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A perspectiva dos egressos na avaliação de um Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família
Resumo
A perspectiva dos egressos na avaliação de um Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família Egidio Antonio Demarco1, Julio Baldisserotto1,2, Cristianne Famer Rocha2 1 Grupo Hospitalar Conceição(GHC) 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul A Estratégia de Saúde da Família foi implantada para orientar o sistema de saúde brasileiro em direção à Atenção Primária à Saúde (APS). No Brasil, é utilizado termo Atenção Básica (AB) para definir o primeiro nível do sistema de saúde. No entanto se nos ativermos aos fundamentos descritos na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) 1, podemos observar a utilização dos atributos essenciais da APS, neste nível de atenção, de acordo com a definição sistematizada por Bárbara Starfield 2. Desde a criação da Estratégia de Saúde da Família (ESF), mesmo com as mudanças de governo ocorridas neste período, esta foi mantida como uma política prioritária, com o número de equipes crescendo de forma constante. Considera-se que com a APS – e quando se trata de Brasil a ESF – há uma mudança na forma de produzir saúde. Por sua orientação familiar, esta passa a se dar a partir de núcleos familiares e da referencia no território. Contudo, ainda a maioria das práticas de saúde desenvolvidas nos diferentes âmbitos da atenção é realizada, em grande parte, por profissionais formados dentro de um modelo assistencial privatista, que não contempla a integralidade da atenção, como preconiza a Constituição Federal, em relação ao SUS. Mesmo que as Instituições de Ensino Superior tenham adotado novas diretrizes curriculares, buscando maior sintonia com as modificações produzidas no setor saúde nos últimos anos, ainda predomina a histórica desarticulação entre a necessidade de profissionais requeridos pela Política de Saúde e a formação efetivamente realizada. Entendemos que, para a consecução de uma reorientação do Sistema Único de Saúde com esta magnitude e abrangência, o perfil dos profissionais e a formação dos mesmos tem um papel fundamental neste processo. O objetivo deste estudo é avaliar a adequação do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade, realizada no Grupo Hospitalar Conceição (GHC), vinculado ao Ministério da Saúde, enquanto uma tecnologia de formação de profissionais de saúde, através de dados coletados junto aos seus egressos. Algumas características do Programa: A formação segue os conceitos de campo e núcleo proposto por Campos (2000)3. O Programa se desenvolve no Serviço de Saúde Comunitária do GHC, onde os residentes são inseridos e passam a fazer parte das equipes das Unidades de Saúde, envolvendo-se e responsabilizando-se, juntamente com os demais membros, pelas necessidades de saúde da população do território. Para buscar uma abordagem educacional que pudesse dar conta das áreas de intersecção, como proposto na legislação que trata da Residência Multidisciplinar, o dispositivo de campo desenvolvido, em parceria com o Programa de Residência Médica em Saúde da Família e Comunidade, foi o Currículo Integrado (CI), espaço onde se procura exercitar a construção da interdisciplinaridade. O referencial teórico-metodológico do CI é uma associação da Problematização como o eixo do processo pedagógico e alguns elementos da Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) que auxiliam na estruturação 4. Trata-se de um estudo de caso descritivo com associação da metodologia quantitativa e qualitativa. O instrumento utilizado para coleta das informações foi um questionário semiestruturado, em formato autoaplicável, desenvolvido para esta finalidade, contendo questões fechadas e abertas com espaços dirigidos a comentários livres dos participantes. A coleta das informações se deu de maneira virtual. A análise dos dados quantitativos foi orientada pela avaliação de adequação proposta por Habicht, Victora e Vaughan (1999)5. Para a análise qualitativa foi utilizada a análise de conteúdo proposta por Bardin (2004)6. O estudo contou com a participação de 77% dos egressos. Os dados revelam uma população de profissionais jovens, predominantemente, do sexo feminino. Em relação ao vínculo empregatício, 76% o têm com o setor público, destes 60% possuem vínculo formal de trabalho. Cerca de 50% atuam diretamente na Atenção Primária. O tempo médio na atividade profissional atual é em torno de 12 meses. Para 90% dos participantes, o fato de possuir Residência contribuiu para alcançar a ocupação atual. O tempo de duração da formação de dois anos foi considerado adequado por 90%. Dentre as motivações para busca da formação, todos os participantes consideram a necessidade de qualificação e não a falta de opções no mercado de trabalho. O dado marcante de 100% apontarem a necessidade de qualificação mesmo que o intervalo médio de tempo decorrido entre o final da graduação e o início da residência seja de apenas quatro meses e, trate apenas da análise de um Programa, sinaliza a importância de se dar mais atenção ao processo de formação na graduação. Cerca de 90% dos participantes afirmam com certeza que a formação alterou a forma de perceber a realidade em APS, melhorou suas habilidades e aumentou os conhecimentos. A metodologia qualitativa do estudo possibilitou surgirem informações relevantes que podem evidenciar o papel do processo de formação nos sujeitos que o vivenciaram. Os participantes destacam em relação ao processo de aprendizagem do Programa, seu modo dialógico, sua concepção crítica-reflexiva e a articulação teórico prática. Ainda, salientam a circulação de saberes no processo de trabalho e o importante papel dos espaços onde se procura exercitar a construção da interdisciplinaridade. As informações produzidas no decorrer do estudo fornecem subsídios para considerar que, desde a perspectiva dos egressos, o Programa avaliado pode ser considerado como uma tecnologia adequada de formação multidisciplinar de profissionais para o Sistema Único de Saúde. Referências: 1. Brasil, MS, Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica, 4ª edição, 2007. Brasília, DF. Starfield B. Atenção Primária – equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologias. UNESCO & Ministério da Saúde, Brasília, 2004. 3. Campos GWS. Saúde pública e saúde coletiva: campo e núcleo de saberes e práticas em saúde. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.5, n.2, p. 219-230, 2000. 4. Diercks MS, Pekelman R, Medeiros RHA, Silveira LR, Torres AA, Wilhelms DM, Mano MA. O Currículo Integrado como Estratégia de Formação Teórica em Atenção Primária à Saúde para os Residentes dos Programas de Saúde da Família e Comunidade. In: Residências em saúde: saberes & fazeres na formação em saúde. Org. Fajardo AP, Rocha CMF, Pasini VL, pag. 173-189, Porto Alegre: Hospital Nossa Senhora da Conceição, 2010. 5. Habicht JP, Victora CG, Vaughan JP., 1999 Evaluation designs for adequacy, plausibility and probability of public health programmer performance and impact. Int J Epidemiol, 28: 10-18. 6. Bardin L. Análise de conteúdo. Edições 70 Ltda., Lisboa, 2004