Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O MANEJO COGESTIVO E A PROMOÇÃO DA PARTICIPAÇÃO NOS GRUPOS DE GESTÃO AUTÔNOMA DA MEDICAÇÃO - GAM-BR
Jorge Melo, Letícia Renault, Christian Sade, Eduardo Passos

Resumo


Este trabalho apresenta o tema do manejo, enquanto um dos aspectos desenvolvidos atualmente no projeto de pesquisa Autonomia e direitos humanos: validação do Guia de Gestão Autônoma da Medicação – GAM (FAPERJ, 2011), vinculado à Universidade Federal Fluminense. Realizado em articulação com o projeto multicêntrico (UNICAMP-UFF-UFRJ-UFRGS) Pesquisa avaliativa de saúde mental: instrumentos para a qualificação da utilização de psicofármacos e formação de recursos humanos (CNPq, 2009), o projeto UFF tem como objetivo validar a versão brasileira do Guia de Gestão Autônoma da Medicação (GGAM). Para tanto, pesquisadores trabalharam com o Guia em Grupos de Intervenção (GI's) formados por pesquisadores, trabalhadores, usuários e familiares de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do estado do Rio de Janeiro. Nesta pesquisa, a validação do instrumento (Guia) não se faz separadamente da validação do dispositivo de pesquisa: é preciso avaliar os efeitos do dispositivo. No Brasil, a GAM se efetua em dispositivos grupais (Grupos GAM), necessariamente heterogêneos, sendo operada através de uma função de manejo. Inicialmente localizada em um pesquisador, esta função deve se exercer de modo a produzir a sua distribuição entre os diversos participantes do grupo. A função do manejo é, portanto, promover participação e contrair a grupalidade. O manejo conduz ao compartilhamento da experiência, gerando sentimento de pertença ao grupo e corresponsabilização de seu funcionamento. Para produzir tais condições, o manejo guia-se pelas diferentes expressões da experiência grupal, distinguindo níveis de “automatismos pré-refletidos”, “controle egóico” e “autonomia”. A autonomia ganha expressão não através de atos individuais, mas na emergência do plano grupal, na qualidade de distribuição e deslocalização do manejo. Assim, a estratégia GAM se dá em um dispositivo complexo, que não se resume à aplicação do GGAM, sendo inseparável de um “modo de fazer”, que denominamos manejo cogestivo. O manejo cogestivo: 1) visa à contração da grupalidade, como condição para a ampliação da autonomia do/no grupo; 2) busca a lateralização e o compartilhamento das diferentes experiências; 3) objetiva distribuir-se, propiciando a cogestão da experiência. Com a caracterização do manejo cogestivo, o dispositivo GAM ganha um “modo de fazer”, interessado em favorecer a emergência de movimentos autonômicos, coletivos e implicados com o cuidado compartilhado da experiência da medicação.