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A integração do ensino com os serviços de atenção básica contribui de maneira contundente para a formação de profissionais de saúde que produzam a reorientação do modelo assistencial em conformidade com os princípios do SUS. A articulação entre o academicismo e o cotidiano dos serviços da atenção básica, com vistas e educaçao permanente em saúde, promove nos envolvidos a atualização profissional e formação de capacidade crítica, facilitando a identificação de problemas e a elaboração de estratégias para a resolução dos mesmos. A rotina acadêmica desconsiderando a interação com a realidade do modo de vida dos pacientes, produz no futuro profissional de saúde um contexto à parte, construído e reproduzido nas enfermarias e nas salas de aula, no qual não cabem muitas das contradições existentes na vida “extra-universidade”.O modelo de ensino vigente pode, assim, gerar a equívoca visão de que o hospital seja a sede dos melhores recursos disponíveis da ciência para o cuidado dos sujeitos. Entretanto o mesmo pode ser reduzido, muitas vezes, a objeto mecânico e passivo para ensino e aprendizagem de alunos que neles não reconhecem os modos de ser, os hábitos de vida de seus futuros pacientes. A educação que se pretende, valoriza a aprendizagem significativa, que promove e produz sentidos, e sugere que as transformações das práticas profissionais devam estar voltadas para a reflexão crítica com vistas a interdisciplinaridade e a integralidade do processo de cuidar. (Brasília, 2004). O Programa de Educação pelo Trabalho em Saúde (PET- saúde), configura-se como uma das ações intersetoriais direcionadas ao fortalecimento da atenção básica em saúde, de acordo com os princípios e necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Este Programa, considera a educação como uma ferramenta de gestão, um instrumento de transformação em prática de saúde e em todas suas etapas de execução prioriza a integralidade, a interdisciplinaridade e a formação de múltiplas competências. Contribui, assim, para a formação profissional diferenciada, através da aprendizagem de natureza coletiva e interdisciplinar, enriquecendo a vivência universitária para muito além do didatismo descontextualizado. O presente trabalho objetiva relatar a experiência de alunos bolsistas de diferentes cursos da área da saúde da Universidade Federal Fluminense que através do Projeto de Educação pelo Trabalho em Saúde (PET- saúde) puderam aliar educação, pesquisa, trabalho e promoção em saúde visando melhorias na oferta do cuidado. A população do estudo foi constituída de Hipertensos e Diabéticos do território denominado Coronel Leôncio em Niterói-RJ e cadastrados no Hiperdia da Policlínica Regional da Engenhoca (PRE). A prevalência dos agravos crônicos não transmissíveis entre adultos e idosos, somado à fragilidade na assistência do serviço de atenção básica de saúde na localidade, motivou a intervenção do grupo PET-saúde neste cenário. As atividades aconteceram durante o ano de 2011. As etapas iniciais compreenderam o reconhecimento do território, levantamento das necessidades de saúde da população selecionada e criação de vínculo com a comunidade. A estratégia eleita para o desenvolvimento do trabalho foi a elaboração e aplicação de um questionário que identifica o perfil sócio-demográfico-ambiental, condições de saúde e fatores de risco associados aos agravos desta população. Os resultados apontaram prevalência dos hipertensos e diabéticos com cobertura de saúde deficiente, sujeitos a riscos de agravamento de seu quadro de saúde e necessidade da ampliação da oferta dos serviços da PRE.A participação ativa e interdisciplinar dos bolsistas no planejamento, execução e análise do projeto, com o constante apoio pedagógico e educacional de preceptores e tutor, resultou na construção de um novo olhar sobre o conceito de saúde e promoção de saúde. A vivência tão próxima com cotidianos de grandes ausências solidificou o entendimento da urgente necessidade de formação de indivíduos sensíveis a esta realidade e, também, detentores de conhecimentos e autonomia profissional para que possam reinventar os modos de cuidado, tornando-os mais humanizados e eficientes. As limitações do sistema de saúde vigente foram observadas não somente pela declaração do sentimento de desacreditação e abandono por parte dos usuários, mas também pela constatação de uma grande demanda de indivíduos com tratamento médico irregular ou sem tratamento, com longos períodos sem acesso médico. A equipe do PET- saúde, na etapa da intervenção, objetivou dentro de suas possibilidades de ação, minimizar esta realidade. Houve intervenção da equipe, com enfoque multidisciplinar, na prevenção das doenças e promoção de qualidade de vida. Através de medidas educativas tanto individualmente nos domicílios, quanto através de reuniões coletivas, o grupo abordou temas como a prevenção e controle das doenças crônicas (em especial hipertensão arterial e diabetes, dada a prevalência), dengue, campanhas de vacinação, saúde do idoso, encaminhamentos para consultas e atualização do cadastro do Hiperdia da PRE. A inserção na comunidade tornando-a co-partícipe do processo foi fator determinante para a elaboração das atitudes educativas direcionadas para o contexto social da comunidade. É fundamental ter sensibilidade para perceber que modos de atuação (quais práticas educativas) poderão representar eficácia e obterão impacto real e positivo junto a determinada população.O trabalho em equipe multidisciplinar, foi especialmente agregador na medida em que o diagnóstico das necessidades da comunidade foi identificada sobre diferentes percepções e o sucesso do trabalho multiprofissional promoveu em todos envolvidos o respeito e a valorização dos saberes distintos. Conclui-se que esta experiência construiu e possibilitou o trabalho em equipe multiprofissional, consolidando um fazer interdisciplinar na produção do cuidado diferenciado em saúde. A proximidade com o usuário permitiu a constatação que, para promover a qualidade de vida dos sujeitos, é importante que se conheça com propriedade o contexto no qual estes vivem e produzem relações sociais, suas condições de vida, trabalho, renda, habitação e cultura. A experiência do PET-saúde foi compreendida por todos os participantes como espaço significativo de aprendizagem e de integração ensino-serviço na medida em que possibilitou um entendimento ampliado sobre o conceito de saúde, onde se considera os aspectos psicológicos, ambientais, históricos, econômicos e sociais que envolvem o processo saúde-doença e a necessidade de compromisso de escuta atenta, sensível e cuidadosa dos indivíduos, que considere a multiplicidade e subjetividade dos fatores que determinam o processo saúde-doença. Todas as etapas deste trabalho agregaram importantes valores para todos os participantes, tornando o processo educativo para além de ser uma ciência biomédica, mas uma ciência da vida. 1. Brasil. Ministério da Educação. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde – Pró-Saúde. Brasília; 2007. 2. Brasil. Portaria Interministerial nº 3.019, de 26 de novembro de 2007. Dispõe sobre o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde – Pró-Saúde para os cursos de graduação da área da saúde. Brasília; 2007. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Política de Educação e Desenvolvimento para o SUS Caminhos para a Educação Permanente em Saúde – Polos de educação permanente em saúde. Brasília; 2004