Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Os desafios do trabalho do Agente Comunitário de Saúde na Vila Sossego em Porto Alegre
Jovina da Silva Dornelles

Resumo


No ano de 2005 ingressei na Unidade Básica de Saúde (UBS) Santa Cecília do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) como Agente Comunitária de Saúde (ACS) da Estratégia Saúde da Família (ESF). Esta unidade de saúde é composta por quatro equipes, a qual contém seis Agentes de Saúde. A UBS localiza-se na Rua. São Manoel, 543 e pertence ao Hospital de Clínicas de Porto alegre. Compõe o distrito sanitário 8 da cidade de Porto Alegre. Funciona com uma unidade de ensino e pesquisa comportando residentes e doutorando de medicina, estagiários de outras áreas da saúde e profissionais de saúde. Funciona das 7h às 18h. A população residente no território pertencente à UBS é em torno de 50.000. Na área de abrangência da equipe a qual faço parte são atendidas 250 famílias totalizando, aproximadamente, 1.300 moradores. O Agente o Comunitário de Saúde interliga a comunidade com a equipe de saúde da família, tendo sob sua responsabilidade um número definido de famílias para serem atendidas. Entre suas principais atribuições na equipe está o mapeamento do território atendido; o cadastramento das famílias residentes nesta área; o monitoramento das principais características e necessidades das famílias; e a realização de no mínimo 150 visitas domiciliares ao mês. As visitas domiciliares prioritárias definidas pelo Ministério da Saúde são para as famílias que apresentam doenças crônicas não transmissíveis, gestantes e bebes. Além disto, a esquipe de saúde define suas prioridades. De 2005 a 2007 minha atuação foi em área de média vulnerabilidade social, composta por um grande condomínio de apartamentos. O acesso às famílias era restrito, pois um grande número possuía planos de saúde privados por não acreditarem no Sistema Único de Saúde (SUS). Diante da dificuldade de acesso e a discriminação do meu trabalho, solicitei mudança de área, também sentia que meu trabalho seria mais bem recebido em área de maior risco social. Em 2007, como parte das atividades da equipe local da ESF, iniciei as visitas domiciliares em uma nova comunidade, a Vila Sossego, com o intuito de mapear o território e identificar os recursos e as necessidades das 95 famílias ali residentes. A Vila Sossego começou sua ocupação irregular, há 40 anos, em um terreno de propriedade privada. Atualmente ocupa tanto terrenos privados quanto áreas públicas. Há 95 moradias e, aproximadamente, 500 pessoas habitando a área, que é pequena e relativamente escondida atrás de um grande prédio de apartamentos, situado na Avenida Ipiranga, uma das principais vias da cidade. Nas reuniões desenvolvidas pela equipe com os moradores da Vila Sossego, constatamos que havia falta de saneamento básico, os dias e horários da coleta de lixo não eram respeitados tanto pela comunidade quanto pela prefeitura, existiam cães soltos na comunidade e os donos não assumiam as responsabilidades sobre os animais, havia problemas com ratos, com a umidade do local e com a chuva que inundava as casas. A principal demanda da Comunidade era a regularização habitacional. A comunidade já estava inserida no Orçamento Participativo (OP) da cidade, espaço no qual os moradores debatem com a prefeitura seus direitos à moradia e outras necessidades. Nas visitas, identifiquei que o acompanhamento de saúde dos moradores da área não era adequado, e a procura pela UBS era reduzida. Após esse diagnóstico, iniciamos um trabalho de educação da saúde da comunidade, realizando busca ativa; mutirões para atualização dos cadastros no Sistema Único de Saúde (SUS); campanhas de vacinação, distribuição de folders contendo informações educativas sobre os serviços, os programas, e o funcionamento da UBS e esclarecendo para a população o trabalho realizado pela ESF. Além disso, com auxilio dos profissionais da Equipe - composta por médicos, uma enfermeira, duas ACS, duas técnicas de enfermagem e acadêmicas da nutrição organizei um grupo chamado Roda de Chimarrão que se reunia uma vez ao mês para tratar do acesso a saúde pública. Nesse espaço era esclarecido como as consultas deveriam ser marcadas no posto e na central de marcação, e o motivo pelo qual demorava o atendimento. Também havia discussões sobre temas como DSTs, primeira gestação, contraceptivos, amamentação, câncer de próstata, vasectomia, HAS, DM, dengue e tuberculose. Em 2011, estabeleceu-se uma parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a UBS através do Programa de Extensão Saúde Urbana, que possibilitou um maior conhecimento sobre os determinantes sociais da saúde e outros recursos que poderiam ser acionados para a melhoria das condições de saúde no nível local. No começo não acreditei muito no trabalho que poderia ser desenvolvido e verifiquei a dificuldade da comunidade aceitar esta proposta. Entretanto depois percebi que esta parceria contribuiu para uma visão ampliada do papel e da importância de um ACS. Isto me gerou um sentimento de autoconfiança e maior segurança na realização das tarefas necessárias para minha atuação como Agente de Saúde na Vila Sossego. Nestes anos em muitos momentos pensei em desistir do trabalho, mas agora desejo ficar. Sei que terei muitas atividades para que o SUS seja respeitado e admirado. A mídia repassa apenas parte ruim da história, contudo continuo acreditando que podemos mudar isso, tendo em vista que também acontecem coisas boas que não são divulgadas. Também há muita resistência na comunidade, provavelmente, por não saberem todas as possibilidades de cuidados e ajuda que o SUS pode proporcionar. Este é um dos maiores desafios para o ACS, pois ele precisa acreditar muito no sistema de saúde para poder auxiliar as famílias nesta situação.