Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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CONTRADIÇÕES NOS CENÁRIOS DE APRENDIZAGEM DOS CURSOS DE ENFERMAGEM NO CONTEXTO DA EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR
Elen Cristiane Gandra, Roseni Rosangela Sena, Kênia Lara Silva, Maria Jose Cabral Grillo, Marília Rezende da Silveira

Resumo


O objetivo deste trabalho é analisar os cenários de aprendizagem utilizados pelos cursos de enfermagem, estabelecendo relações com a expansão do ensino superior e as demandas do mercado de trabalho em saúde. Estudo descritivo-exploratório de abordagem qualitativa, sustentado no referencial teórico e metodológico da dialética. Os dados foram obtidos de um questionário estruturado, enviado aos coordenadores dos 125 cursos no Estado de Minas Gerais, dos quais obteve-se 42% de devolução. Foram realizados também grupos focais com professores e alunos de 18 cursos selecionados, ofertados por instituições de ensino superior(IES) públicas e privadas em diferentes regiões do Estado. Os dados dos questionários foram submetidos à análise estatística descritiva e os dados dos grupos focais à Análise de Conteúdo Temática. Os resultados indicam que existe o reconhecimento da necessidade de articulação teoria e prática nos cursos de enfermagem que se concretizam por meio da inserção precoce dos alunos, em alguns casos desde o primeiro período, em cenários de aprendizagem diversificados. O principal local de ensino clínico ou estágio utilizado pelos cursos de enfermagem é a rede básica, com ou sem Estratégia de Saúde da Família(ESF), seguidos de outros cenários da Saúde Pública e Comunitária. Com isso, reafirma-se a influência das políticas de saúde, como oportunidade de ingresso no mercado de trabalho ainda que não seja o perfil e o desejo dos estudantes. Se por um lado, esse achado pode apresentar-se como um fator positivo, pois altera a lógica do ensino ao colocá-lo mais próximo dos problemas de saúde da população, no entendimento do território e de seus determinantes e na composição do trabalho em equipes; por outro revela uma contradição expressa na construção de uma perspectiva “salvadora” do mercado de trabalho do enfermeiro ocupando postos nas ESF. Outros cenários citados foram as instituições de longa permanência de idosos e os ambulatórios públicos, referidos por 90,4% dos cursos, além de hospitais públicos, hospitais privados, creches, serviços substitutivos em saúde mental e instituições de ensino. Também foi referido o investimento em cenários “inovadores” e promissores como postos de trabalho para o enfermeiro como os serviços de atendimento domiciliar, clínicas de estética e serviços autônomos. Conclui-se que há um movimento, nos cursos de graduação em enfermagem no contexto da expansão do ensino superior, de orientação da formação para a atenção primária à saúde seja porque representa o lócus de investimento prioritário do sistema nacional de saúde ou, ainda, porque é o cenário no qual prevalece uma perspectiva de ocupação de postos de trabalho. Assim, os cenários de aprendizagem são condizentes com a necessidade do sistema público de saúde, mas não escapam às tendências orientadas ao mercado e à competição.