Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A mediação no meio rural como possibilidade para a incubação da integralidade na saúde: caminhos de uma experimentação
Vilma Constancia Fioravante dos Santos, Eliziane Nicolodi Francescato Ruiz, Tatiana Engel Gerhardt, Andréia Burille, Juliana Maciel Pinto, Deise Lisboa Riquinho

Resumo


Caracterização do problema Esta experiência parte do desencadeamento de uma proposta de pesquisa multicêntrica1, coordenada pelo LAPPIS/UERJ (Laboratório de Pesquisa e Práticas de Integralidade em Saúde da Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e NUCEM/UFPE (Núcleo de Cidadania e Processos de Mudança da Universidade Federal de Pernambuco), na qual a equipe do GESC/UFRGS (Grupo de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul) inseriu-se realizando estudos (GERHARDT et al, 2011) junto a mediadores de uma comunidade rural, localizada na metade sul do Rio Grande do Sul. Para fins do debate aqui proposto, apreende-se que mediadores sociais em saúde são indivíduos (líderes religiosos ou de associações, usuários do sistema de saúde, profissionais da saúde ou de outras instituições públicas) inseridos em redes sociais que possuem uma disposição para auxiliar e resolver problemas (realizar a mediação) mobilizando recursos materiais e imateriais para tal (MARTINS, 2009) . Mediam e regulam as relações interpessoais em diferentes instâncias, funcionam como elementos de ligação entre dois diferentes sistemas culturais. Nesse sentido, a ideia de mediação apresenta um potencial considerável a ser explorado na construção de ações e políticas sociais mais participativas e inclusivas, na medida em que aparenta ser capaz de atuar em uma concepção mais ampla de saúde e próxima as necessidades sociais, além de ser uma prática socialmente aceita e já inserida no cotidiano de vida dos indivíduos. Assim, pensando em empreender ações que possam estimular o reconhecimento da mediação e visibilidade das experiências locais no enfrentamento dos problemas sociais, e ainda com a perspectiva de que a pesquisa não se encerra nela mesmo, apostamos enquanto prática de extensão, na ideia de “incubação”, proposta esta lançada pelo grupo multicêntrico no projeto inicial o qual nos inserimos. A Incubadora da Integralidade, na perspectiva dos idealizadores do projeto multicêntrico, visa criar e integrar esforços coletivos (sociedade-universidade-serviços de saúde) para a construção de ações mais integrais em saúde e defesa do SUS (PINHEIRO, 2011). A incubação, nesta perspectiva, pressupõe encontros, o compartilhar pensamentos e modos de fazer. Descrição da experiência Diante da proposta de incubação, a experiência está sendo concretizada a partir de encontros com os mediadores da comunidade Rincão dos Maia/Canguçu, com a pretensão de aproximar as experiências nossas enquanto pesquisadores, das redes de mediadores e do setor saúde no que tange iniciativas e práticas em prol da integralidade. Assim, até o presente momento foram realizados quatro encontros, sendo inicialmente motivados por uma cartilha por nós organizada como fruto da compilação e discussão dos dados provenientes das pesquisas ali realizadas. Num primeiro momento a cartilha foi uma metodologia geradora de discussão e de posicionamentos das lideranças quanto aos dados apresentados. As discussões têm mostrado e reforçado o potencial dos mediadores e de suas redes em (re)agir e enfrentar problemas diversos do cotidiano. Além disso, o diálogo entre os mediadores, potencializado pela incubação, foi um momento em que todos puderam socializar suas experiências de enfrentamento individuais e coletivas em relação às questões de saúde, suas percepções da situação local, dificuldades e potencialidades internas e externas à comunidade e ao grupo de mediadores. Também, foi possível a partir da representação de um Itinerário Terapêutico, delineado por pesquisadores do GESC, ilustrar as relações de apoio e união que se estabelecem entre as pessoas, o papel das redes sociais e dos mediadores. Nos próximos encontros pretende-se envolver a gestão local do Município a fim de difundir a importância e o potencial das redes sociais (e de mediares) como uma inovação no enfrentamento conjunto dos problemas e soluções na saúde. Tendo também, como horizonte, a perspectiva de discutir e refletir sobre a possibilidade de trabalho em uma grande rede que possa atuar na busca pelo aperfeiçoamento de ações e políticas em saúde. Efeitos alcançados. No decorrer deste processo, foi inevitável a sensibilização quanto ao significado dos encontros, despertando em nós novas possibilidades de se fazer pesquisa, a partir da ideia de que a ciência também pode ser construída forma mais integral e ser mais bem utilizada no cotidiano das pessoas se houver o compartilhar de perspectivas. Por outro lado, acreditamos que a incubação, ao dar visibilidade ao cotidiano, também mobilizou reflexões na comunidade sobre seu potencial de ação frente aos problemas. Ao colocar lado a lado visões que se interconectam e se complementam percebemos que há a possibilidade de uma construção conjunta da busca de elementos para o enfrentamento do cotidiano em saúde. Além disso, buscamos reafirmar a importância da viabilização de espaços de debate e trocas, reforçando que os conhecimentos produzidos neste espaço não se encerram neles próprios. Recomendações Pensando que ao produzirmos ciência estamos assumindo um compromisso não só com nossos pares na academia, mas também, e principalmente, com a sociedade sem a qual a ciência perderia seu sentido e essência enquanto ação pública, nos sentimos no dever da dar continuidade aos primeiros passos aqui relatados. Há a demonstração até o momento de que um solo fértil para a construção da integralidade se abre ao darmos visibilidade para aqueles que vivenciam os problemas em saúde e que muito têm a contribuir com a transposição de algumas barreiras postas. 1 Projeto multicêntrico (Edital FACEP 09/2008) intitulado “Usuários, redes de mediação e esfera pública”, vinculado a parceria GESC/UFRGS, NUCEM/UFPE e LAPPIS/UERJ. REFERÊNCIAS GERHARDT, T. E.; RUIZ, E.N.F; PINTO, J. M.; BURILLE, A.; ROESE, A. RIQUINHO, D.L. Atores, redes sociais e mediação na saúde, laços e nós em um cotidiano rural. In: PINHEIRO, R. MARTINS, P. H. (orgs). Usuários, redes sociais, mediações e integralidade em saúde. Rio de Janeiro/Recife: CEPESC – IMS/UERJ – Editora UFPE – ABRASCO, 2011. MARTINS , P.H. MARES (metodologia de análise de redes do cotidiano): aspectos conceituais e operacionais. In: PINHEIRO, R.; MARTINS, P. H. Avaliação em saúde na perspectiva do usuário: abordagem multicêntrica. Rio de Janeiro: CEPESC/UFRJ/UFPEABRASCO, 2009. PINHEIRO, R. Incubadora da Integralidade: Afinal, do que se trata? Disponível em: http: //www.lappis.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1265&sid=20. Acesso em: março de 2011.