Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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LEVANDO SAÚDE AO PROFISSIONAL DA SAÚDE
Josiane G Fonseca, Simone Nunes Pinto

Resumo


As questões de prevenção e promoção a saúde do profissional que atua na saúde passa muito além dos cuidados com os riscos biológicos ergonômicos posturais. Os profissionais de ponta, em emergência e internações, têm de lidar com a vida e a morte a cada instante, lidar com a forte pressão da demanda, e, ficar frente ao sofrimento de outro ser humano e ter de se manter “inteiro e integro” coma sua psique, sua emoção, e seu estado físico para o próximo atendimento, acolhimento e cuidado com “O Próximo”. Os profissionais das unidades ambulatoriais apresentam um perfil diferente. A proximidade emocional, a geração de vínculo com a família e as formas de acolhimento solicitados dos profissionais, coloca-o dentro do processo de saúde e doença, da questão social e do sofrimento familiar. As tensões e os conflitos gerenciados pela equipe sugerem ser menos agudos, porém mais crônicos. Esse sofrimento, moral afeta o corpo físico. Seja o profissional, médico, enfermeiro e técnico, agente de saúde, fisioterapeuta, assistente social, ou do setor administrativo. Os processos de vida e morte, adoecer e sarar fazem parte do cotidiano das pessoas, entretanto, naqueles que vivenciam isso de modo crítico e massificado, as tensões são geradas e jogadas no corpo causando dores e desgaste físico que agem facilitadores de diversos processos patológicos. Em nossa sociedade o ato de cuidar de outras pessoas é considerado como uma atitude de valor nobre, como bondade, caridade, desvelo, atenção, entretanto, os custos emocionais, para quem trata, auxilia e cuida, pouco são levados em conta. O exercício das profissões que prestam esse cuidado coloca-os de frente a uma relação ambígua com o outro. Como não se envolver, como não permitir que o sofrimento alheio lhe toque a alma? Como é envolver-se profissional e não pessoal, social e “sentimentalmente” na ajuda ao outro. As diretrizes do SUS de Integralidade e Cuidado com a saúde de certo modo impõem esse envolvimento(Carvalho;Malagris2007;Favoreto2004). O profissional do de saúde publica, SUS, acaba por estar exposto a esses e outros estressores e situações conflitantes e ambíguas. As mudanças referentes à gestão em saúde, questões de infra-estrutura e material básico para o trabalho, forte demanda imposta pelos órgãos competentes, a Estratégia de Saúde da Família, levando o enfoque para a promoção da saúde e prevenção de doenças e até a redefinição de conceitos básicos como o de saúde e doença (Borges e col 2002; Mattos2004). Revista por Canguilhem (1998), a saúde passa ser um valor e não mais o oposto à doença. A doença então não é um atributo negativo da saúde e sim um novo estado, uma nova ordem, enquanto a normalidade seria a capacidade de criar novas normas, valores e modos de viver e fazer frente às “iniquidades“ e imprevistos do meio, inerentes a vida. O que não significa desconsideração ao conhecimento científico, mas a conjugação com aquilo que é inerente a pessoa e somente ela poderá dizer sobre sua própria situação. Então normal ou anormal há de transcender as questões da normatização e lançar um olhar sobre os aspectos e funções que irá desempenhar esse corpo, assim como suas características próprias (Fonseca2002). Todas essa questões e etressores nos remete síndrome de burnout, que passou a ser objeto de estudo científico nas ultimas décadas, especialmente no campo da Saúde Ocupacional. Esta apresenta-se não como um campo fechado, embora em geral seja definido como uma reação negativa ao estresse crônico no trabalho com diversas manifestações como fadiga persistente perda do interesse distanciamento afetivo dentre outros. Alguns autores sugerem também que esta pode consistir numa resposta ao estresse crônico, não importando o contexto (Maia e Col2011; Vieira2010). Cabe aqui refletir como abordar todos esses fatores que se apresentam de modo tão singular em sua polifonia e polissemia, na forma de reagir, sentir e refletir no sutil olhar, num sorriso, em franzir o cenho, próprio de cada um. Nossa proposta com Ginástica Laboral foi de fornecer mais do que orientações ergonômicas ou ensinar as posturas corretas, que são essenciais para a prevenção e o auto cuidado. Mas também visamos proporcionar ao profissional ir além das questões físicas corporais ou ambientais no espaço do ambiente de trabalho. Olhar a si mesmo como SER que possui Sensações, Sentimentos, Emoções e poder trabalhar as tensões geradas e exercer contato sensível consigo mesmo. Baseamo-nos no conceito da Integralidade com sua noção polissêmica que envolve uma compreensão ampliada das necessidades de saúde das pessoas e dos grupos. E no Cuidado, aquele que faz parte da essência humana, com uma atitude interativa com envolvimento e relacionamento entre as partes, somando escuta, acolhimento e respeito. (Lacerda e Valla2003/2004;Mattos2004). O stress e a solicitação física estão refletidas nos relatos ouvidos de dores em diferentes partes do corpo, nas colocações de alívio após a implantação do projeto Ginástica Laboral; e na busca deles por maiores informações junto a atividade para solução de problemas próprios e dividi-las com os membros da comunidade. Todo esse conjunto de condições e fatores, muitas vezes subtraídas da sua função laboral, e, no momento que acolhidas e tratadas no espaço da GL, tornam-se reais e possíveis de serem abordadas. Desse modo buscamos fazer que esse trabalho desenvolvido pelo projeto ganhasse contornos do que Merhy (2002) classifica de trabalho vivo em ato. Estabelece na sua práxis um olhar mais ampliado, objetivando o cuidado e o valor do sujeito em sua singularidade(Cecilio2003). Significa sair do foco exclusivo da doença e ir além, na concepção dos limites e possibilidades no contexto da vida do sujeito e considerá-lo como o principal objetivo da intervenção terapêutica criando o espaço de trocas de informações e reciprocidade, onde vínculos de inter-subjetividade são estabelecidos. Segundo Fonseca (2002p) "Há uma dificuldade, portanto, para a construção de métodos que torne o ‘palpável’ à ciência, visto que o processo viver-adoecer-sarar-morrer é uma contingência da vida, possuindo várias e individualizadas formas de sentir e viver esses fatos". Para nosso trabalho utilizamos recursos que varia de acordo com a unidade e com o momento, varia com situações bem praticas para soluções de questões diárias (ergonomia/postura/exercícios), técnicas de relaxamento/meditação, dança, dinâmica de conversação. Buscamos enfatizar a promoção dos valores humanos como estratégia preventiva. Essa é uma estrada de caminhos tortuosos, onde não há formulas prontas, pois, se transforma a todo instante, em cada unidade de serviço, em cada grupo, como um lindo caleidoscópio a modificar seu contorno a cada vez que nele tocamos. O trabalho obteve o respeito e adesão dos profissionais, vencendo algumas resistências e tendo uma procura espontânea pelo serviço. aponta a importância e o reconhecimento espontâneo e natural da atividade.