Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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VISITA DOMICILIAR: PERCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS DO CAPS NO MUNICÍPIO DE URUGUAIANA-RS
Marivana de Mattos Fernandes, Maria de Lourdes Custódio Duarte

Resumo


INTRODUÇÃO: Nos últimos anos uma série de transformações ocorreu na área de saúde mental, a partir de movimentos sociais que reivindicavam melhorias de condições de tratamento aos usuários em sofrimento mental. Esses movimentos realizados por gestores, profissionais, familiares e usuários alavancaram mudanças na legislação da área resultando na chamada Reforma Psiquiátrica. O modelo asilar, anterior a reforma psiquiátrica, tinha os manicômios como o único espaço de tratamento que visavam à institucionalização do sujeito em sofrimento mental. No entanto, o modelo psicossocial, preconizado pela Reforma Psiquiátrica, tem como pressuposto a desinstitucionalização e a criação de uma rede de serviços de saúde mental baseados no território no qual é composto por uma série de serviços que compõem a rede de saúde mental, tais como: Hospital Geral, Estratégia da Saúde da Família (ESF), Pronto Socorro, Unidades Básicas de Saúde (UBS), Residenciais Terapêuticos, e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) (BRASIL, 2011). Os serviços preconizados pela Reforma psiquiátrica e respaldados por leis e portarias, visam a reabilitação psicossocial e a reinserção social do indivíduo mediante projetos terapêuticos individuais, realizados por uma equipe multiprofissional. Esse novo enfoque difere do modelo tradicional centrado nos sinais e sintomas, na medicalização da loucura e na exclusão social (DUARTE, 2007). Nesse contexto, destacam-se os CAPS como dispositivos de estratégia da rede de saúde mental. Assim, a portaria nº 224, de Janeiro de 1992, definiu os Centros de Atenção Psicossocial como unidades locais/regionalizadas, que contam com uma população que é definida pelo nível de local e oferecem atendimento de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar no próprio território (BRASIL, 2011). Os CAPS oferecem vários recursos terapêuticos para o atendimento das pessoas em sofrimento mental, como: atendimento individual e em grupo, atendimento para a família, atividades comunitárias, assembleias ou reuniões de organização do serviço, orientação e acompanhamento do uso de medicação e visita domiciliar (BRASIL, 2004). Logo, a visita domiciliar (VD) como instrumento de trabalho passou a ser desenvolvida nos CAPS a partir da reforma psiquiátrica, visto que, a VD é uma das propostas de atenção domiciliar e de reinserção social das pessoas em sofrimento mental no campo da atenção à saúde em nosso país (SANTOS, KIRSCHBAUM; 2008). Na década de 20 a VD ganhou destaque no Brasil, pois foi incorporada aos serviços sanitários, voltados quase que exclusivamente para a eliminação das grandes epidemias de doenças infecto-contagiosas. Pelo modelo assistencial em saúde na década de 90, a VD tem espaço decisivo no cenário atual, com a implementação de programas voltados ao atendimento no domicílio (SANTOS, KIRSCHBAUM; 2008). Para Reinaldo e Rocha (2002) a VD é um instrumento facilitador na abordagem aos usuários no seu contexto sócio-cultural. Pode ser definida como um conjunto de ações voltadas para o atendimento tanto educativo como assistencial. Ela esteve presente no contexto histórico brasileiro e assumiu características diferentes de acordo com os distintos cenários sociais, políticos e ideológicos pelos quais perpassou (SANTOS, KIRSCHBAUM; 2008). No contexto da Saúde Mental, as Visitas Domiciliares são utilizadas como meio para acompanhamento dos pacientes atendidos no CAPS Asas da Liberdade em Uruguaiana. A VD possibilita manter o paciente afastado da internação psiquiátrica e aparece como um cuidado da equipe, a qual preconiza o acolhimento e a troca de experiências, pois a casa do paciente fornece pistas e dados para que haja algum nexo entre a doença e o social; esse dispositivo de cuidado pode ser uma boa perspectiva para que a equipe preste o cuidado humano, criativo, sensível e longe da internação hospitalar (OLIVEIRA, LOYOLA; 2006). Assim, a motivação para a realização desse estudo advém das vivências da pesquisadora como bolsista do Programa de Educação Tutorial[1] – Pet Saúde Mental, ao participar das Visitas Domiciliares realizadas pelos profissionais do CAPS de Uruguaiana, Asas da Liberdade, durante o ano de 2011. Entende-se que as VDs realizadas aos sujeitos com sofrimento mental, proporcionam um cuidado que vai além do espaço do referido serviço. OBJETIVOS: Analisar as percepções dos profissionais do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Asas da Liberdade sobre as Visitas Domiciliares (VDs) realizadas aos usuários em sofrimento mental no munícipio de Uruguaiana-RS. Específicos: Identificar as principais dificuldades enfrentadas pelos profissionais do CAPS para a realização das VDs; Conhecer as potencialidades das VDs enquanto estratégia de cuidado na percepção da equipe do CAPS. MÉTODO Este estudo tem caráter exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos a operacionalização de variáveis. Portanto, a abordagem qualitativa se aprofunda no mundo dos significados e por isso não pode ser medida, pois a realidade não é visível, precisa ser exposta e interpretada (MINAYO, 2010). RESULTADOS E REPERCUSSÕES ESPERADOS: Proporcionar reflexões sobre a Visita Domiciliar no CAPS Asas da Liberdade do município de Uruguaiana; Conhecimento sobre as VDs realizadas pelos profissionais do CAPS de Uruguaiana aos sujeitos em sofrimento mental; Contribuições para gestores da saúde mental do município de Uruguaiana na formulação do entendimento das VDs enquanto um dispositivo de cuidado. CONCLUSÕES: Acredita-se que nesse estudo as VDs são estratégias de cuidado dos CAPS na perspectiva da atenção psicossocial preconizada pela Reforma psiquiátrica. Nesse sentido questiona-se: quais as percepções dos profissionais sobre as visitas domiciliares realizadas no CAPS de Uruguaiana? De tal modo, enfatiza-se a relevância desse estudo, tendo em vista que a VD insere-se no contexto de Uruguaiana como uma estratégia de cuidado do CAPS, e que precisa ser consolidada e até mesmo valorizada no serviço. Dessa forma, visualiza-se ser de extrema importância ter o conhecimento sobre as percepções das VDs pelos profissionais do CAPS de Uruguaiana, os quais realizam esse atendimento no domicílio do usuário. A experiência de cuidar no domicílio através das VDs pode ser entendida de diferentes formas pelos profissionais que realizam, podendo fazer desse dispositivo uma simples atividade ou potencializa-la em um recurso estratégico de cuidado no âmbito dos serviços substitutivos de saúde mental. BRASIL. Ministério da saúde. Departamento de Ações Programáticas estratégicas. Saúde Mental no SUS: os centros de atenção psicossocial. Brasília (DF); 2004.BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Mental no SUS: as novas fronteiras da Reforma Psiquiátrica. Relatório de Gestão 2007-2010. Brasília, 2011. 106 p.DUARTE, MLC. Avaliação da atenção aos familiares num centro de atenção psicossocial: uma abordagem qualitativa.Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem, 2007. 173 f.DUARTE, MLC; NORO, A. Humanização: uma leitura a partir da compreensão dos profissionais da enfermagem. Rev Gaúcha Enferm, v. 31, n. 4, p. 685-92, 2010.MINAYO, MCS. O desafio do conhecimento: abordagem qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 2010. 12 ed.OLIVEIRA, RM; LOYOLA, CMD. Pintando novos caminhos: a visita domiciliar em Saúde Mental como dispositivo de cuidado de enfermagem. Esc. Anna Nery Rev. Enferm., v, 10, n. 4, p. 645-51, 2006. SANTOS, EM; KIRSCHBAUM, DIR. A trajetória histórica da visita domiciliária no Brasil: uma revisão bibliográfica. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 10, n. 1; p. 220-227, 2008.