Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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PEPAST: uma experiência envolvendo a integração ensino-serviço-comunidade através da extensão universitária
Dailton Alencar Lucas de Lacerda, Kamilla Maria Sousa Castro, Juliana Souza Lima, Aédla Samara Nóbrega Martins

Resumo


INTRODUÇÃO: A integralidade é um dos princípios doutrinários do sistema de saúde brasileiro e seu fundamento é defendido como uma estratégia para a concretização de uma assistência integral em saúde, voltada para as reais necessidades do ser humano. No campo da formação em saúde, esse princípio tem sido o fio condutor de várias mudanças para a reorientação do cuidado. A reorientação do processo de formação deve ser articulada por meio da gestão de conhecimentos, planejamento, produção de serviços e interação com o campo de atuação (CECCIM; FEUERWEKER, 2004; GONZE; SILVA, 2011). Vasconcelos (1995) apud Batista (2005, p.237), relata que, “para superar o tradicional é preciso começar, tendo a clareza de que o caminho se faz no processo de caminhar”, ou seja, o aprendizado diferenciado é adquirido através de práticas. O Projeto Educação Popular e Atenção à Saúde do Trabalhador (PEPAST) é uma atividade extensionista com atuação direta na comunidade Maria de Nazaré (zona sul do município de João Pessoa-PB), sendo componente importante para o desenvolvimento potencial do protagonismo dos atores envolvidos nesse processo: trabalhadores, estudantes, professores e serviços de saúde. A experiência se fundamenta na necessidade de formar “novos cuidadores” mais sensíveis e preparados atuar nesse campo, colocando-os num processo permanente de reflexão crítica da realidade social que os cerca e incorporando elementos próprios da EPS como a troca de saberes, o acolhimento humanizado, a assistência integral, a construção de vínculos interpessoais e coletivos, a produção coletiva e participativa de resolução dos problemas, o incentivo a autonomia e protagonismo dos sujeitos envolvidos. Muitas iniciativas de reforma do ensino superior em saúde estão sendo tentadas no Brasil, em busca de reorientar a formação de profissionais para prestar assistência principalmente nos cenários de atenção primária de saúde. O ministério da educação, por sua vez, mostrou preocupação com a formação dos profissionais, implementando novas diretrizes curriculares dando ênfase às competências e habilidades para atuação neste campo (VASCONCELOS, 2011). A educação popular, portanto, vem mostrando a vitalidade e potencialidade dos modos horizontalizados e amorosos de se construir conhecimento, promovendo mudanças e permitindo que o profissional adote uma postura mais comprometida com a sociedade. Lacerda (2011) ressalta que a experiência extensionista, orientada pela Educação Popular e Saúde (EPS), busca a integralidade como princípio norteador para a formação e atenção em saúde. Neste sentido, observa-se que para reorientar as práticas e saberes em saúde, é necessário transformar as relações entre os serviços de saúde e a população. OBJETIVOS: Contribuir para reorientação da formação em saúde a partir da educação popular; Sistematizar a experiência da extensão universitária na atenção primária de saúde; Proporcionar a inserção e integração dos diversos atores envolvidos no processo em situações reais do cotidiano social; Promover a reorientação da assistência em saúde do trabalhador ancorada nos princípios fundamentais do SUS. METODOLOGIA: Participação crítico-reflexiva, inserindo os estudantes num movimento de ação-reflexão-ação com elaboração de conhecimentos e interação com diferentes ambientes e sujeitos, vinculando educação, trabalho e práticas sociais, estabelecendo relações entre a instituição de formação e sistema de saúde local. No cenário de práticas, são identificados necessidades e problemas de saúde relacionados à atividade ocupacional, e realiza-se o planejamento, estratégias coletivas e participativas para construção de propostas e ações resolutivas. São feitos encontros sistemáticos entre os diversos atores envolvidos na experiência, em “rodas de conversas”, com a finalidade de avaliarem e refletirem sobre as diversas situações detectadas, baseados no diálogo, na escuta e integração entre ensino, serviço e comunidade. RESULTADOS: A vivência envolvendo uma proposta de construção de mecanismos inovadores de assistência em saúde do trabalhador tem permitido a reflexão crítica sobre a importância das ações conjuntas e articuladas dos diversos atores da experiência, isso fica patente nos depoimentos e falas registrados durante os encontros avaliativos que acontecem sistematicamente. O fato de estarmos atuando na comunidade aproxima a teoria da prática, no qual podemos exercer nosso papel como profissionais e cidadãos, definindo um novo modelo de formação. Torna-se cada vez mais evidente a inadequação do modelo de ensino dominante tradicionalista para formação de profissionais de saúde, limitando-os a prática de mecanismos conservadores com foco apenas em conserto de partes do corpo humano ou alivio dos sintomas. Dessa forma, a educação popular em saúde se destaca como uma alternativa metodológica inovadora, por meio do desenvolvimento de ações humanizadas na formação de profissionais com habilidades, protagonismo e autonomia que possibilitam o norteamento dos cuidados necessários que demandam à comunidade. CONCLUSÃO: A vivência na comunidade tem sido uma experiência rica, é a dimensão ampla do cuidar em saúde que não vemos nas salas de aulas tradicionais da nossa formação, pois nos permite compreender a realidade concreta da sociedade. O Projeto Educação Popular e Atenção à Saúde do Trabalhador (PEPAST), facilita o estreitamento dos laços entre ensino-serviço-comunidade delineando caminhos da participação da universidade na construção com o popular e não somente para o popular, sendo possível vislumbrar a universidade cumprindo seu papel na formação de pessoas e cidadãos, e não apenas profissionais limitados ao conhecimento científico. REFERÊNCIAS: [1] BATISTA, Nildo et al (2005). “O enfoque problematizador na formação de profissionais da saúde”. Rev. Saúde Pública [online]. v.39, n.2, p.231-237. [2] CECCIM, R.B.; FEUERWERKER, L.C.M (Out. 2004). Mudança na graduação das profissões de saúde sob o eixo da integralidade. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.20, n. 5, p.1400-1410. [3] GONZE, G. G.; SILVA, G. A. (2011). A integralidade na formação dos profissionais de saúde: tecendo valores. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p.129-146. [4] LACERDA, D. A. L. (2011). Reorientando a atenção à saúde do trabalhador a partir da educação popular. p.318-20. In: VASCONCELOS, E.M.; CRUZ, P.J.S.C. Educação Popular na Formação Universitária: reflexões com base em experiências. São Paulo: Hucitec; João Pessoa: Editora Universitária da UFPB. [5] VASCONCELOS, E. M (2011). Educação popular e o movimento de transformação da formação universitária no campo da saúde. p.362-5. In: VASCONCELOS, E.M.; CRUZ, P.J.S.C. Educação Popular na Formação Universitária: reflexões com base em experiências. São Paulo: Hucitec; João Pessoa: Editora Universitária da UFPB.