Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Experiência dos Articuladores da Atenção Básica como apoiadores institucionais da Secretaria da Saúde do município de Guarulhos
Paulo Alexandre de Moraes, Eda Lúcia Ramos Paulino, Roseli Morais Fracaro, Denilson Takehiko Toguchi, Carla Matilde Claro, Ângela Maria Simões Barbosa, Magda Carvalho de Oliveira, Reinaldo Trindade, Renata Ângelo Martello, Tânia Valéria de Oliveira G. Praxedes, Eneida da Silva Bernardo, Olivia Lucena Medeiros

Resumo


Caracterização do problema As Unidades Básicas de Saúde (UBS) encontravam-se com processos de trabalho não sistematizados, desconhecimento por parte de alguns profissionais dos protocolos clínicos vigentes. Além disso, os sistemas de informação eram desvalorizados e não refletiam a realidade, havia incompreensão por parte dos funcionários a respeito das decisões vindas da Secretaria de Saúde e que se refletiam na insatisfação deste em relação a sua atuação, também devido a falta espaço para discussões técnicas. Por outro lado a Secretaria possui dificuldade em manter um cronograma anual e apresenta processos e decisões fragmentadas que prejudicam o andamento da rotina da UBS. Descrição da experiência Houve processo seletivo interno entre os profissionais de saúde da Secretaria composto que incluía capacitação para Articulador da Atenção Básica. Todas as Unidades Básicas de Saúde com Estratégia de Saúde da Família tem seu articulador da Atenção Básica. São 41 UBS e 122 equipes. Cada articulador é responsável por 3 a 5 UBS e 9 a 15 ESF, com a preocupação de direcionar o articulador a uma Região de Saúde diferente de sua origem. A agenda é configurada de modo que o articulador esteja com cada equipe ao menos uma vez por mês e que todos fiquem na Secretaria de Saúde semanalmente em dia fixo. O trabalho de cada um é alinhado pela aplicação de instrumentos desenvolvidos pela Coordenação da Atenção Básica e baseados em documentos da Secretaria do Estado de Minas Gerais. Aplicação do Instrumento 1 O primeiro instrumento foi o Roteiro de Verificação dos Princípios da Atenção Básica à Saúde. A intenção foi fazer um reconhecimento sistematizado da UBS, pois o principal objetivo era obter a percepção da realidade local considerando sua população, território, instalações, equipamentos, recursos humanos e processos de trabalho. Foram utilizadas matrizes de análise contemplando os princípios da Atenção Primária em Saúde (APS), sendo que cada princípio continha um rol de itens para verificação que recebiam pontuação e justificativas. Ao final de cada matriz continha espaço para análise contemplando as percepções do articulador. Os princípios e suas respectivas quantidades de itens foram: Primeiro Contato (10 itens), Longitudinalidade (8 itens), Integralidade (11 itens), Coordenação (11 itens), Centralização na Família (8 itens), Orientação Comunitária (6 itens). Nesta primeira fase foi constituída de momentos de observação do território e da dinâmica da unidade, análise de documentos (prontuários, planilhas, cartões, sistemas de informação) e entrevistas realizadas com a comunidade local e profissionais sem interferir nos processos estabelecidos.Concluída esta fase foi realizada devolutiva às Regiões de Saúde e gerentes das unidades, onde cada Articulador apresentou sua análise e pontuações por princípio. Em seguida o mesmo movimento foi feito junto às equipes com apoio do gerente. Aplicação do Instrumento 2Na segunda fase, foi aplicado o segundo instrumento de análise, denominado Roteiro de Verificação por Ciclo de Vida por Equipe da Saúde Família, que avalia quadro de recursos humanos, população adscrita por área e os seguintes itens para análise: Interação com o Território (15 itens), Criança [de 0 a 10 anos] (23 itens), Adolescente [de 10 a 19 anos] (25 itens), Saúde da Mulher (31 itens), Saúde do Adulto (45 itens), Saúde do Idoso (16 itens), Vigilância Epidemiológica (10 itens), Práticas Intersetoriais de Promoção (6 itens), Saúde Ambiental (5 itens), NASF (6 itens), Controle Social e Participação Popular (7 itens), Planejamento da Unidade (4 itens).O instrumento 2 é aplicado com cada equipe e está em andamento. Cada item de verificação é discutido e analisado através de documentos (leitura de prontuários, Sistemas de Informação, fichas do SIAB) e a própria equipe é quem traz as soluções a serem instituídas. Os encontros são acompanhados de embasamento teórico. Os textos foram elaborados pela Coordenação da Atenção Básica e contém os aspectos mais importantes de cada área ou ciclo em questão bem como informações epidemiológicas do município.Além disso, os Articuladores apóiam as equipes realizando discussões técnicas abordando conceitos vigentes em protocolos municipais, estaduais e ministeriais. Há também discussões sobre parâmetros propostos em portarias ministeriais e os diversos programas instituídos pelo Ministério da Saúde.Terminada a reflexão, a própria equipe traz as soluções a serem instituídas. As atividades pensadas são registradas num plano de ação a fim de distribuir as tarefas e monitorar o processo de implantação das intervenções. Para cada atividade a equipe deve responder as seguintes perguntas: o que, quem, onde, quando, por que e como.O conteúdo de cada encontro, bem como profissionais presentes e encaminhamentos definidos são registrados no relatório diário do articulador que é assinado por cada gerente. Efeitos alcançados A abordagem sistematizada por um instrumento organiza o processo de trabalho do próprio articulador e diminui as diferenças de olhar de onze pessoas diferentes. Isto confere credibilidade ao trabalho desenvolvido resultando em maior adesão das equipes às ações propostas. A presença do articulador nas UBS aproxima os trabalhadores dos instrumentos de gestão e aumenta a compreensão destes sobre a magnitude de suas ações. O exercício da reflexão dos itens de verificação dos instrumentos permitiu mudanças no cotidiano, como por exemplo, a revisão do preenchimento da fichas de acompanhamento do SIAB, reconhecimento do perfil epidemiológico da população com maior dificuldade em acessar os serviços de saúde. O articulador obtém uma maior aceitação das equipes a partir da transversalidade de sua atuação viabilizando maior compreensão dos gestores, regional e central, em relação às fragilidades do trabalho executado na unidade. Recomendações Algumas definições são primordiais para que o trabalho do Articulador cause impacto nas UBS. No que diz respeito à estrutura: planejamento prévio de suas atribuições e rotinas (agenda); monitoramento, análise e avaliação periódica e sistemática da atuação dos articuladores; tempo para trocas de experiências entre articuladores e diálogo com gestores com uma frequência que mantenha a dinamicidade do trabalho desenvolvido (no caso, semanal); apoio de gestores dos diversos níveis para as situações e propostas levantadas; estímulo à educação permanente e participação em fóruns, seminários, congressos. No que diz respeito ao profissional articulador: análise de perfil; proatividade; habilidades interpessoais; autopercepção das limitações de cada articulador; inexistência de vínculo anterior com a equipe apoiada; trabalho conjunto com cada equipe; disposição para discussão dos processos de trabalho em detrimento de produtividade; disposição para resolução de conflitos e gestão de interesses.