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ANÁLISE NOSOGRÁFICA DE LESÕES DESPORTIVAS DERIVADAS DO FUTEBOL DE CAMPO SEGUNDO FAIXA ETÁRIA
Resumo
Introdução: Diferente de outras modalidades desportivas, a exigência fisiológica do futebol é procedente principalmente de atividades intermitentes e vincula-se a extremo contato físico e execução de gestos desportivos específicos, envolvendo corrida, saltos, aterrissagens, aceleração, desaceleração, mudanças abruptas de direção, chutes e pivoteios. Ademais, qualidades como resistência, velocidade, agilidade, flexibilidade e força configuram requisitos essenciais ao pleno exercício dessa modalidade esportiva e, associadas ou não, podem representar fatores de causa extrínseca relacionados à ocorrência de lesões musculoesqueléticas em jogadores de futebol. Além de causas extrínsecas, outros componentes etiológicos de lesão desportiva (LD) incluem características inerentes do atleta - os fatores intrínsecos. Faixa etária, flexibilidade, estatura e massa corporal são evidenciadas como potenciais fatores de risco intrínseco à incidência de LD no futebol.Além disso, a contínua solicitação por aprimoramento físico, técnico e tático, comum ao treinamento desportivo moderno, propicia a instalação de desequilíbrios físicos e biomecânicos variados, como retrações musculares, desalinhamentos posturais. Nesta perspectiva, estudos recentes têm demonstrado que a exposição a fatores de risco derivados da idade dos atletas acentua a predisposição para a ocorrência de lesões musculoesqueléticas. Com efeito, outros fatores intrínsecos, como flexibilidade e postura, mostram-se alterados com a progressão etária, ampliando potencialmente os riscos de LD com o avançar do tempo.No aspecto epidemiológico, cabe ressaltar a considerável incidência de lesões musculoesqueléticas em jogadores de futebol. Levando-se em conta o acentuado contingente de praticantes, tal modalidade responde pelos principais índices de LD em todo o mundo. É importante destacar que o risco de LD é proporcional ao nível de exigência competitiva do futebol; atletas profissionais têm se mostrado mais propensos a agravos físicos do que desportistas amadores. Por conseguinte, o elevado risco de LD repercute em preocupações tanto para treinadores, preparadores físicos e atletas de todas as categorias, pois interrompe o processo evolutivo de adaptações sistemáticas impostas pelo treinamento. Sob o aspecto socioeconômico, a significativa morbidade vinculada às LD implica em inumeráveis prejuízos financeiros a clubes e patrocinadores, incluindo-se custos médicos e inatividade temporária até inaptidão precoce e permanente. No contexto nosográfico, o conhecimento da causa situacional, mecanismo de lesão, fatores de risco, entre outros aspectos, pode auxiliar profissionais da área no processo de prevenção, diagnóstico e tratamento desses agravos, particularmente no futebol, caracterizando, portanto, importante contribuição para as ciências da saúde e do esporte.Objetivo: o presente trabalho tem por objetivo analisar a incidência e caracterizar as LD de atletas de futebol, em conformidade com a faixa etária.Metodologia: a população compreendeu 219 atletas, do sexo masculino, componentes de equipes de base profissionalizante e profissional do Clube Esportivo Nova Esperança (CENE/MS), com reconhecida militância em competições regionais e nacionais vinculadas à Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Os atletas tomaram parte do estudo após autorização voluntária, ou de seus responsáveis legais, mediante leitura e compreensão de um termo de consentimento livre e esclarecido. Os participantes foram distribuídos em quatro grupos, segundo faixa etária. O grupo 1 (G1; n=49), relativo à infância, foi composto de desportistas com até 10 anos de idade. Considerando-se a adolescência, enquanto o grupo 2 (G2; n=90) continha atletas da faixa etária de 11 a 14 anos, o grupamento 3 (G3; n=55) foi representado por jogadores com 15 a 18 anos completos. Já o grupo 4 (G4; n=22) integrou atletas com mais de 18 anos, isto é, adultos.As informações relativas às lesões musculoesqueléticas foram obtidas por meio de Inquérito de Morbidade Referida (IMR; Apêndice A). Esse instrumento é o mais utilizado para obter informações sobre o estado de saúde de grupos populacionais específicos, tendo o objetivo de levantar dados nosográficos, relacionados à natureza, frequência, região corporal e condição causadora do agravo.O IMR foi ajustado para a realidade da modalidade desportiva de futebol, partindo-se do instrumento de coleta proposto e validado para outras modalidades, como atletismo, ginástica olímpica e taekwondo. Tal método de coleta é baseado na aplicação de questionários de formato fechado, por meio de interrogatório dirigido ao público-alvo da pesquisa. A obtenção dos dados ocorreu mediante a solicitação de informações específicas, retroativas às duas últimas temporadas desportivas 2010/ 2011, ou seja, aproximadamente 22 meses da data de registro. Todo o processo foi iniciado na abordagem ao atleta e/ou responsáveis legais, passando por vários processos, até as anotações no inquérito propriamente dito. Para efeito de estudo, considerou-se a definição de lesão desportiva como qualquer sintoma de dor e/ou afecção musculoesquelética, resultante de situações de treinamentos e/ou competições desportivas, suficiente para causar alterações em atividades subsequentes por, pelo menos, um dia após a ocorrência do acometimento. Optou-se pela exposição descritiva dos dados.Resultados: no aspecto epidemiológico, a casuística de lesões desportivas integrou, respectivamente, 9, 23, 9 e 25 ocorrências nos grupos G1, G2, G3 e G4. Considerando-se a natureza das lesões, constatou-se predominância de agravos musculares, abrangendo 44,4% (4 casos), e lesões osteoarticulares, com 33,3% (3 casos) nos atletas procedentes do grupamento G1. Em analogia, o G2 integrou, majoritariamente, afecções musculares, com 48,48% (16 casos), e osteoarticulares, que totalizaram 24,24% (8 casos). Em contraste, o G3 reportou 44,4% de lesões osteoarticulares, seguido de índices semelhantes de 22,2% (2 casos) para registros lesões musculares e tendinopatias. Por sua vez, atletas do G4 referiram mais agravos osteoarticulares, com 52% (13 casos) de registros, seguido por agravos de natureza muscular, que abrangeram 40% (10 casos) das LD. Quanto ao local anatômico de acometimento, a maior frequência de lesões ocorreu em membros inferiores, situando-se, principalmente, na coxa em G1 (44,4%), G2 (34,8%), G3 (33,3%) e G4 (32%). Sobre o período de manifestação, na etapa de treinamento especifico, registrou-se a maioria dos casos envolvendo atletas das categorias de base: 5 lesões (55,5%) em G1, 15 registros (45,5%) envolvendo jogadores do G2 e 6 ocorrências (66,6%) em G3. No grupo 4, contudo, constatou-se maior índice de lesões no período de jogo competitivo com 52% (13 casos).Conclusão: A maior ocorrência de lesões foi notada em atletas adultos em situações de competição. No contexto nosográfico, o agravo muscular envolvendo músculos da coxa foi o principal registro obtido em todas as categorias.