Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Dermatologia na Atenção Primária: desafios para a abordagem das lesões de pele na ESF no Rio de Janeiro
Anna Tereza Soares de Moura, Tatiana Maciel Gomes

Resumo


Introdução - As afecções da pele são altamente prevalentes e, apesar disso, os profissionais da área de saúde parecem não possuir o domínio teórico-prático esperado para a sua condução no âmbito da atenção primária. Com escasso conhecimento e treinamento de habilidades a equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) enfrenta dificuldades na abordagem destas afecções. O Ministério da Saúde (MS) preconiza, em publicação de 2002, o diagnóstico de um número considerável de patologias dermatológicas no âmbito da atenção primária, mas são escassas as oportunidades de treinamento para esses profissionais. Algumas patologias dermatológicas apresentam grande potencial gravidade, além de impacto social e psicológico, interferindo na qualidade de vida dos doentes. Para a equipe da ESF esta é mais uma demanda, contando com poucas ferramentas disponíveis para sua adequada realização. Objetivos - Analisar a percepção dos profissionais da Estratégia Saúde da Família quanto à abordagem das afecções da pele; compreender as necessidades da equipe da Estratégia Saúde da Família diante do cuidado às afecções da pele; identificar que práticas podem ser contempladas na atenção primária à saúde para a abordagem das afecções da pele e avaliar o entendimento dos profissionais da Estratégia Saúde da Família acerca de suas competências específicas para lidar com as afecções da pele. Método - Foram realizados grupos focais e questionários abertos com os profissionais da ESF em duas unidades selecionadas. Para a escolha das equipes foram considerados alguns critérios de inclusão: presença de equipe completa, com profissionais atuando há pelo menos dois anos na ESF. Esse período foi definido por ser considerado o tempo mínimo suficiente para que os profissionais já possam ter entrado em contato com a realidade da área adscrita e com suas condições sociais e de saúde. Foi definida a necessidade de duas unidades para a pesquisa, sendo uma unidade localizada em uma área de fácil acesso aos especialistas em dermatologia e outra com restrições a esse acesso. Essa escolha permitiria avaliar o quanto a facilidade de acesso ao especialista poderia modificar a percepção dos profissionais quanto à rotina / fluxo de atendimentos aos pacientes com afecções da pele, suas necessidades e dificuldades. Os sujeitos da pesquisa foram os profissionais das equipes das ESF selecionadas, incorporando todas as categorias. Para a análise do questionário foi realizada a leitura de todas as respostas, seguida da categorização dos dados coletados através de agrupamentos temáticos surgidos com o referencial teórico. As informações coletadas durante a realização dos grupos focais foram devidamente organizadas e sistematizadas, estabelecendo as questões prioritárias relatadas por cada profissional ao longo dos encontros. Foi realizada ainda a avaliação da freqüência dos núcleos de pensamentos, onde foram elencadas algumas categorias de análise, conforme explicitadas: Abordagem das afecções da pele na ESF; Rede de atenção às afecções da pele; Possibilidades de atuação na ESF; Formação dos profissionais da ESF. Resultados - Existem diferentes aspectos envolvidos na abordagem às afecções da pele na ESF, como por exemplo o acolhimento e acompanhamento desses pacientes e a busca ativa por lesões, que praticamente não são realizados pelos profissionais das unidades pesquisadas, segundo algumas falas. Além desses aspectos, as condições para a abordagem às afecções da pele, nas unidades da ESF pesquisadas, também parecem ser ruins. Para uma abordagem satisfatória são necessários alguns requisitos como local adequado para as consultas, tempo suficiente para que estas ocorram, instrumentos disponíveis para o manejo do paciente em questão, além de algum apoio laboratorial. Esses seriam requisitos mínimos que, muitas vezes não são possíveis na dinâmica de trabalho da ESF. Apesar da diferença no acesso ao dermatologista entre as duas unidades, as dificuldades para o tratamento e seguimento dos pacientes com afecções da pele continuam sendo grandes em ambas. Uma forma de uniformizar e otimizar o processo de referência e contra-referência seria o bom funcionamento do sistema de regulação. Mas para isso muitas barreiras ainda devem ser ultrapassadas, como por exemplo, o acesso à internet, que em algumas unidades ainda é precário e o número de especialistas vinculados a rede pública, que ainda é muito pequeno. A participação de diversos profissionais da ESF na assistência à saúde (diagnóstico, tratamento, prevenção e promoção) favorece uma maior interação destes com os usuários do sistema e melhores condições de abordagem às afecções da pele. Os participantes se posicionaram e referiram, de forma unânime em ambas as unidades, o desejo de buscarem oportunidades oferecidas para ajudá-los a atuar mais efetivamente na sua instituição, como através dos programas de educação em saúde. Na verdade, essa é uma demanda comum na área da saúde, e muitos profissionais se sentem mais confortáveis quando existe a disponibilização de protocolos e organização de condutas. Conclusão - Com características inovadoras, a ESF tem a atenção voltada para as famílias e comunidades, integrando cuidados médicos com promoção e prevenção da saúde. Então, a promoção e prevenção em saúde, relacionadas aos cuidados com a pele são atribuição de todos os profissionais da ESF, e para isso a função de cada um deles dentro da equipe deve estar bem clara. É grande a diversidade de problemas relacionados à assistência às afecções da pele no sistema de saúde, e as equipes ainda não contam com a estrutura necessária para sua abordagem integral. A análise dos dados apontou também para o déficit inerente aos conhecimentos da especialidade na prática clínica da equipe da ESF, o que se constitui em elemento central a ser considerado na discussão sobre a formação superior e o treinamento oferecido a estes profissionais. São necessárias ainda inúmeras medidas para que seja possível a inclusão dessas doenças na dinâmica de atendimentos da rede. Na verdade, o adequado seria construir uma estratégia de treinamento, não só para a dermatologia, mas para as especialidades em geral, que contemplem materiais por escrito, informática, matriciamento, aulas expositivas, etc. Essas categorias elencadas poderão subsidiar a elaboração de um programa de capacitação que contemple um material informativo amplo, mas direcionado especificamente à Atenção Primária.