Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Inclusão digital dos pacientes da saúde mental: do processo afetivo ao processo intelectivo
Rozeli de Fátima Pissaia Gabardo Pereira, Regina Maria Fialkoski Basso, Doraci do Rocio Merchiori Castro, Raquel Julio Mastey

Resumo


CARACTERIZAÇÃO O Hospital Infantil Waldemar Monastier é um hospital estadual, público, 100% SUS, especializado no atendimento de crianças e adolescentes. Localizado em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba, no Paraná, foi inaugurado em 14 de dezembro de 2009. Disponibiliza 141 leitos, sendo 20 de UTI neonatal, 10 pediátricos, 11 de UCI, 50 de pediatria clínica, 4 psiquiátricos, 46 de pediatria cirúrgica e mais Ambulatório de Especialidades, Multidisciplinar e Pronto Socorro. Desde maio de 2011, os pacientes do Hospital Infantil são atendidos pelo SAREH - Serviço de Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar, que é um programa da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (PARANÁ, 2010) e objetiva o atendimento educacional aos estudantes que se encontram impossibilitados de frequentar a escola em virtude de situação de internamento hospitalar. As atividades do SAREH ocorrem com os pacientes do Ensino Fundamental ao Ensino Médio, da Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos, inseridos na escola ou não. A equipe do SAREH é formada por uma pedagoga com 40 horas-aula e três professoras com 20 horas-aula cada: uma professora de Ciências Exatas, uma de Ciências Humanas e uma de Linguagens. O objetivo deste relato é expor as atividades do SAREH, em especial as realizadas com crianças portadoras de transtornos globais do desenvolvimento, de ajustamento, psicóticos e usuários de substâncias psicoativas, como mais uma colaboração à educação formal de crianças internadas. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA A partir do internamento da criança há a necessidade de um contato direto com a equipe de saúde da instituição hospitalar para saber da possibilidade de trabalho educacional com aquele paciente. A equipe do SAREH deve seguir as regras e orientações da equipe de saúde (desde a antisepsia das mãos até a desinfecção dos materiais). O paciente precisa da educação para que possa se desenvolver integralmente, mas que, em casos de stress, dor, ocorrência de procedimentos invasivos, pode não haver possibilidade de um trabalho total e, às vezes, nem parcial da escola do hospital. São realizadas entrevistas com a criança e sua família para fazer um diagnóstico da situação em que o aluno se encontra com relação à sua educação formal, além de perceber as possibilidades psicológicas, emocionais e físicas para que se inicie o trabalho. Essas informações virão do falar – ouvir da criança/família – pedagogo e do poder sentir o que a criança está tentando expressar, diferenciando-se do simplesmente escutar. Todos os dias, no início da tarde, a pedagoga entrega às professoras as fichas com o cadastro de todos os alunos e a escala de atendimento. As aulas realizadas devem colaborar para a inserção e reinserção do aluno nas escolas de modo mais tranquilo e com a possibilidade de acompanhar os conteúdos, bem como minimizar as influências negativas passadas durante o internamento, pois o trabalho pedagógico hospitalar englobará não somente os processos intelectivos, mas também os afetivos que se darão por meio de vivências de interação com os professores do hospital e os docentes e colegas de sua sala de aula. Ao receber alta, a família da criança/adolescente recebe o resultado do trabalho realizado no hospital (Ficha Individual e as atividades realizadas), que será entregue à escola de origem. Os alunos da saúde mental também são atendidos e apresentam, na maioria das vezes, defasagem idade-série e de conteúdos, desmotivação, abandono escolar e, não raro, não têm acesso às tecnologias da informação. O professor sente dificuldades de ensinar tais pacientes, pois é difícil um vínculo afetivo professor/aluno/conhecimento, visto que estão desorganizados mentalmente. A Informática surgiu como uma alternativa de mudança metodológica, sobretudo no que diz respeito à produção do conhecimento de alunos da saúde mental do hospital infantil. Assim, são utilizados 3 computadores, instalados na sala do SAREH, como ferramentas que permitem levar o aluno a um processo de ensino-aprendizagem de qualidade, ajudando, também, na sua reorganização mental. Tais computadores foram doados por uma empresa e a partir daí, o projeto de Inclusão Digital começou a ser elaborado. O trabalho é realizado por meio de POP's (Procedimento Operacional Padrão) em que os alunos são levados de forma organizada e estimulante a apreender os conteúdos escolares. Nestes POP's são priorizadas atividades com jogos, imagens, pesquisas e simulações, conforme permitirem o estado de saúde e a série do aluno. Por meio da Internet, é promovido o contato do paciente com seus colegas, facilitando o não desligamento da escola. Para que ocorra um processo de ensino-aprendizagem de qualidade com os alunos da saúde mental, faz-se necessário que as tecnologias não sejam transformadas apenas em ferramentas de lazer, mas de um sério trabalho de construção de conhecimentos com os alunos hospitalizados. EFEITOS ALCANÇADOS Ao mesmo tempo, por se tratar de uma solução inovadora na esfera hospitalar, pouco utilizada com sujeitos da saúde mental e que produz práticas direcionadas ao seu entorno social, familiar e educacional, a Informática é uma das maneiras de ensinar e aprender que alcança esses sujeitos, melhorando a autoestima e a autonomia do aluno hospitalizado, auxiliando no seu desenvolvimento cognitivo, melhorando a leitura, o raciocínio, a linguagem e as suas atitudes (MORAN, 1997). A observação e a realização das atividades ofertadas durante o processo de ensino-aprendizagem são meios para se detectar se houve aprendizagem e se o projeto está beneficiando os sujeitos nele inseridos. Observa-se o aluno quanto à motivação e ao interesse pelas aulas em que se mostra curioso, tem vontade de aprender e procura desenvolver o projeto com satisfação. Ao realizar as atividades, o professor avalia os acertos e percebe os erros como fator essencial de uma retomada de conteúdos por meio de novas atividades. Desta forma, pretende-se desenvolver o interesse do aluno/paciente da saúde mental pelo conhecimento, por meio da inclusão digital. Em conversas com pais de alunos ouvimos: “Foi ótimo meu filho aprender dessa forma diferente”; “Que bom que ele conheceu o computador”; “Tô muito feliz. Ela se desenvolveu muito. Nunca vi minha filha ler, eu é que sempre lia para ela e na historinha do computador ela leu. Ela não via a hora das professoras chegarem”. RECOMENDAÇÕES O computador deve ser visto como uma ferramenta que precisa ser utilizada com cautela, com objetivos claros e aulas bem planejadas, conforme os conteúdos a serem estudados. Caso contrário, passa a ser um meio que privilegiará apenas o lazer. O educador deve estar atento aos aplicativos que utiliza, pois precisam estar adequados aos objetivos da aula e à idade/série do aluno. A interação aluno/máquina/web não depende somente do bom funcionamento do computador e do programa, mas do conhecimento de informática do professor, bem como do teste antecipado dos jogos, simulações e outros aplicativos que serão utilizados.