Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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ANÁLISE NOSOGRÁFICA DE LESÕES DESPORTIVAS DERIVADAS DO FUTEBOL DE CAMPO SEGUNDO FAIXA ETÁRIA
Silvio Assis Oliveira Júnior, Renata Helena Galvão Melo, Vítor Hugo Santos Assunção, Gustavo Paula Santos, Charles Taciro, Nercílio Guimarães Júnior, Rodrigo Luiz Carregaro, Gustavo Christofoletti, Marcus Victor Gonçalves

Resumo


Introdução: Diferente de outras modalidades desportivas, a exigência fisiológica do futebol é procedente principalmente de atividades intermitentes e vincula-se a extremo contato físico e execução de gestos desportivos específicos, envolvendo corrida, saltos, aterrissagens, aceleração, desaceleração, mudanças abruptas de direção, chutes e pivoteios. Ademais, qualidades como resistência, velocidade, agilidade, flexibilidade e força configuram requisitos essenciais ao pleno exercício dessa modalidade esportiva e, associadas ou não, podem representar fatores de causa extrínseca relacionados à ocorrência de lesões musculoesqueléticas em jogadores de futebol. Além de causas extrínsecas, outros componentes etiológicos de lesão desportiva (LD) incluem características inerentes do atleta - os fatores intrínsecos. Faixa etária, flexibilidade, estatura e massa corporal são evidenciadas como potenciais fatores de risco intrínseco à incidência de LD no futebol.Além disso, a contínua solicitação por aprimoramento físico, técnico e tático, comum ao treinamento desportivo moderno, propicia a instalação de desequilíbrios físicos e biomecânicos variados, como retrações musculares, desalinhamentos posturais. Nesta perspectiva, estudos recentes têm demonstrado que a exposição a fatores de risco derivados da idade dos atletas acentua a predisposição para a ocorrência de lesões musculoesqueléticas. Com efeito, outros fatores intrínsecos, como flexibilidade e postura, mostram-se alterados com a progressão etária, ampliando potencialmente os riscos de LD com o avançar do tempo.No aspecto epidemiológico, cabe ressaltar a considerável incidência de lesões musculoesqueléticas em jogadores de futebol. Levando-se em conta o acentuado contingente de praticantes, tal modalidade responde pelos principais índices de LD em todo o mundo. É importante destacar que o risco de LD é proporcional ao nível de exigência competitiva do futebol; atletas profissionais têm se mostrado mais propensos a agravos físicos do que desportistas amadores. Por conseguinte, o elevado risco de LD repercute em preocupações tanto para treinadores, preparadores físicos e atletas de todas as categorias, pois interrompe o processo evolutivo de adaptações sistemáticas impostas pelo treinamento. Sob o aspecto socioeconômico, a significativa morbidade vinculada às LD implica em inumeráveis prejuízos financeiros a clubes e patrocinadores, incluindo-se custos médicos e inatividade temporária até inaptidão precoce e permanente. No contexto nosográfico, o conhecimento da causa situacional, mecanismo de lesão, fatores de risco, entre outros aspectos, pode auxiliar profissionais da área no processo de prevenção, diagnóstico e tratamento desses agravos, particularmente no futebol, caracterizando, portanto, importante contribuição para as ciências da saúde e do esporte.Objetivo: o presente trabalho tem por objetivo analisar a incidência e caracterizar as LD de atletas de futebol, em conformidade com a faixa etária.Metodologia: a população compreendeu 219 atletas, do sexo masculino, componentes de equipes de base profissionalizante e profissional do Clube Esportivo Nova Esperança (CENE/MS), com reconhecida militância em competições regionais e nacionais vinculadas à Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Os atletas tomaram parte do estudo após autorização voluntária, ou de seus responsáveis legais, mediante leitura e compreensão de um termo de consentimento livre e esclarecido. Os participantes foram distribuídos em quatro grupos, segundo faixa etária. O grupo 1 (G1; n=49), relativo à infância, foi composto de desportistas com até 10 anos de idade. Considerando-se a adolescência, enquanto o grupo 2 (G2; n=90) continha atletas da faixa etária de 11 a 14 anos, o grupamento 3 (G3; n=55) foi representado por jogadores com 15 a 18 anos completos. Já o grupo 4 (G4; n=22) integrou atletas com mais de 18 anos, isto é, adultos.As informações relativas às lesões musculoesqueléticas foram obtidas por meio de Inquérito de Morbidade Referida (IMR; Apêndice A). Esse instrumento é o mais utilizado para obter informações sobre o estado de saúde de grupos populacionais específicos, tendo o objetivo de levantar dados nosográficos, relacionados à natureza, frequência, região corporal e condição causadora do agravo.O IMR foi ajustado para a realidade da modalidade desportiva de futebol, partindo-se do instrumento de coleta proposto e validado para outras modalidades, como atletismo, ginástica olímpica e taekwondo. Tal método de coleta é baseado na aplicação de questionários de formato fechado, por meio de interrogatório dirigido ao público-alvo da pesquisa. A obtenção dos dados ocorreu mediante a solicitação de informações específicas, retroativas às duas últimas temporadas desportivas 2010/ 2011, ou seja, aproximadamente 22 meses da data de registro. Todo o processo foi iniciado na abordagem ao atleta e/ou responsáveis legais, passando por vários processos, até as anotações no inquérito propriamente dito. Para efeito de estudo, considerou-se a definição de lesão desportiva como qualquer sintoma de dor e/ou afecção musculoesquelética, resultante de situações de treinamentos e/ou competições desportivas, suficiente para causar alterações em atividades subsequentes por, pelo menos, um dia após a ocorrência do acometimento. Optou-se pela exposição descritiva dos dados.Resultados: no aspecto epidemiológico, a casuística de lesões desportivas integrou, respectivamente, 9, 23, 9 e 25 ocorrências nos grupos G1, G2, G3 e G4. Considerando-se a natureza das lesões, constatou-se predominância de agravos musculares, abrangendo 44,4% (4 casos), e lesões osteoarticulares, com 33,3% (3 casos) nos atletas procedentes do grupamento G1. Em analogia, o G2 integrou, majoritariamente, afecções musculares, com 48,48% (16 casos), e osteoarticulares, que totalizaram 24,24% (8 casos). Em contraste, o G3 reportou 44,4% de lesões osteoarticulares, seguido de índices semelhantes de 22,2% (2 casos) para registros lesões musculares e tendinopatias. Por sua vez, atletas do G4 referiram mais agravos osteoarticulares, com 52% (13 casos) de registros, seguido por agravos de natureza muscular, que abrangeram 40% (10 casos) das LD. Quanto ao local anatômico de acometimento, a maior frequência de lesões ocorreu em membros inferiores, situando-se, principalmente, na coxa em G1 (44,4%), G2 (34,8%), G3 (33,3%) e G4 (32%). Sobre o período de manifestação, na etapa de treinamento especifico, registrou-se a maioria dos casos envolvendo atletas das categorias de base: 5 lesões (55,5%) em G1, 15 registros (45,5%) envolvendo jogadores do G2 e 6 ocorrências (66,6%) em G3. No grupo 4, contudo, constatou-se maior índice de lesões no período de jogo competitivo com 52% (13 casos).Conclusão: A maior ocorrência de lesões foi notada em atletas adultos em situações de competição. No contexto nosográfico, o agravo muscular envolvendo músculos da coxa foi o principal registro obtido em todas as categorias.