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IMAGENS ARTÍSTICAS COMO RECURSO PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Resumo
O homem constrói a cultura por meio da linguagem e nesta perspectiva, a história humana é a representação desta construção que se faz no cotidiano e que se manifesta na multiplicidade das formas com que transforma pensamento, conhecimento, sentimento, percepções e emoções em linguagens com as mais diferentes nuances. A capacidade de manifestar-se para além da linguagem meramente falada, levou o homem a descobrir a escrita, a pintura, o teatro, o cinema e tantas outras formas de concretização do pensamento que vem descobrindo e aprimorando ao longo de sua trajetória. O desenvolvimento de habilidades e competências artísticas, que durante tanto tempo foi relegado a um segundo plano na formação científica brasileira, parece cada dia mais preocupar os educadores das universidades do país. O distanciamento entre ciência e arte, aprofundado na medida em que ocorreu a supremacia das ciências naturais positivistas, parece ter chegado ao seu limite. O homem é muito mais do que um ser meramente racional, que compreende o mundo na dimensão meramente objetiva. A subjetividade e a intersubjetividade humana, desprezadas pela ciência moderna, preocupada apenas com o desenvolvimento científico e tecnológico, tem sido cada vez mais apontadas como indispensáveis ao desenvolvimento humano. O homem como ser integral, considerado para além do físico, ao biológico, precisa ser percebido em seus aspectos psíquico, social e espiritual. Assim, ciência e arte se aproximam transformando o processo de ensinar e aprender em algo mais complexo, mais dinâmico e mais interativo. Os saberes das diferentes ciências e das diferentes artes se comunicam e se somam para a construção de um mundo com mais possibilidade de compreensão, integração e respeito. Ao analisarmos a história percebemos que as manifestações artísticas tiveram fortes relações com a ciência. Nos campos da Epistemologia, Neurologia e das Teorias da Percepção, Arte e Ciência são objetos de interesse no âmbito de discussão sobre os processos da apreensão humana da “realidade” sobre os processos de construção do conhecimento, sendo os dois processos considerados como construídos pela cultura (Braga, 2004; p.23). A arte tem sido usada para registrar aspectos sociais, sendo uma importante fonte de registro histórico. Segundo Panofsky (2002; p. 63) “o historiador da vida política, poesia, religião,filosofia e situações sociais deveria fazer uso análogo das obras de arte”. No século XVII obras de arte revelavam o estudo da anatomia em função da impossibilidade de dissecar cadáveres (Braga, 2004; p. 53). O Barão de Lagsdorff percorreu o interior do Brasil levando consigo pintores e produzindo um dos mais valiosos acervos sobre a história do país. As expedições científicas do instituto Oswaldo Cruz no início do século XX utilizaram a fotografia para revelar as condições de vida da população no interior do país. Em 1938, Claude Lévi-Strauss, acompanhado pelo fotógrafo Luiz de Castro Faria realizou uma expedição para estudos etnográficos, sendo que o resultado está registrado na obra Tristes Trópicos (Domingues, et al., 1998). O trabalho de conclusão de curso do estudante de Licenciatura em Desenho e Plástica da Universidade Federal de Pernambuco, intitulado "A milenar interação entre o Desenho e a Saúde Pública: a experiência no NUSP" também revela as aproximações entre arte e ciência. As obras de artes visuais revelam aspectos históricos, sociais e culturais na construção do conhecimento em saúde e tem sido pouco exploradas no campo da saúde. A arte é um importante recurso pedagógico para a formação dos profissionais de saúde melhorando as habilidades, o pensamento crítico e a empatia entre os estudantes (JENSEN; CURTIS, 2008). As artes visuais representam a condição do ser humano e possibilitam aos estudantes entrarem em contato com questões do humano de relevância na prática de cuidado em saúde como “doença, limitação, vulnerabilidade, tristeza, luto, a natureza da sociedade humana, a capacidade curativa de rituais e lembranças, morte e corporalidade” (TAPAJÓS, 2002, p.31). Sendo assim, este trabalho evidencia a aproximação entre artes visuais e ciência no processo de formação dos profissionais de saúde por meio da extensão universitária. O projeto de extensão denominado “o desenho, a pintura e a fotografia revelando a saúde na história” foi iniciado em 2007 e tem como objetivos identificar imagens que retratem a aproximação entre a arte e a evolução do conhecimento histórico da saúde; desenvolver a percepção visual, sensibilidade e o senso crítico na observação das imagens; utilizar a arte para despertar o interesse dos estudantes pela história da sua profissão; buscar novas estratégias de ensinar e aprender sobre a evolução histórica da ciência. O projeto é desenvolvido no Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Espírito Santo com apoio da Pró-Reitoria de extensão e conta com acadêmicos de enfermagem professores do curso. Inicialmente é definida uma temática para levantamento e construção de um banco de imagens, utilizando busca em internet e publicações de obras ilustradas. Em seguida realizado um levantamento teórico que dê sustentação para a utilização das imagens. As imagens são digitalizadas e catalogadas e as informações, consolidadas em banners ou apresentações em power point e divulgadas em mostras culturais e eventos científicos. Os temas abordados até então, relacionam-se à história da saúde pública e da enfermagem, evolução história da verificação dos sinais vitais. Os resultados têm sido divulgados em eventos científicos com a participação dos estudantes envolvidos no processo e evidenciam a relevância do recurso visual no processo educativo, pois permite despertar o senso crítico e a observação das imagens, além de ser um recurso pedagógico que pode contribuir com a prática pedagógica participativa e centrada no diálogo, estimulada pela visualização das imagens que retratam questões relacionadas à evolução do conhecimento histórico em saúde. Recomendamos a utilização de imagens artísticas articuladas aos conteúdos trabalhados em sala de aula, para a compreensão da evolução histórica, aproximando arte, ciência e história na formação dos profissionais de saúde.