Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM SOBRE A PARTICIPAÇÃO NO PROJETO DE EXTENSÃO “ACOLHER EM SAÚDE: POSSO AJUDAR?”, NO HOSPITAL ROBERTO ARNIZAUT SILVARES, SÃO MATEUS/ES.
Raone Silva Sacramento, Susana Bubach, Franco Luis Campos Farias, Millena Alves Batista, Raisa da Silveira Coimbra, Renata Queiroz Batista

Resumo


Ao longo dos anos, os serviços de saúde no Brasil tem passado por diversas mudanças que objetivaram a reestruturação e reorganização destes serviços para melhor otimização dos processos de atenção e gestão no Sistema Único de Saúde (SUS). Partindo deste ponto, os serviços de urgência e emergência se destacam como os serviços em saúde que tem passado pela maioria destas transformações, por constituírem a porta de entrada dos usuários no SUS. Fato que se reflete na sobrecarga de atendimento, assistência fragmentada e voltada exclusivamente para o biológico; superlotação das instituições e insatisfação dos usuários quanto ao atendimento prestado. Neste contexto, a Humanização nos serviços de saúde (em especial nos de urgência e emergência) torna-se algo imprescindível a ser alcançado; vislumbrando maior interação entre profissionais e usuários, participação social nos processos de gestão e atenção em saúde e valorização dos sujeitos. Partindo dessa perspectiva, a Política Nacional de Humanização (PNH), lançada em 2003, torna-se importante instrumento na readequação da assistência em saúde, objetivando a autonomia dos sujeitos nas práticas de atenção e gestão e o compromisso de todos na promoção do bem comum (BRASIL, 2009). Diante disso, o desenvolvimento de iniciativas que promovam a Humanização como política comprometida com a vida, torna-se indispensável para o favorecimento de novas conformações nas práticas assistenciais, visando desta forma o acolhimento de todos aqueles que recorrem aos serviços de saúde, através da prestação de uma assistência integral, resolutiva e corresponsável. Baseado nisso, em agosto de 2009, foi implantado no Hospital Estadual Roberto Arnizaut Silvares (HRAS) o projeto de extensão Acolher em Saúde: “Posso Ajudar?”, parceria do hospital com o Centro Universitário do Norte do Espírito Santo (CEUNES), visando promover a Humanização e acolher todos aqueles que recorrem aos serviços prestados por essa instituição hospitalar, referência em urgência e emergência para o norte do Espírito Santo. O projeto é desenvolvido por acadêmicos de Enfermagem do CEUNES, no qual desenvolvem uma abordagem diferenciada junto aos usuários e funcionários, favorecendo dessa forma novas conformações na assistência prestada pelo hospital. Esse estudo visa identificar a contribuição do projeto na formação dos futuros enfermeiros. O trabalho possui caráter descritivo, do tipo relato de experiência, foi realizado no período de novembro de 2009 a junho de 2011 e os dados foram obtidos através dos encontros avaliativos do grupo de acadêmicos que desenvolve o projeto. Desde a sua implantação no HRAS, o projeto tem desenvolvido um trabalho voltado para a prestação de atenção humanizada, possibilitando novos arranjos na assistência e gestão na instituição. De acordo com Hennington (2005), as práticas dos programas de extensão justificam-se por colocarem o aluno em contato direto com o mundo real. Com isso, o projeto possibilita aos acadêmicos maior nitidez do processo de trabalho no HRAS, e noção das situações aos quais terão que enfrentar como futuros enfermeiros e aplicação dos conhecimentos adquiridos em sala de aula em situações do cotidiano, sendo fator determinante nos modos de operar as ações de Humanização na instituição, como se pode observar nas falas dos acadêmicos: “O projeto teve uma importante influência em minha vida acadêmica, pois através dele temos um contato direto com a população, pacientes e pessoas envolvidas que as demais atividades desenvolvidas pela universidade não nos proporciona, podendo assim por em prática tudo o que desenvolvemos dentro de sala de aula e colocando em prática o devido acolhimento para as pessoas que vem procurar o serviço de saúde” (A.1). “[…] o projeto também possibilitou uma melhor compreensão do fluxograma da unidade hospitalar e da rede de saúde, e das funções de cada profissional da instituição. Sendo muito importante para a futura vida profissional, pois podemos acompanhar de perto as atividades dos profissionais de enfermagem, e essa convivência nos possibilita ter certeza sobre qual profissão que queremos seguir, além de possibilitar maior segurança nos estágios” (A.2). “O projeto para mim me ajudou a ter certeza do que eu queria, se realmente enfermagem era para mim, e graças ao projeto eu tive a certeza de quero ser uma enfermeira” (A.3). O projeto propicia novas formas de atender em saúde, pois designa uma postura acolhedora, corresponsável e comprometida com o indivíduo. Neste sentido, há uma troca de informações e de afetos entre acadêmico/usuário, o que favorece maior satisfação dos usuários quanto ao atendimento recebido e dos acadêmicos que tem seu trabalho reconhecido. “Esse trabalho realmente está sendo muito bom para mim, a cada dia que vou trabalhar aprendo mais, e o que me motiva mais a continuar é o reconhecimento que as pessoas atendidas tem por nós do projeto e pelo carinho que algumas demonstram conosco” (A.4). “[...] as pessoas sentem-se tão gratas por estarmos ajudando elas, seja dando uma informação ou auxiliando elas em algum momento. Isso faz com que elas se sintam acolhidas e nós cada vez mais motivados” (A.5). Além de proverem mudanças nas dependências do HRAS, os acadêmicos constituem-se como agentes de contínua transformação, incorporando aos seus hábitos e conhecimento novas formas de cuidado e de atenção, como também valores, saberes e informações que auxiliam na construção de sua identidade profissional e social; permitindo aos mesmos maior sensibilização e percepção das questões a cerca das necessidades dos usuários, através de uma prática de atenção integral e corresponsável; isto pode ser verificado em: “A atuação no projeto desenvolve em nós acadêmicos valores muito importantes para a profissão, como o saber ouvir, a paciência, a empatia, além de criar a sensibilidade de percepção das necessidades do usuário do sistema de saúde” (A.6). “Este contanto direto que temos com os usuários nos possibilita termos a real noção do quanto um atendimento integral e acolhedor, é importante e essencial para entendermos os indivíduos em toda a sua dimensão” (A.5). Portanto, o projeto além de se posicionar como dispositivo de transformação do processo de trabalho do HRAS torna-se para os acadêmicos referência, em um trabalho extensionista que possibilita aos seus integrantes, vivências interdisciplinares e aquisição de saberes; potencializando dessa forma a relação serviço-ensino (BUBACH, 2008). Contudo, trabalhar a Humanização pressupõe trabalho em rede, focado na ética e comprometido com os sujeitos, que se proponha a potencializar a vida e as relações humanas. Assim, é possível identificar o projeto como importante instrumento de aprendizagem dos acadêmicos, fora da sala de aula, permitindo maior domínio nos modos de operar a assistência em saúde, baseando-se nos pressupostos constitucionais de universalidade, integralidade e equidade (HENNINGTON, 2005).