Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A SUPERVISÃO DO ESTÁGIO DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM NA SAÚDE DA FAMÍLIA: APROXIMAÇÕES E ENTRELACES
Elaine Franco dos Santos Araujo, Elisabete Pimenta Araujo Paz, Rosilene Rocha Palasson

Resumo


Os acadêmicos de Enfermagem do oitavo período do Curso de Graduação em Enfermagem e Obstetrícia da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ, realizam seu Estágio Supervisionado, disciplina curricular obrigatória que possui carga horária de 150 horas, em Unidades da Estratégia de Saúde da Família, no Município do Rio de Janeiro. Ao longo de um ano, três docentes responsáveis pela supervisão destes estudantes, iniciaram um trabalho de observação participante que culminou com a elaboração deste relato de experiência, que tem por objetivo compartilhar os desafios de uma supervisão mediada de estudantes que ficam distribuídos em diferentes Unidades de Saúde da Família. Estes estudantes atuam sob a supervisão direta de enfermeiras preceptoras e desenvolvem atividades assistenciais, administrativas, de pesquisa e de ensino tais como: a educação permanente dos membros das equipes em especial do nível médio de enfermagem e Agentes Comunitários; a realização de consultas de enfermagem pré-natal, ginecológica e de puericultura; coleta de material para exame Papanicolaou; visitas domiciliares e participação no gerenciamento do sistema de informação, dentre outras. A supervisão docente se dá de forma indireta, em visitas semanais e quinzenais às Unidades, onde as docentes orientam os estudantes em relação às diversas experiências vivenciadas no cotidiano do trabalho e discutem com preceptoras e estudantes sua evolução técnica e aprendizado, posto sua responsabilidade como agentes de seu auto-aprendizado. Os instrumentos de avaliação constam de ficha de produção diária, acompanhada de relato qualitativo no diário de campo, além de um mapa de avaliação, onde são atribuídos valores a diferentes quesitos da formação profissional pelo enfermeiro preceptor, pelo professor e pelo próprio aluno, na sua auto-avaliação. As principais dificuldades relacionadas a este modelo encontram-se 1. na alta rotatividade de alguns profissionais, que dificulta a mais que necessária aproximação das docentes aos profissionais que exercem a preceptoria; 2. na distribuição dos alunos por unidades que não ofereçam riscos de violência e que sejam de fácil acesso para os estudantes, devido ao custo com transporte e, finalmente, 3. no fato de que a grade curricular do curso de graduação em tela ainda não disponibiliza carga horária integral destinada ao internato, desta forma, os estudantes ficam nas unidades apenas de segunda a quarta-feira, (perfazendo um total de 24 horas), o que por vezes torna-se um dificultador para que o estudante desenvolva as atividades que ocorrem nas unidades nas quintas e sextas-feiras, dias em que o estudante está envolvido em outras atividades e disciplinas do oitavo período do curso. Em contrapartida, há que se valorizar o fato de que o processo ensino-aprendizagem ocorre no dia-a-dia do estágio, sob a condução de preceptores, profissionais da unidade e não propriamente docentes e que a experiência de vivenciar a realidade das unidades de Saúde da Família, assegurada a partir do convênio firmado entre a Universidade e a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, dá aos estudantes uma noção fiel do tipo de assistência que lhes será requerida quando da conclusão do curso e de uma possível contratação para atuação neste cenário. Outro fato relevante, que merece destaque, é que a partir da aproximação dos docentes e preceptores, gera uma sensação de valorização profissional destes, fazendo com que entrelaces e parceiras muito positivas surjam e ganhem força e espaço, como por exemplo preceptores que estão ingressando em cursos de mestrado, estão se interessando em se especializar, em participar de eventos científicos e em publicar seus trabalhos. Esta experiência de supervisão mediada das docentes tem sido avaliada como muito positiva e enriquecedora pelos estudantes em geral, uma vez que lhes confere maior autonomia e independência nas atividades junto às equipes de saúde da família e às comunidades. Nossa experiência tem sinalizado saídas promissoras para a formação de enfermeiros mais sintonizados com as necessidades locais e do país e, apesar dos impasses e paradoxos vivenciados no trabalho com a Estratégia de Saúde da Família, pode-se observar no grupo de estudantes uma reflexão sistemática e aprofundada sobre o modelo de atenção à saúde e o processo ensino-aprendizagem, podendo a dinâmica de supervisão mediada ser utilizada em outros cursos no Brasil, que utilizem a Estratégia de Saúde da Família como campus privilegiado de formação profissional em Atenção Primária.