Tamanho da fonte:
Vivências e experiências na Oficina Terapêutica do Corpo no CAPS de Uruguaiana- RS
Resumo
Caracterização do problema: o usuário da saúde mental necessita de atividades ocupacionais que lhe garantam o desenvolvimento de suas habilidades, potencialidades e os cuidados com seu corpo e sua saúde. A atividade com o corpo se torna um benefício para a saúde, melhora na qualidade de vida, evita doenças, melhora o sono e traz alegria e bem estar físico e mental. Com todos esses benefícios, o fator sobrepeso, sedentarismo e desmotivação unem-se aos resultados de uma oficina com atividades diversas. Segundo ROEDER (1999), a atividade física regular gera bem estar psicológico, aumenta a resistência do individuo frente ao estresse psicossocial, melhora do bem-estar, da auto-estima, da saúde e evitando o aparecimento de certas doenças. Os sentimentos pós atividade física são duradouros e ajudam a reduzir a depressão. Vários estudos afirmam que o exercício físico tem o poder de reduzir e muito a depressão e ansiedade. Para LIBERATO e DIMENSTEIN (2009), entende-se que cada corpo possui seus limites e que, no entanto, abarcam um infinito de possibilidades. Descrição da experiência: este relato de experiência trata-se de uma vivência das acadêmicas em uma oficina no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) “Asas da Liberdade” no município de Uruguaiana- RS. As acadêmicas são bolsistas do Programa de Educação Tutorial (PET)- Saúde/ Saúde Mental do Ministério da Saúde. Segundo LAPPANN-BOTTI e LABATI (2004) na proposta atual da Reforma Psiquiátrica, a intenção é desinstitucionalizar e incluir os mesmos portadores de sofrimento mental nos diferentes espaços sociais. As oficinas terapêuticas, como dispositivos da atual Política Nacional de Saúde Mental, objetivam diferenciar-se das práticas antecessoras decorrentes da idéia de estabelecer o trabalho como um recurso do paradigma asilar. A oficina chama-se Oficina Terapêutica do Corpo, onde são desenvolvidos temas sobre: dança, caminhadas, exercícios físicos e atividades de recreação. Esta oficina é realizada duas vezes por semana, por uma Educadora Física. Foram realizadas observações e vivências nesta oficina. Na parte da dança, nossa vivência se caracterizou em ajudar e participar com os usuários. Dançamos com eles e auxiliamos nos passos difíceis. Os ritmos eram bem variados, desde gaúcho, sertanejo, marchinhas e pop. A grande maioria dos usuários tinha vergonha para dançar e tirar as pessoas para o mesmo. Com o tempo, os usuários foram perdendo a “vergonha” que possuíam e ficaram mais entrosados e alegres na oficina onde ensaiavam coreografias para apresentações na cidade e região. Nas caminhadas, interagimos com eles, auxiliando nos alongamentos e orientando-os para a prática correta. As caminhadas acontecem pela parte da manhã em um parque da cidade. Efeitos alcançados: observamos que alguns usuários participantes desse grupo conseguiram vencer os seus limites, como por exemplo, a timidez em dançar onde notou-se a união do grupo e o companheirismo entre eles. Neste contexto a dança se revela muito importante como meio de diálogo, reflexão e uma alternativa para enfatizar o respeito por si próprio e pelas outras pessoas, trazer conhecimentos e reafirmações de concepções e princípios, na busca da construção significativa de uma melhor saúde mental aos usuários ¹. Nas caminhadas percebeu-se que integrantes estão mais adeptos a realizar a mesma e conseguem realizar com maior disposição. Isto reflete na independência obtida nas dificuldades diárias bem como, uma maior disposição e saúde para encarar o dia-a-dia. Contribuindo para os benefícios já adquiridos, como por exemplo, melhora da saúde e qualidade de vida. A influência da atividade física e o cuidado com a saúde refletem nos familiares dos usuários. Os familiares são incentivados pelos usuários a cuidar da saúde e realizar mais atividades físicas, bem como ir a bailes no final de semana e se divertir. O equilíbrio parece ser o melhor caminho para a saúde mental em busca de uma vida com melhor qualidade e a atividade física é um meio eficaz e natural para alcançar esse estado de equilíbrio. ³ Logo no inicio quando começamos a realizar exercícios físicos percebeu-se que alguns usuários enfrentavam dificuldades para alongar-se-á, então começamos a insistir que os mesmos deveriam continuar a realizar e hoje já apresentam uma melhora onde conseguem se agachar e a realizar as atividades com maior desempenho. Recomendações: salientamos que no decorrer do período que acompanhamos esta oficina, entendemos que a dança e as outras atividades realizadas possibilitam aos usuários uma melhora na qualidade de vida, no qual eles interagem entre si e isto possibilita uma melhor socialização do usuário com o meio em que vive. Segundo LAPPANN-BOTTI e LABATI (2004) as oficinas podem ser encaradas como espaços terapêuticos a partir do momento em que possibilitem aos sujeitos que nelas participam um lugar de fala, expressão e acolhimento e as oficinas em Saúde Mental são espaços de possibilidade da continência do indivíduo durante a crise, onde se reconhece inclusive a implicação familiar e social. A utilização de oficinas terapêuticas torna-se uma ferramenta potencializadora para o tratamento dos usuários; a prática de atividade física e dança resulta no aumento da qualidade de vida, promove interação entre os usuários, melhora a auto estima e a autoconsciência corporal, além de, facilitar e estimular a integração social, bem como desenvolver as capacidades cognitivas e a memória. Esse tipo de intervenção proporciona entre as pessoas sentimentos de confiança, igualdade, apoio mútuo, proporcionando que cada indivíduo possa perceber e reconhecer sua importância no tempo e espaço da sociedade ². Desejamos acompanhar durante mais um ano esta oficina e que ela permaneça no CAPS. E, ao longo do tempo, desenvolver novos ritmos e novas experiências aos usuários. Concluímos que essa oficina vem a acrescentar uma melhora na vida dos usuários e seus familiares, livrando-os, mesmo que temporariamente, dos problemas e preconceitos que enfrentam com a doença mental.