Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A música como instrumento para a promoção de saúde nas Escolas de Ensino Fundamental.
Nina Lucia Prates

Resumo


A música como instrumento para a promoção de saúde nas Escolas de Ensino Fundamental. [1]Nina Lucia Prates N Souza Viviane Manso Castelo Branco2 Luciana Soares3 Renan Mello4 Vinicius Arantes5 Resumo O trabalho relata uma experiência pedagógica de intervenção para promoção da saúde infantil realizada por estudantes do primeiro ano de medicina da Faculdade Souza Marques. No processo, procedimentos pedagógicos foram realizados através da música escolhida pelos estudantes como forma de associação ao projeto político pedagógico da escola municipal onde desenvolveram atividades práticas da disciplina Medicina Social I. Foi proposto e planejado um levantamento dos temas relacionados à saúde e seus determinantes junto ao corpo pedagógico e alunos da escola municipal e esses temas foram associados a melodias conhecidas pela mídia, músicas do folclore brasileiro, cantigas de roda e cirandas. Houve grande participação dos alunos de primeira a nona série do ensino fundamental. A estratégia adotada acabou se transformando em tema discutido pelos alunos do ensino fundamental na reunião de pais. Na avaliação da escola a presença de jovens estudantes de medicina no auxílio às atividades escolares é uma ferramenta potente de interesse ao aprendizado. Palavras-chave: Promoção e educação em saúde. Introdução Este trabalho expõe o balanço das atividades desenvolvidas na prática da disciplina Medicina Social I da Escola de Medicina Souza Marques no período de março a junho de 2011. A Escola de Medicina Souza Marques tem como objetivo a participação ativa na formação de cidadãos eticamente envolvidos com a sociedade que os cerca, proporcionando-lhes oportunidades para o desenvolvimento de habilidades que lhes permitam exercer a profissão de médico de forma comprometida com a promoção da saúde e a qualidade de vida. Dessa forma, tem buscado a renovação do seu currículo, sobretudo através da ênfase na Medicina Social, que ocupa uma parcela significativa do currículo nos primeiros anos. Desde o primeiro ano da graduação os estudantes são encaminhados aos locais de aprendizagem da prática médica. Na Medicina Social I, a escola pública é o primeiro campo de prática, onde serão desenvolvidas as atividades junto aos estudantes do 1ª ao 9º ano do ensino fundamental. Ao elegerem juntos com a escola os temas de interesse para alunos, professores e direção a serem desenvolvidos no primeiro semestre de 2011, definiram como estratégia vincular a importância da música na promoção da saúde de crianças e adolescentes de escolas públicas do município do Rio de Janeiro. Este relato de experiência é retratado por professores e monitores da disciplina de Medicina Social I. Apresentação dos atores envolvidos A Escola de Medicina Souza Marques, na estruturação do currículo pleno e programação do curso médico tem o objetivo de graduar médicos de formação geral, médicos generalistas. O perfil desse profissional, dentre outras exigências, pressupõe que esteja habilitado para atuar na promoção da saúde, no seu nível de competência e atuar com proficiência na manutenção, proteção e recuperação da saúde humana tanto em nível individual quanto em nível coletivo1. A promoção da saúde tem sido encarada como um referencial numa forma mais ampla de pensar e agir em saúde, reforçando as propostas do SUS de participação da população nos processos de decisão e escolhas com o seu próprio cuidado. A escola, por seu turno, apresenta-se como um espaço social adequado para o trabalho educativo em saúde. Nesse sentido, aposta-se no fortalecimento entre setores Saúde e Educação para a promoção de saúde integral, para a formação de agentes multiplicadores, bem como, para o alcance na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Em março de 2011 estudantes da disciplina de Medicina Social, do primeiro ano da graduação, ingressaram nas atividades práticas em duas escolas públicas de ensino fundamental do Rio de Janeiro. A primeira semana foi dedicada ao reconhecimento do espaço escolar, incluindo, (re)conhecer as necessidades da escola e de seus alunos na escolha dos temas que serão abordados durante o semestre pelos estudantes de medicina. Os alunos da turma 112 da Escola de Medicina Souza Marques desenvolveram suas atividades numa tradicional escola municipal localizada no bairro de Vaz Lobo, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. A escola funciona em dois turnos, com 697 alunos distribuídos entre a educação infantil e a 9ª série do ensino fundamental. Possui ainda 11 alunos na classe especial. Na primeira visita ao colégio, ao buscarem informações sobre o Projeto Político Pedagógico (PPP) perceberam ser de extrema relevância a escolha do nome dado ao projeto – Sinfonia Inacabada: no coração de Vaz Lobo, a sinfonia da leitura e da escrita. Descrevendo a experiência A escola é um importante espaço para o desenvolvimento de um programa de educação para a saúde entre crianças e adolescentes. Distingue-se das demais instituições por ser aquela que oferece a possibilidade de educar por meio da construção de conhecimentos resultantes do confronto dos diferentes saberes: aqueles contidos nos conhecimentos científicos veiculados pelas diferentes disciplinas; aqueles trazidos pelos alunos e seus familiares e que expressam crenças e valores culturais próprios (Brasil, 2009). Nesse sentido, alinhado aos objetivos da disciplina Medicina Social I, a escola é eleita como primeiro campo externo de formação dos estudantes do primeiro ano. A partir do conhecimento do PPP da escola, do levantamento dos temas de interesse para o corpo docente e para os alunos, os estudantes de medicina definiram os temas a serem trabalhados em conjunto com os professores de Medicina Social I. Para a organização da atividade nas escolas, entende-se que o trabalho de promoção da saúde a ser desenvolvido precisa ter como ponto de partida a visão de “o que eles sabem” e o conhecimento da cultura institucional e da comunidade. Após a definição do tema, inicia-se a fase de preparação da atividade envolvendo uma etapa de preliminar em sala de aula na faculdade composta por uma parte conceitual ministrada pelos professores e especificação da metodologia a ser aplicada. Antes de cada prática os monitores da disciplina auxiliam os grupos na elaboração dos projetos que serão realizados na escola na semana seguinte. Primeiramente os grupos recebem o perfil das crianças com as quais vão trabalhar: média de idade, série escolar, presença de aluno portador de necessidades especiais, número de alunos por turma. Alguns aspectos são avaliados com a ajuda dos monitores: a linguagem do discurso, abordagem não verbal por meio de cartazes e panfletos, dinâmicas e brincadeiras. Os monitores são alunos do segundo ano que vivenciaram a experiência do trabalho com o escolar no ano anterior. Na entrevista para a monitoria, um candidato relatou que o motivo que o levou a concorrer à vaga de monitor da disciplina era poder novamente estar em contato com as escolas, que tinha sido um espaço de referência importante no início de sua formação. No dia das apresentações, os grupos de medicina social adequaram, de maneira condizente com o que haviam preparado o ambiente para a recepção dos estudantes com auxílio dos monitores e professores. Os estudantes da turma 112 elegeram a música como ferramenta para desenvolver as atividades de promoção de saúde na escola uma vez que para eles, teria todo o sentido pensar numa forma de diálogo com as crianças e adolescentes que se associasse a sensibilidade do projeto político pedagógico. A partir de melodias conhecidas pela mídia, músicas do folclore brasileiro, cantigas de roda e cirandas foram sendo desenvolvidos os temas a serem trabalhados. Temas como: dengue, alimentação saudável, saúde bucal e cuidados com o corpo foram abordados com as crianças e adolescentes entre 5 a 14 anos. Os temas escolhidos fazem parte do temário do Programa Saúde nas Escolas (PSE).[2] No momento da atividade, que tem duração média de 50 a 60 minutos, divide-se a turma em grupos, para facilitar o trabalho e poder dispensar uma atenção melhor aos mesmos, que variam entre dez e no máximo vinte crianças. Inicia-se com uma primeira abordagem lúdica, procurando partir das experiências de vida de cada criança a conversa sobre o tema. Como última etapa, a música entra como recurso para fixar o aprendizado do dia. Com conteúdos temáticos as mesmas são adaptadas às canções populares conhecidas pelas crianças de acordo com a sua faixa etária. Para quase todas as apresentações estudantes de medicina fizeram o acompanhamento com instrumentos, como o violão ou a flauta, tornando ainda mais atraente a atividade. Ao término da atividade, as crianças são conduzidas de volta a sala de aula. Os grupos de medicina social se reúnem para avaliar as experiências do dia, discutir sobre as habilidades desenvolvidas, quais as dificuldades encontradas e estimar a efetividade da mensagem transmitida. A música é um instrumento que facilita a transmissão de um conteúdo, de maneira lúdica e envolvente, de modo a transformar a concepção muitas vezes árdua da incorporação de hábitos saudáveis, para algo simples, que pode começar com uma canção, dança ou brincadeira. No relato feito por um grupo de alunos na avaliação final do semestre foi colocado que “tentou-se levar o aprendizado para a escola de forma que motivasse, uma vez que eles acreditavam que todo o processo de aprendizagem só é significativo se gerar motivação”. RESULTADOS Apesar do diálogo entre professores, monitores e alunos, estes ainda mantiveram nas primeiras atividades o receio de como seria falar de promoção da saúde para crianças, como elas os receberiam, se a estratégia de utilização da música como recurso pedagógico atingiria o objetivo. Com o passar do tempo a relação de confiança entre esses dois grupos de estudantes foi se consolidando e na visão dos professores da escola municipal a presença dos estudantes de medicina traz uma “inspiração” aos adolescentes que vêem neles uma “perspectiva de futuro”. Em uma das turmas de 6ª série do turno da manhã a atividade sobre dengue produziu uma reação curiosa. Os alunos aproveitaram a música adaptada pelos estudantes de medicina e com o auxílio da professora da turma ensaiaram uma apresentação para os pais na reunião de culminância, momento de avaliação bimestral da escola. Antes da apresentação, eles convidaram os alunos da Souza Marques para opinarem e conhecer o que tinham preparado foi um momento de validação para os jovens estudantes de medicina que saíram orgulhosos e cientes do poder transformador do conhecimento. Outra constatação feita pelos alunos é que muitas vezes há um preparo para a atividade partindo do princípio que tudo o que vai ser falado é novo e se percebe que “O conhecimento prévio das crianças sobre o assunto nos deixa surpreso. O nosso trabalho a partir daí é organizar os pensamentos que elas já tinham e introduzir alguns conceitos e palavras novas”. CONCLUSÃO As iniciativas para as ações de promoção da saúde do escolar constituem ações efetivas para a consecução de objetivos como a formação do cidadão crítico que desde cedo deverá ter a orientação sobre as possibilidades de escolhas que permitam o controle da sua condição de saúde e a busca de uma melhor qualidade de vida. A experiência com as duas escolas na avaliação dos estudantes de medicina trouxe um aprendizado mútuo, em suas próprias palavras aprenderam a lidar com outras faixas etárias, com outras realidades, a respeitar diferenças e as limitações de cada um. A gratificação maior é ver que a música utilizada no início do ano ainda é lembrada meses depois. Na avaliação da escola a presença de jovens estudantes de medicina no auxílio às atividades escolares é uma ferramenta potente de interesse ao aprendizado. Uma das escolas colocou todo o trabalho desenvolvido pelos estudantes de medicina em seu blog. E por fim, foi feita uma solicitação pela Coordenadoria Regional de Educação a Escola de Medicina Souza Marques para a ampliação do trabalho para outras escolas em 2012. Referências 1 Fundação Técnico-Educacional Souza Marques. Projeto Pedagógico do Curso de Medicina. Letra Capital Editora, Rio de Janeiro (RJ); 2011. 2 Brasil. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básic [1] 1,2,3 Departamento de Medicina Social I da Escola de Medicina Souza Marques, Rio de Janeiro (RJ) nfp@uol.com.br 4,5 Monitores da disciplina Medicina Social I da Escola de Medicina Souza Marques, Rio de Janeiro (RJ) [2] O Programa Saúde na Escola (PSE) foi lançado em setembro de 2008 e é resultado de uma parceria entre os ministérios da Saúde e da Educação que tem o objetivo de reforçar a prevenção à saúde dos alunos brasileiros e construir uma cultura de paz nas escolas.