Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Por uma formação antimanicomial: uma experiência no ensino de Psicologia no interior de São Paulo e Psicologia no interior de São Paulo
Simone Aparecida Ramalho, Ana Cristina Delgado Lopergolo, João Paulo Pitoli

Resumo


É consenso no campo da saúde mental orientado eticamente pela construção da Reforma Psiquiátrica e pela busca de sociedades mais democráticas e justas para o trânsito de diversas possibilidades de subjetivação, o entendimento de que esse processo requer um feixe de ações que incidam na transformação das ofertas de cuidado, na produção de conhecimento, no plano jurídico e na cultura ainda manicomial. É também consenso, que dentre estas ações, a formação de profissionais orientada por esse cenário ético e político figura como premente e estratégica, pois convivemos no Brasil com um descompasso entre as exigências do trabalho em saúde no contexto da Reforma e os modos de formação, herdeiros também eles de uma cultura manicomial, estado de coisas que pode a um só tempo impedir-nos de fazer avançar o projeto antimanicomial no país, bem como colocar em risco a sustentação dos avanços já trazidos pelas políticas públicas no âmbito do Sistema Único de Saúde. Pretende-se discutir a relação entre formação acadêmica e a consecução da Reforma Psiquiátrica, a partir da experiência de um Curso de Psicologia no interior de São Paulo e seus esforços para construir uma formação antimanicomial por meio de um feixe de ações articuladas em seu Projeto Pedagógico que tem como ênfases curriculares as Políticas de Saúde e Educação. Dentre disciplinas da grade curricular, projetos de estágio e de extensão universitária que se ocupam dos temas caros ao processo de Reforma Psiquiátrica no bojo das políticas públicas atuais, destacaremos os efeitos de uma ação em que se pode oferecer aos estudantes ainda na graduação a experimentação de um protagonismo em seus territórios de moradia e de vida acadêmica, formulando intervenções culturais e políticas na Semana da Luta Antimanicomial brasileira, bem como a realização de eventos públicos que têm se constituído na última década como fóruns privilegiados para o debate sobre a Reforma Psiquiátrica entre diversos atores sociais, como trabalhadores, usuários, gestores, munícipes, intelectuais, militantes, em uma região do Estado de São Paulo profundamente marcada pela cultura manicomial. Mais precisamente, propomos discutir que experiências como estas exercem certa “deformação” de papeis profissionais que ainda reproduzem cenários de aprisionamento e como auxiliam na construção de engajamentos políticos necessários àqueles que terão como desafio construir a Reforma Psiquiátrica na invenção de suas práticas como atores antimanicomiais.