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Tendo surgido como resultado da ambição em conquistar a natureza e subordiná-la às necessidades humanas, a ciência moderna subsumiu-se à ordem socioeconômica para criar instrumentos de aceleração do progresso, com a consequente ideia de esclarecimento (aufklärung) sendo subvertida e tornando o saber um instrumento técnico, o que relegou a autoconsciência a um plano inferior. O projeto moderno, com a missão de tudo conhecer e categorizar – para então controlar – passou a atuar inclusive por meio da ciência, com o intuito de operá-la tecnicamente no futuro. É essa concepção racionalista, de caráter instrumental, que ao longo dos últimos séculos também vem marcando a prática da medicina moderna, surgida no século XVIII e, com ela, a prática em saúde como um todo. A partir dessa discussão, este artigo tece alguns comentários acerca da racionalidade instrumental hegemônica, marca indelével do projeto da modernidade para então fazer uma breve discussão sobre os modos de produção do cuidado em saúde atuais. Sendo permeada por uma série de desafios, dentre eles o aumento do grau de corresponsabilidade na produção do cuidado (e de sujeitos) e o estabelecimento de vínculos solidários, defende a ação comunicativa habermasiana (cuja ordem comunicacional também faz parte daqueles desafios) como contra-projeto à essa ordem. A dialogicidade presente no agir comunicativo passaria a fazer parte do modo de atuar em saúde, particularmente na tentativa de superação das práticas aqui definidas como modos de desafetação/desvinculação do outro. Ao final, a possibilidade de deslocamento da razão para a dialogicidade, projeto maior de Habermas, é suscitada como um caminho possível, porém condicionado à assumissão de uma postura hermenêutica, dado o fracasso da palavra como um dos motivadores de práticas arbitrárias no contexto discutido.