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Projeto piloto de capacitação das Equipes de Saúde da Família (ESF) em autoproteção nas comunidades afetadas pela violência armada no Rio de Janeiro
Resumo
A Estratégia de Saúde da Família está em expansão no Rio de Janeiro – RJ, chegando a 22% de cobertura. A prioridade é dada para comunidades mais vulneráveis afetadas pela violência ligada às atividades do tráfico de drogas, cuja dinâmica reflete diretamente no trabalho das ESF. Essa exposição cotidiana provoca a adoção de padrões de comportamento intuitivos e paradoxais, ora banalizando, ora supervalorizando o risco. As situações mais comuns enfrentadas são: tiroteios, balas perdidas, visitas domiciliares a casas de familiares ou de pessoas em conflito com a lei, presença de situações de violência, medo de serem confundidos com informantes, e o atendimento de emergência forçado a membros das facções. Isso causa dificuldades no Acesso à Saúde em três níveis: 1) na segurança das ESF; 2) na locomoção dos moradores até as Unidades de Saúde da Família (USF), por barreiras físicas ou invisíveis, e; 3) dificuldades no atendimento pré-hospitalar das emergências clínicas e dos feridos durante os confrontos armados. Desde 2008, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) vem trabalhando de forma imparcial e confidencial, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMSDC) e com as ESF, através do Programa Acesso à Saúde, para diminuir as consequências da violência armada. Baseado na sua experiência de atuação em contextos de conflito em todo o mundo, o CICV executou 5 Oficinas de Acesso Mais Seguro (OAS) e cerca de 50 visitas de acompanhamento, com o objetivo de identificar os riscos a que essas equipes estavam expostas, e construir planos de segurança. A metodologia foi participativa, aproveitando a experiência prática e as estratégias de adaptação das ESF, sistematizando procedimentos de segurança focados na realidade de cada localidade. Cerca de 160 Agentes Comunitários de Saúde participaram ativamente na elaboração e utilização dos planos, protegendo também os pacientes que estavam na USF durante o confronto. As ESF relatam um alívio do estresse e a sensação de segurança em ter um padrão de comportamento, evitando a ação individualizada. Atualmente, 6 USF tem planos de segurança construídos, contemplando 27 ESF, que cobrem cerca de 108 mil habitantes. Outras 4, estão concluindo seus planos. Frente ao sucesso da fase piloto, a SMSDC está preparando um treinamento de multiplicadores da OAS, a fim de ampliar a capacidade de treinamento das Áreas Programáticas afetadas pela violência armada.