Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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OS SENTIDOS DE RISCO EM SAÚDE, NA PERSPECTIVA DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE, DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Eduardo Hideto Kawahara Filho

Resumo


O Curso Este resumo apresenta uma pesquisa desenvolvida no âmbito do Curso de Especialização em Saúde Mental e Atenção Psicossocial, da Escola de Saúde Pública do Estado de Mato Grosso do Sul em parceria com a Fiocruz. O curso tem como objetivo qualificar na modalidade da formação “lato sensu” equipes para os serviços de saúde mental no âmbito da Secretaria Estadual e das Secretarias Municipais de Saúde de Mato Grosso do Sul, em consonância com as orientações da Reforma Psiquiátrica Brasileira. A Pesquisa O estudo buscou compreender os sentidos atribuídos ao risco saúde da população, atribuídos pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) de uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF). O ACS exerce um papel central, e é tido como um dos principais diferenciais na política pública de Atenção Básica de Saúde (Côrrea et al.). Um conceito fundamental para a o nosso trabalho, bem como para a compreensão dos processos sociais foi o de RISCO (Spink, 2010). Pautando na concepção de futuro passível de controle para a sociedade ocidental, risco tornou-se “[...] um dos instrumentos de disciplinarização do corpo. É com o conceito de risco, instrumentalizado pela epidemiologia e operacionalizado pela educação em saúde, que se torna possível pensar a prevenção e a educação na área da saúde. Educar, no contexto da saúde, é basicamente sensibilizar para evitar riscos.” (Spink, 2010, pg.48) Metodologia A metodologia está baseada nos trabalhos desenvolvidos por Spink (2003) e Curado (2007), inserido em uma abordagem do construcionismo social, em que a partir da realização de oficinas sobre o risco, foram produzidos sentidos do cotidiano. Assim, realizamos uma oficina com 06 ACS que trabalham em uma unidade de saúde, e a partir de um primeiro exercício de associação de palavras ao risco à saúde, discutiu-se os principais sentidos produzidos na Oficina, que foram: Saneamento Básico, Conflitos Familiares, Alcoolismo e Desemprego. Para o tratamento dos dados, utilizamos Análise Temática, proposta por Minayo. Para essa autora: “a noção de tema está ligada a uma afirmação a respeito de determinado assunto. Ela comporta um feixe de relações e pode ser graficamente apresentada através de uma palavra, de uma frase, de um resumo.” (Minayo, 1992, pg.315) Temas analisados e discutidos Em Saneamento Básico: determinantes sociais de saúde e o conceito ampliado de saúde; Desemprego: a relação entre a pobreza e o desemprego; Conflitos Familiares: “uma coisa vai puxando a outra” e a influência da família; e Alcoolismo: concepção individualizante de alcoolismo e adolescência e bebidas alcoólicas. Em no momento final da oficina, algumas estratégias de enfrentamento e os desafios da prática cotidiana dos ACS também foram discutidas, e as dividimos em dois temas: educação em saúde, e os desafios da prática cotidiana dos ACS. Comentários Entendemos que os sentidos de risco à saúde, discutidos na oficina, demonstram uma forte relação com a realidade social que o Brasil, e no contexto específico desse trabalho, a saúde pública, enfrentam. Essa marcante caraterística, que percebemos por meio das falas dos participantes, está em sintonia com o conceito de 'Determinação Social em Saúde”. E influencia diretamente na vida de milhões de pessoas em nosso país e portanto, na ocorrência de inúmeras doenças. Outra observação presente na falas, foi a correlação que os riscos elencados tem uns com os outros. Assim, condições precárias de saneamento básico na comunidade, por meio dos relatos, podem estar relacionados por exemplo, com as condições de vida insalubres. O fato de “não passar lixeiro na rua” (Participante 02), poderia “gerar” doenças como hipertensão, diabetes ou estresse. Ou, o desemprego, estar relacionado com os conflitos familiares, e ao alcoolismo. Assim, esses riscos se mostram complexos, e “entrelaçados”. Entendemos que as problemáticas dos quais os profissionais de saúde como os ACS, nas centenas de unidade de saúde espalhados pelo Brasil, se deparam, são problemas de difícil resolução e abrangentes. Dessa maneira, faz necessário o envolvimento da sociedade, e em se tratando de políticas públicas, os riscos à saúde devem ter um enfrentamento intersetorial, com a participação de várias entidades, atores, e não apenas dos profissionais específicos da área saúde. Mediante essas dificuldades, outra necessidade que observamos, por meio dos resultados dessa pesquisa é que os profissionais de saúde como os ACS, devem ser constantemente capacitados para o trabalho cotidiano. Percebemos nos relatos, um não reconhecimento pelos próprios participantes, do trabalho de enfrentamento dos riscos, que relataram nas falas. Algumas das práticas também, estariam fora do escopo das atribuições que os mesmos tem. Alguns relatos demonstraram uma proximidade grande dos ACS, com os problemas da população, o que poderia gerar, problemas de saúde nos próprios ACS. Devido ao envolvimento dos ACS com a população, nas palavras de uma das ACS: “As vezes a gente fica meio que sufocado. Vendo tanta coisa que a gente vê, e vê que não se pode dar solução. Eu as vezes me sinto sufocada.”(Participante 2) Reconhecemos também, principalmente depois dos resultados dessa pesquisa, o quanto diferenciado é o trabalho do Agente Comunitário de Saúde. É um trabalho inserido na comunidade, dentro das casas das pessoas, e com forte viés interpessoal. Assim, acreditamos ter um grande potencial de transformação da realidade. Entretanto, apesar de uma gama muito variada de episódios e práticas que relataram, principalmente na área da educação em saúde, pensamos ter muita influência ainda, o modelo individualizante, respaldado pela lógica racionalista e determinista, que na área da saúde relaciona-se ao modelo biomédico. Onde por vezes, almejam-se mudanças apenas em aspectos individuais, de atitudes/comportamentos, passando até por medidas moralizantes. Em contrapartida, práticas que ressaltem também a participação comunitária, e sua participação política, enfatizando a construção da cidadania, empoderando as pessoas, se faz necessário em um trabalho de saúde, como o que se espera tratando-se dos ACS. Aspecto que pouco percebemos nos enfrentamentos dos ACS discutidos. Por meio das falas, acreditamos que o momento da oficina foi compreendido pelos participantes, como um momento em puderam falar e refletir sobre suas ideias, práticas e experiências diárias. A partir da atividade, foram construídos sentidos, que esperamos melhorar e fortalecer as ações em saúde da unidade de saúde. Referências Bibliográficas CÔRREA, C.; PFEIFFER, C, C.; LORA, A. P. O Agente Comunitário de Saúde - Uma História Analisada. Revista do Laboratório de Estudos Urbanos do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade; RUA [online]. no. 16. Volume 1. Campinas. 2010. Dinsponivel em: http: //www.labeurb.unicamp.br/rua/Laboratório de Estudos Urbanos. Acesso em: 01 Mai. 2011 CURADO, J.C. Gêneros e os sentidos do trabalho social. Campo Grande : UCDB, 2008. MINAYO. M. C. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo, Hucitec/Abrasco, 1992.SPINK, M. J. P.. Ao sabor dos riscos: reflexões sobre a dialogia e a co-construção de sentidos. IN: SPINK M. J. P. Psicologia social e saúde: práticas, saberes e sentidos. Petrópolis: Vozes, 2003. pg. 295-324 ______, M. J. P. Linguagem e Produção de Sentidos no Cotidiano. Biblioteca Virtual de Ciências Humanas. Rio de Janeiro, 2010.