Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL INTEGRADA EM SAÚDE PERINATAL DA MATERNIDADE ESCOLA UFRJ: desafios da implantação e perspectivas para ampliação
Ana Paula Vieira dos Santos Esteves, Gustavo Dias da Silva, Ivo Basílio da Costa Júnior, Maria Victória Werneck Magalhães Costa, Neuza dos Anjos Sampaio, Tereza Cristina Campos D'Ambrósio Bessa, Tuila Martins Melo Barbosa

Resumo


Caracterização do Problema: O Ministério da Educação e Cultura (MEC), na busca pela promoção de processos de mudança na formação do profissional de saúde, cria em 2002 o Programa de Residência Multiprofissional orientado pelos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir das necessidades e realidades locais e regionais. Deste modo, observamos a possibilidade de uma mudança de paradigma na formação profissional nos moldes de residência. Na área Perinatal e neste caso em particular, em nossa Instituição, o paradigma dominante era o de Residência Uniprofissional, com foco principal na residência médica em obstetrícia e neonatologia. Assim, lança-se o desafio de mudança no modo de assistir a clientela atendendo os princípios universais do SUS de integralidade, universalidade e equidade e promove maior visibilidade e integração das demais categorias de profissionais em saúde. Diante do exposto pretendemos descrever a experiência de três categorias profissionais – Enfermagem, Nutrição e Psicologia –, no processo de implantação da Residência Multiprofissional em Saúde Perinatal na Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com seus desafios e perspectivas. Descrição da experiência: em 2009, após algumas discussões em relação à situação da saúde no Brasil, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) liberou incentivos financeiros para a criação de programas de Residência Multiprofissionais em Saúde nos hospitais universitários, visto que estes deveriam ser o berço do conhecimento para formação dos profissionais dessa área. A Direção da Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), seduzida pela proposta sensibilizou as Coordenações de Serviços e profissionais da Instituição, formando um grupo de trabalho. O grupo de trabalho original era composto por profissionais da Psicologia, Enfermagem, Serviço Social e Nutrição, que se reuniam com gestores locais em busca de novas parcerias, além da consolidação de pactuações firmadas anteriormente com as Instituições Formadoras. Neste primeiro momento não foi possível a pactuação com a Escola de Serviço Social da UFRJ, o grupo instituiu-se então com os profissionais de Enfermagem, Psicologia e Nutrição e nomeado nas instituições formadoras, um docente responsável pelo programa (Escola de Enfermagem Anna Nery, Instituto de Nutrição Josué de Castro, Instituto de Psicologia). Assim, nasceu o projeto da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde Perinatal, encaminhado e aprovado pelo MEC. Com a compreensão de que a Saúde Perinatal está em uníssono com a proposta da Residência multiprofissional, pois contempla uma visão integrada de saúde reprodutiva, desde o ciclo gestatório (gravidez, parto e puerpério), nascimento, crescimento e desenvolvimento. Nesta concepção ampla, o processo gestar-parir e nascer é concebido para além do modelo reducionista, onde as dimensões biológicas e as psico-sociais não representam dualidades e são valorizadas no mesmo plano, de forma interligada. Assim, a visão se amplia para além da vigilância dos óbitos e agravos à saúde materno-fetal/neonatal e se estende às ações de promoção e proteção à saúde. O passo seguinte foi à criação da Coordenação de Residência Multiprofissional na Instituição, com representantes do gestor da instituição executora/formadora, e representantes de cada área profissional, com o objetivo de formular o Projeto Político Pedagógico do Curso, considerando a construção coletiva, um marco em potencial para a aderência desta nova prática de ensino/aprendizagem para a Instituição em seu cotidiano do mundo do trabalho. Efeitos alcançados e recomendações: Após dois anos de implantação da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde Perinatal e já com a entrada da terceira turma de residentes alguns desafios foram transpostos, tais como: conscientizar e formar parcerias com os preceptores que apesar de trabalharem em um hospital universitário estavam habituados a receberem discentes de graduação e de pós-graduação sempre acompanhados de docentes. Ou seja, não necessitavam fazer supervisão direta e atuar como facilitadores do ensino-aprendizagem; capacitação de parte dos preceptores em curso de tutoria realizado na UFRJ; Identificação de eixos transversais para desenvolvimento de atividades multiprofissionais por parte dos residentes, tais como: no grupo da medicina Fetal, atividades ambulatoriais de sala de espera, grupos de educação em saúde com gestantes diabéticas, aleitamento materno; Identificação de atividades especificas em cada área como assistência a gestante de baixo, médio e alta risco no ambulatório, na sala de parto, alojamento conjunto. Mantendo sempre o foco na atenção humanizada, na ética e respeito da clientela; Melhorar a articulação entre instituição formadora e instituição executora. A implantação da Residência Multiprofissional é um eterno desafio para toda a equipe envolvida nesse processo. Temos como meta capacitar o residente para enfrentar os problemas complexos, amplos e globais da realidade de atuação profissional. Buscamos realizar um exercício diário de cidadania tornando-o um agente social de transformação da realidade. Nesse novo paradigma o residente deve aprender a aprender, ou seja, deve buscar conhecimentos e trocá-los com sua equipe e não esperar receber um conhecimento pronto. Em busca de um aperfeiçoamento profissional ele deve ter uma postura pró ativa e se antecipar aos eventos ocorridos a fim de estar sempre um passo a frente. O comportamento e interação com os usuários e profissionais, a adoção de uma conduta ética e clínica, além do envolvimento e compromisso; são fatores importantes que devem estar presentes em todos os residentes. No entanto, são inúmeros os desafios encontrados no decorrer dessa caminhada e aprendemos no dia a dia a lidar com eles. O convívio tão próximo, afinal são 60 horas semanais, de pessoas tão diferentes, com formações diferentes e habilidades distintas, pode acabar levando a fadiga da relação e isso dificulta muito o andamento do processo. Outro problema que encontramos é que muitas vezes esbarramos em barreiras burocráticas que impedem o desenvolvimento de atividades que foram previamente elaboradas, como foi o caso de não conseguir incluir o Serviço Social na Residência, mas esta é a nossa próxima meta, será nossa perspectiva de ampliação. Durante esses primeiros dois anos conseguimos destacar alguns pontos positivos na elaboração e execução do cronograma, tanto no que tange ao eixo transversal quanto ao eixo específico, na modalidade teórica e prática, mas ainda temos um longo caminho pela frente. Nesse modelo multiprofissional tão recomendado pelo Ministério da Saúde, devemos estreitar os laços da teoria com a prática a fim de prepararmos nossos residentes para o mercado de trabalho na área da saúde que exige, a cada dia, um amplo conhecimento teórico e uma prática integrada voltada para o cuidado individualizado e humanizado com a clientela que nos procura.