Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O VÍNCULO COMO UM PROCESSO DIALÓGICO DE ATENÇÃO NO CUIDADO DA FAMÍLIA NO ESPAÇO DOMICILIAR.
Fabrícia de Souza Ferreira, Susane Carlene Cardoso da Silva, Anarita Salvador

Resumo


Entrar no ambiente domiciliar de uma família não é tarefa fácil, porém é fundamental quando se almeja conhecer o cotidiano das mesmas e promover a saúde de forma integral e não apenas física. Ao pensarmos na necessidade da efetivação dos princípios do SUS, onde estes se tornam para nós horizontes a serem alcançados, os colocamos como metas ao adentrarmos enquanto profissionais de saúde em formação, nas casas e nas vidas das família atendida. Tendo como busca a efetivação do cuidado integral à saúde e a participação e co-responsabilização do indivíduo no seu processo de cuidado em saúde, vislumbramos elementos essenciais. Nessa perspectiva percebemos como é importante a criação de vínculo entre os profissionais da saúde, em formação ou não, as famílias e os indivíduos acompanhados. O vínculo estabelecido entre os citados permite a uma visão amplificada, não observando apenas o individual, mas também o coletivo, não tratando apenas doenças, mas promovendo à saúde. No desejo de percebermos como esse vínculo poderia ser construído e efetivado no cotidiano de uma comunidade, visualizamos que esta construção pode ser melhor concretizada através da educação popular em saúde. O uso da Educação Popular Em Saúde, trata-se da utilização de conceitos e metodologias desenvolvidas e sistematizadas pelo pedagogo Paulo Freire, no setor saúde esta pedagogia trabalha com o exercício do cuidado em saúde gestado através da relação dialogada, da horizontalidade, da solidariedade, da afetividade, da valorização da dignidade humana e da troca de saberes, buscando constantemente construir a autonomia dos indivíduos envolvidos nesse processo. Tendo em vista a importância da consolidação do vínculo na educação popular em saúde, o projeto de extensão Educação Popular e Atenção a Saúde da Família (PEPASF), lócus dessa experiência, atua há 14 anos na comunidade Maria de Nazaré em João Pessoa na Paraíba, vinculado ao Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O PEPASF busca promover uma nova percepção do cuidar, proporcionando oportunidade aos extensionistas de entrar no espaço domiciliar, vivenciar a dinâmica da comunidade e observar a rotina de cada família, conseguindo nesse processo formar profissionais conhecedores dos espaços sociais onde se produz saúde, bem como construindo um processo de empoderamento da comunidade assistida. Dessa forma, o projeto utiliza-se de uma metodologia da problematização, fundamentada pela Educação Popular em Saúde, onde se pratica a troca de saberes através da dialogicidade da escuta. O PEPASF desenvolve suas atuações aos sábados pela manhã, através de visitas domiciliares interdisciplinares às famílias da comunidade, onde os estudantes têm a oportunidade de trocar experiências e criar vínculos com as famílias visitadas. Estas visitas são realizadas por duplas de estudantes de cursos distintos, visando à interdisciplinaridade orientada por práticas multiprofissionais, possibilitando uma visão mais holística do cuidar, favorecendo, desta maneira, a promoção da saúde de forma integral. O diálogo interdisciplinar proporcionado pelo Projeto, e consequentemente, a criação de vínculo, fornece uma enorme troca de experiências em uma relação de mutualidade, onde possibilita, tanto às famílias quanto aos extensionistas, uma ampliação sobre a ótica popular, fazendo com que ambos pensem e encontrem diversificadas soluções para um mesmo problema, ou seja, é estabelecido um elo horizontal, onde é proporcionado diálogo utilizando a saúde como foco principal, na qual estudante e comunidade trazem ambos suas dúvidas, inquietações e soluções sobre o processo saúde-doença. Baseado no explicitado, ultima-se que o vínculo construído através das visitas domiciliares dos estudantes à comunidade beneficia ambos. O processo de construção de vínculo partindo dos pressupostos apontados pela Educação Popular não é uma ação fácil de ser conduzida, essa ação é forjada por elementos ainda pouco aprofundados na formação dos profissionais de saúde. Construir vínculo verdadeiro com os indivíduos, as famílias e as comunidades atendidas se dá por meio da utilização de diferentes técnicas de cuidado em saúde. Inicialmente podemos afirma ser impossível a construção de vínculo sem uma real abertura da escuta, e uma escuta atenta, aberta as dores e inquietações do outro, conduzida de forma inquieta e acolhedora. Essa escuta pode tornar-se um instrumento de transformação do profissional de saúde e daquele que se propõe a ser ouvido. A integração entre a comunidade e os estudantes faz com que a comunidade reconheça suas próprias dificuldades visando trabalhar sua autonomia através do cuidado diferenciado contribuindo para a melhoria da qualidade de vida. O trabalho em saúde com estudantes de cursos diversos permite uma formação humanizada de profissionais com uma visão ampla e autônoma, inseridas em diferentes espaços de atuação sendo aplicadas ao processo de saúde-doença. Inserir os estudantes na comunidade possibilita a percepção dos fatores que interferem diretamente na saúde da população e melhora sua percepção, tornando-os profissionais mais capacitados. Fazer extensão em comunidades é uma oportunidade ímpar para os acadêmicos, pois eles poderão se inserir na realidade sócio-econômico-cultural daqueles que lhes demandarão atendimento quando estiverem no mercado de trabalho e para que acima de tudo não se constituam apenas de bons técnicos limitados as doenças, mas sim de bons profissionais da saúde, militantes e humanos. Com isso percebe-se que o PEPASF contribui de forma mais crítica e reflexiva utilizando o vínculo como um processo dialógico no cuidado da família no espaço domiciliar, atuando sob uma perspectiva que contempla a promoção da saúde como elemento essencial ao bem-estar da família além de proporcionar aos estudantes extensionistas uma atuação protagonista na construção do conhecimento e de sua própria formação, tendo como base a realidade concreta das classes populares, trabalhando juntamente ao sistema de saúde e à organização dos grupos sociais, numa perspectiva dialógica entre os saberes acadêmicos e populares, com respeito aos aspectos culturais existentes na comunidade.