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As implicações éticas da demanda frente à Política Nacional de Humanização
Resumo
INTRODUÇÃO: A satisfação e resolubilidade das necessidades dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) compreendem o principal objetivo da Política Nacional de Humanização (PNH). Como um dos fatores que influenciam diretamente no alcance desse objetivo temos a demanda, que consiste na procura dos serviços de saúde por um indivíduo, em busca de solução para uma necessidade sentida (Pinheiro 2001). OBJETIVO: Compreender o discurso dos profissionais de uma Unidade Básica sobre a demanda e suas implicações para a humanização do atendimento. MÉTODO: O estudo é um recorte da pesquisa “O discurso dos profissionais de uma UBS em São Leopoldo (RS) sobre a humanização dos serviços”, realizada em 2006, aprovada pelo CEP da Unisinos com a resolução 029/2006. Trata-se de uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa. O universo empírico da pesquisa foi composto por 10 trabalhadores de uma Unidade Básica de Saúde: 1 gestora, 1 médica, 1 dentista, 2 enfermeiros, 3 técnicos em enfermagem, 1 atendente da portaria e 1 encarregado do almoxarifado. A coleta de dados aconteceu em 8 reuniões de discussão focal sobre temas como política de humanização, direito à saúde, integralidade, acolhimento, subjetividade em saúde e processos de trabalho. As discussões foram gravadas, transcritas e os dados trabalhados posteriormente pela análise do discurso. RESULTADOS: Como resultados, apareceram três repertórios linguísticos relacionados à demanda: compreensão das necessidades em saúde; entendimento do acolhimento como triagem e aplicação de protocolos de atendimento; influência do modelo biomédico na organização dos serviços. A excessiva demanda e a falta de resolubilidade estão relacionadas à uma visão das necessidades como puro acesso à tecnologia e do acolhimento entendido apenas como triagem de sinais e sintomas clínicos. Outro fator da excessiva demanda é o imaginário social criado pelo modelo biomédico que leva os usuários a exigirem o atendimento do médico e a prescrição de uma receita, não aceitando a consulta da enfermagem. CONCLUSÃO: A mistura entre atenção básica e atendimento ambulatorial e especializado na Unidade estudada inviabiliza a organização da demanda, produzindo estresse nos profissionais, insatisfação nos usuários e impossibilitando a humanização do serviço.