outro lugar, com outras perspectivas e se colocando “no lugar do paciente e do residente/discente”, caracterizando conhecer “outro hospital de ensino” e novas sensações e emoções. Esta terceira oficina é identificada como “incrível, assustadora, motivações e objetivos distintos” mobilizando sensações diferentes nos participantes, levando assim a uma aprendizagem significativa pela emoção, finalizando o ciclo de reflexões das e oficinas com “a troca de lugar ensina”. Efeitos alcançados: A análise das avaliações individuais dos participantes respondidas após o término das atividades e do mural construído coletivamente a cada oficina, no qual os participantes registram em tempo real durante as oficinas os sentimentos e pensamentos disparados pelas dinâmicas apontam para um impacto imediato no exercício da prática da preceptoria. A própria leitura do mural em cada oficina propicia a reflexão sobre a interação, a integração, o acolhimento, a confiança, o vínculo e o reconhecimento do outro entre os participantes e as interfaces com a prática da preceptoria. Na perspectiva da Educação Permanente, a experiência de profissionais da arte na qualificação de profissionais da saúde revela-se uma potente estratégia de desenvolvimento docente, resgate dos valores e aperfeiçoamento de linguagens mais adequadas ao cuidado e ao acolhimento. Com os jogos e brincadeiras as oficinas estimulam os participantes a exercitarem sua capacidade de olhar, ouvir e estabelecer contato com o outro, pré-requisitos essenciais para um vínculo potente entre profissional de saúde e paciente. O exercício de atuar com o outro situa o participante em um campo de investigação sobre a realidade e a saúde, possibilitando novos olhares em relação ao que lhe é apresentado no seu local de atuação profissional, estimulando uma empatia mais competente e transformadora. Outro efeito desejado e alcançado é a continuidade deste grupo de palhaços como integrantes da equipe de facilitadores dentro do CFPPP considerando as análises dos participantes e egressos do curso e as repercussões desta proposta dentro dos programas de residência, internato e graduação nas áreas de saúde. Essas repercussões são sentidas principalmente no processo de avaliação que se torna mais fidedigno, com critérios definidos incluindo itens até então considerados subjetivos e com maior participação do aprendiz. Recomendações: Considerando que o impacto das ações do grupo de palhaços na formação pedagógica para a prática da preceptoria promove o desenvolvimento de competências emocionais fundamentais para o exercício de todo profissional de saúde e que estas ações são orientadas pelas DCNs, faz-se necessário identificar outros cenários e atores para o desenvolvimento da proposta de capacitação relatada. Como uma estratégia de educação permanente faz-se também necessário o registro das oficinas, com o consentimento dos participantes, com o objetivo de aprofundar as análises e reflexões por meio da produção de vídeos educativos para divulgação e aprendizado além de produção de material científico com a sistematização e análise de todos os resultados encontrados nas oficinas. Cabe incluir que a competência emocional deve ser desenvolvida para que a relação entre preceptor e residente/discente entre si, com o paciente e demais profissionais se estabeleça de forma harmônica e profissional considerando todo o processo de avaliação e de aprendizagem.