Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A interdisciplinariedade na Promoção de Saúde: uma realidade possível?
Marcia Augusta Pereira dos Santos

Resumo


Caracterização do problema: Trata-se de um estudo quali-quantitativo, tipo relato de experiência, realizado na Clínica de Saúde da Família Zilda Arns, localizada no Complexo do Alemão, cidade do Rio de Janeiro, Brasil. A Clínica de Saúde da Família é responsável pelo acompanhamento de diversas comunidades, recém pacificadas, dos bairros de Ramos e Bonsucesso, na zona Norte do Município do Rio de Janeiro. O presente estudo foi realizado no período de estágio curricular no internato em Saúde da Família, através de uma parceria institucional entre a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro e a faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Descrição da Experiência: Entre as ações específicas da Política Nacional de Promoção à Saúde está o estímulo à prática de atividade física, através de sua inserção nos serviços de atenção básica e na Estratégia de Saúde da Família, além de mapeamento e apoio aos programas já existentes. Ressalta-se a importância de atividades como caminhadas, prescrição de exercícios, práticas lúdicas, esportivas e de lazer, na rede básica de saúde, direcionadas não apenas a grupos vulneráveis, mas à comunidade como um todo. Firma-se o compromisso de constituir mecanismos de sustentabilidade e continuidade dessas ações como área física adequada e equipamentos, equipe capacitada, articulação com a rede de atenção; e de incentivar articulações intersetoriais para a melhoria das condições dos espaços públicos para a realização de atividades físicas. Enfatiza-se a organização dos serviços de saúde de forma a desenvolver ações de aconselhamento e campanhas de divulgação, estimulando modos de viver saudáveis e objetivando reduzir fatores de risco para doenças não transmissíveis. Através da Academia Carioca, na Clínica de Saúde da Família Zilda Arns, ocorre um programa de exercícios físicos coordenados por professores de educação física, em convênio com a Secretaria Municipal de Saúde, voltado aos usuários do SUS. Uma amostra de setenta participantes, dentre os setecentos e treze usuários da Academia Carioca foi avaliada, neste estudo. Os participantes foram selecionados aleatoriamente, durante os dois turnos de funcionamento das atividades da Academia, manhã e tarde, em diferentes dias da semana, durante o período de duas semanas. Os usuários foram entrevistados durante a prática dos exercícios ou nos intervalos, enquanto repousavam e também antes do início ou ao término das atividades. Foram registrados dados gerais de idade, sexo, tempo de realização dos exercícios e, se a prática de exercícios físicos foi recomendada pelo médico ou se foi um desejo espontâneo do usuário. Também foi questionada a indicação clínica ou o que motivou o indivíduo a ingressar na Academia. O questionário foi aplicado com o cuidado de não induzir as respostas. Efeitos alcançados: Em relação ao que motivou o início da prática de exercícios, 51,42% dos usuários receberam essa recomendação médica, enquanto que 48,57% desejaram espontaneamente participar das atividades. O tempo médio de participação na Academia foi de 7,17 meses e a maior parte dos usuários teve facilidade total em realizar os exercícios propostos (94,28% concordaram totalmente e 11,42% parcialmente). Um grande percentual deu início às atividades físicas por desejo próprio. Esse fato pode estar associado a um bom nível de conhecimento geral sobre o tema, que contribuiu para que o usuário valorizasse os efeitos benéficos dos exercícios na saúde, bem como o desejo de adotar uma conduta ativa por sua própria qualidade de vida. Ao avaliar a melhora do estado geral, obtivemos o seguinte resultado: 95,71% tiveram melhora do estado geral, ou seja, concordaram totalmente ou parcialmente que se sentem mais dispostos após terem iniciado as atividades físicas. Em relação à influência dos exercícios físicos na percepção da dor, 87,13% concordaram que sentem menos dor após a prática regular de exercícios. Em relação à freqüência semanal, a maior parte realizava os exercícios 2 ou 3 vezes na semana na Academia Carioca. Uma parcela dos usuários (42,85%) praticava outros tipos de atividade, em outras instituições como hidroginástica, caminhada, yoga e natação. Quanto à possível influência dos exercícios na depressão e ansiedade, 69,99% concordaram que se sentem menos deprimidos ou ansiosos, enquanto que 27,14% foram indiferentes. Em relação aos benefícios à saúde envolvidos, 97,14% acreditavam que vão ter uma melhora na saúde e 100% pretendiam dar continuidade aos exercícios. Recomendações: Um grande percentual de pacientes deu início às atividades físicas por desejo próprio. Esse fato pode estar associado a um bom nível de conhecimento geral sobre o tema, que contribuiu para que o paciente valorizasse os efeitos benéficos dos exercícios na saúde, bem como o desejo de adotar uma conduta ativa por sua própria qualidade de vida. Além disso, há a facilidade da proximidade da Academia às residências dos usuários. Outros motivos relatados foram: motivos estéticos, para preencher o tempo livre, aumentar a rede social, lazer, alto custo de uma academia particular, melhorar a auto-estima, orientação para atividade física e recomendação nutricional. Esse trabalho propiciou uma percepção positiva no que tange aos exercícios físicos como uma recomendação para promover saúde na estratégia de saúde da família. Os resultados apontaram para uma avaliação positiva pelos usuários com resgate da auto-estima num processo de promoção de saúde, com o desafio de fomentar a concretização de tais práticas dentro da proposta da Política Nacional de Promoção à Saúde.