Tamanho da fonte:
RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL INTEGRADA EM SAÚDE PERINATAL DA MATERNIDADE ESCOLA UFRJ: desafios da implantação e perspectivas para ampliação
Resumo
Caracterização do Problema: O Ministério da Educação e Cultura (MEC), na busca pela promoção de processos de mudança na formação do profissional de saúde, cria em 2002 o Programa de Residência Multiprofissional orientado pelos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir das necessidades e realidades locais e regionais. Deste modo, observamos a possibilidade de uma mudança de paradigma na formação profissional nos moldes de residência. Na área Perinatal e neste caso em particular, em nossa Instituição, o paradigma dominante era o de Residência Uniprofissional, com foco principal na residência médica em obstetrícia e neonatologia. Assim, lança-se o desafio de mudança no modo de assistir a clientela atendendo os princípios universais do SUS de integralidade, universalidade e equidade e promove maior visibilidade e integração das demais categorias de profissionais em saúde. Diante do exposto pretendemos descrever a experiência de três categorias profissionais – Enfermagem, Nutrição e Psicologia –, no processo de implantação da Residência Multiprofissional em Saúde Perinatal na Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com seus desafios e perspectivas. Descrição da experiência: em 2009, após algumas discussões em relação à situação da saúde no Brasil, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) liberou incentivos financeiros para a criação de programas de Residência Multiprofissionais em Saúde nos hospitais universitários, visto que estes deveriam ser o berço do conhecimento para formação dos profissionais dessa área. A Direção da Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), seduzida pela proposta sensibilizou as Coordenações de Serviços e profissionais da Instituição, formando um grupo de trabalho. O grupo de trabalho original era composto por profissionais da Psicologia, Enfermagem, Serviço Social e Nutrição, que se reuniam com gestores locais em busca de novas parcerias, além da consolidação de pactuações firmadas anteriormente com as Instituições Formadoras. Neste primeiro momento não foi possível a pactuação com a Escola de Serviço Social da UFRJ, o grupo instituiu-se então com os profissionais de Enfermagem, Psicologia e Nutrição e nomeado nas instituições formadoras, um docente responsável pelo programa (Escola de Enfermagem Anna Nery, Instituto de Nutrição Josué de Castro, Instituto de Psicologia). Assim, nasceu o projeto da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde Perinatal, encaminhado e aprovado pelo MEC. Com a compreensão de que a Saúde Perinatal está em uníssono com a proposta da Residência multiprofissional, pois contempla uma visão integrada de saúde reprodutiva, desde o ciclo gestatório (gravidez, parto e puerpério), nascimento, crescimento e desenvolvimento. Nesta concepção ampla, o processo gestar-parir e nascer é concebido para além do modelo reducionista, onde as dimensões biológicas e as psico-sociais não representam dualidades e são valorizadas no mesmo plano, de forma interligada. Assim, a visão se amplia para além da vigilância dos óbitos e agravos à saúde materno-fetal/neonatal e se estende às ações de promoção e proteção à saúde. O passo seguinte foi à criação da Coordenação de Residência Multiprofissional na Instituição, com representantes do gestor da instituição executora/formadora, e representantes de cada área profissional, com o objetivo de formular o Projeto Político Pedagógico do Curso, considerando a construção coletiva, um marco em potencial para a aderência desta nova prática de ensino/aprendizagem para a Instituição em seu cotidiano do mundo do trabalho. Efeitos alcançados e recomendações: Após dois anos de implantação da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde Perinatal e já com a entrada da terceira turma de residentes alguns desafios foram transpostos, tais como: conscientizar e formar parcerias com os preceptores que apesar de trabalharem em um hospital universitário estavam habituados a receberem discentes de graduação e de pós-graduação sempre acompanhados de docentes. Ou seja, não necessitavam fazer supervisão direta e atuar como facilitadores do ensino-aprendizagem; capacitação de parte dos preceptores em curso de tutoria realizado na UFRJ; Identificação de eixos transversais para desenvolvimento de atividades multiprofissionais por parte dos residentes, tais como: no grupo da medicina Fetal, atividades ambulatoriais de sala de espera, grupos de educação em saúde com gestantes diabéticas, aleitamento materno; Identificação de atividades especificas em cada área como assistência a gestante de baixo, médio e alta risco no ambulatório, na sala de parto, alojamento conjunto. Mantendo sempre o foco na atenção humanizada, na ética e respeito da clientela; Melhorar a articulação entre instituição formadora e instituição executora. A implantação da Residência Multiprofissional é um eterno desafio para toda a equipe envolvida nesse processo. Temos como meta capacitar o residente para enfrentar os problemas complexos, amplos e globais da realidade de atuação profissional. Buscamos realizar um exercício diário de cidadania tornando-o um agente social de transformação da realidade. Nesse novo paradigma o residente deve aprender a aprender, ou seja, deve buscar conhecimentos e trocá-los com sua equipe e não esperar receber um conhecimento pronto. Em busca de um aperfeiçoamento profissional ele deve ter uma postura pró ativa e se antecipar aos eventos ocorridos a fim de estar sempre um passo a frente. O comportamento e interação com os usuários e profissionais, a adoção de uma conduta ética e clínica, além do envolvimento e compromisso; são fatores importantes que devem estar presentes em todos os residentes. No entanto, são inúmeros os desafios encontrados no decorrer dessa caminhada e aprendemos no dia a dia a lidar com eles. O convívio tão próximo, afinal são 60 horas semanais, de pessoas tão diferentes, com formações diferentes e habilidades distintas, pode acabar levando a fadiga da relação e isso dificulta muito o andamento do processo. Outro problema que encontramos é que muitas vezes esbarramos em barreiras burocráticas que impedem o desenvolvimento de atividades que foram previamente elaboradas, como foi o caso de não conseguir incluir o Serviço Social na Residência, mas esta é a nossa próxima meta, será nossa perspectiva de ampliação. Durante esses primeiros dois anos conseguimos destacar alguns pontos positivos na elaboração e execução do cronograma, tanto no que tange ao eixo transversal quanto ao eixo específico, na modalidade teórica e prática, mas ainda temos um longo caminho pela frente. Nesse modelo multiprofissional tão recomendado pelo Ministério da Saúde, devemos estreitar os laços da teoria com a prática a fim de prepararmos nossos residentes para o mercado de trabalho na área da saúde que exige, a cada dia, um amplo conhecimento teórico e uma prática integrada voltada para o cuidado individualizado e humanizado com a clientela que nos procura.