Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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INFORMATIVO NA SOLA DA BOTA – O Agente Comunitário de Saúde em Foco
Eduardo Hideto Kawahara Filho

Resumo


INFORMATIVO NA SOLA DA BOTA – O Agente Comunitário de Saúde em Foco

Caracterização do problema
Nos vários momentos que diariamente a equipe do Núcleo de Apoio a Saúde da Família - NASF, tem com os Agentes Comunitários de Saúde - ACS, um tom bastante presente nas conversas, é o sentimento de desvalorização, que essa categoria de profissionais de saúde verbaliza. Existiu uma narrativa de uma ACS, na época em que estávamos começando o trabalho no NASF, e que nos motivou a construir uma proposta de atividade voltada especificamente para os ACS. Em uma conversa, uma ACS, disse que uma vez encontrou uma moradora da sua área em um supermercado, e recebeu a seguinte exclamação: “Nossa, nem estava reconhecendo você sem o uniforme, que todo mês vai lá em casa! Como você é bonita!”; A agente citou esse acontecimento, ressaltando que as pessoas nem a reconhecem, sem o uniforme diário de ACS. Mas pensamos que existem muitos outros “não-reconhecimentos”, nessa profissão. Que aliás, legalmente, ainda nem está definido, se é ou não considerado uma profissão.
Descrição da experiência
Começamos a nos encontrar com os ACS de uma Unidade Básica de Saúde da Família – UBSF. Nessa UBSF existe uma equipe de saúde, composta por: médica clínico-geral, uma odontóloga, uma auxiliar de odontologia, uma enfermeira, dois técnicos de enfermagem, dois agentes administrativos, uma agente administrativa que dispõe as medicações para a população e uma gerente, que também atua como assistente social. São quatro ACS ao todo. E juntos, caracterizamos e pensamos em alguma ação que “desse mais voz” ao ACS, almejando de que eles, e sua categoria, sejam mais valorizadas, tanto pela comunidade em que trabalham, como entre os colegas de serviço. Geralmente, a conversa com os ACS se deu nos primeiros horários da manhã, onde eles, todos os dias de trabalho, se reúnem na UBSF, para o planejamento das ações do dia. A enfermeira também faz algumas orientações e repassa alguns informes. Nas sextas-feiras no período vespertino, aqui na rede municipal de saúde, está estipulado também, que deve acontecer as reuniões de equipe. Momentos esses, que também pensamos ser importantes para as atividades interdisciplinares da unidade, como a confecção do informativo. Dessa maneira, pensamos em confeccionar um informativo, onde eles pudessem “aparecer” mais. O informativo está dividido algumas partes: a primeira, chama-se: “Bate Papo Saúde”. É o maior espaço do informativo, e geralmente é escrito em parceria de um ACS com um profissional da unidade de saúde de nível superior, como a enfermeira por exemplo. Assuntos como: vacinação, diferença entre urgência e emergência, métodos contraceptivos e violência contra a mulher, foram discutidos nesse espaço ao longo das edições do informativo. São informações que os ACS esboçaram curiosidade em entender melhor, relacionadas com as problemáticas que enfrentam. E o profissional de nível superior, pode contribuir com um “olhar científico” sobre a o assunto. O espaço fica na primeira página, centralizado, no informativo. Logo abaixo, existe um quadrante esquerdo e outro direito. No esquerdo, está o espaço: “Conselho de Saúde”. São escritas por um ACS, notícias sobre os últimos acontecimentos do Conselho Local de Saúde (como o dia das reuniões, ou, o que é o conselho, sobre a sua eleição, onde acontece, e as atividades do conselho). Geralmente, o ACS que escreveu essa parte, estava integrando o conselho. No quadrante direito, está um espaço chamado: “Nosso Bairro”. Outro ACS escreve uma nota sobre o território, ou seja, a região de abrangência de cobertura da UBSF (já foi escrito sobre a questão dos moradores jogarem lixo em lugares impróprios no bairro, sobre a existência de muitos cães soltos pelas ruas, prejudicando o trabalho dos ACS inclusive. Em outra edição, foi abordado a questão da água, e saneamento básico, uma vez que em grande parte dos bairros, não existe esgoto, e nem mesmo água encanada. E no último informativo confeccionado, abordou-se um projeto que a universidade católica da cidade, estava desenvolvendo, especificamente na região da UBSF). No verso (o informativo tem apenas uma folha - frente e verso), está um espaço grande, chamado: “Sem Uniforme”, onde postamos em cada edição do informativo, uma foto de um dos ACS, sem uniforme, e ao lado, uma enquete/entrevista, onde o ACS pode falar um pouco mais sobre a sua vida (como: qual é o seu filme favorito, quantos filhos, animais de estimação, sobre sua família, quanto tempo de trabalho como ACS, o que é saúde na opinião dele, os desafios da profissão, as limitações, os projetos dele para o futuro etc.). Esse espaço foi o primeiro pensado, e surgiu a partir da questão da percepção da “não valorização” do trabalho e da própria profissão ACS. E uma materialização do “aparecer” para a comunidade, e para os colegas de trabalho. Interessante, que para a fotografia, alguns ACS relataram ter passado até pelo salão de beleza, com roupas diferentes, para aparecerem “bem arrumados” (nas próprias palavras deles). Logo abaixo existe um espaço, com o nome de: “Informes da Unidade”, onde são postulados: horários, procedimentos que a unidade de saúde está oferecendo, mudanças na agenda/rotina da unidade, início ou encerramento de grupos e outras atividades da UBSF. E por último, um espaço denominado: “Saúde e qualidade de vida é: ”: , onde escolhemos alguns temas geralmente em forma de desenhos, para a finalização do informativo de maneira mais provocativa. Todos esses processos do informativo foram construídos não apenas pelos ACS, mas por outros profissionais da unidade, como a gerente da unidade, a enfermeira, os técnicos etc. E sempre em parceria com o NASF.
Efeitos alcançados
Foram confeccionados 4 informativos, ao longo de 1 ano. Com tiragem de 100 exemplares de cada informativo. Esperamos com essa experiência, não apenas valorizar o ACS enquanto profissional fundamental e diferenciado da Atenção Básica, e também trabalhar conceitos como: de Educação Permanente, de Controle Social, e principalmente de Educação em Saúde. Quanto ao impacto das informações mediante a população, pouco podemos dizer nesse aspecto. Uma vez que o informativo depois de pronto, ficava a disposição da população, na sala de espera da unidade de saúde, e não temos relatos dos comentários da população. Mas foi notório o empenho e satisfação dos ACS, a cada informativo confeccionado.
Recomendações
Um comentário é com relação ao tempo, para a confecção do informativo disponibilizado para os ACS. Devido à rotina desses ACS na unidade, a confecção do informativo, foi realizada em horários “não estipulados”. Quando existiu um “tempo livre”, sentávamos juntos (NASF e ACS), para pensarmos os temas, pautas, dos informativos, bem como sua edição. Assim, não foram preestabelecidos horários para a confecção desse informativo, com a gerência da unidade, uma vez que nos foi justificado que o tempo do ACS era limitado, devido a grande demanda de atribuições. Pensamos que diante o processo de trabalho cotidiano que os ACS exercem, uma atividade como o Informativo, talvez não se “enquadre” no que ainda está arraigado na Atenção Básica: o modelo tradicional de práticas de saúde. Não sendo entendido como algo que também pode promover saúde. Acreditamos também, que poderíamos ter melhor aproveitado o informativo, no sentido de se trabalhar com a população. Talvez, ter pensado em numa participação da comunidade no próprio processo de elaboração do informativo.