Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Projeto piloto de capacitação das Equipes de Saúde da Família (ESF) em autoproteção nas comunidades afetadas pela violência armada no Rio de Janeiro
Ricardo Laino Martins, Hervé Le Guillouzic, Fernanda Prudencio da Silva, Paula Soares Brandão, Núlvio Lermen Júnior

Resumo


A Estratégia de Saúde da Família está em expansão no Rio de Janeiro – RJ, chegando a 22% de cobertura. A prioridade é dada para comunidades mais vulneráveis afetadas pela violência ligada às atividades do tráfico de drogas, cuja dinâmica reflete diretamente no trabalho das ESF. Essa exposição cotidiana provoca a adoção de padrões de comportamento intuitivos e paradoxais, ora banalizando, ora supervalorizando o risco. As situações mais comuns enfrentadas são: tiroteios, balas perdidas, visitas domiciliares a casas de familiares ou de pessoas em conflito com a lei, presença de situações de violência, medo de serem confundidos com informantes, e o atendimento de emergência forçado a membros das facções. Isso causa dificuldades no Acesso à Saúde em três níveis: 1) na segurança das ESF; 2) na locomoção dos moradores até as Unidades de Saúde da Família (USF), por barreiras físicas ou invisíveis, e; 3) dificuldades no atendimento pré-hospitalar das emergências clínicas e dos feridos durante os confrontos armados. Desde 2008, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) vem trabalhando de forma imparcial e confidencial, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMSDC) e com as ESF, através do Programa Acesso à Saúde, para diminuir as consequências da violência armada. Baseado na sua experiência de atuação em contextos de conflito em todo o mundo, o CICV executou 5 Oficinas de Acesso Mais Seguro (OAS) e cerca de 50 visitas de acompanhamento, com o objetivo de identificar os riscos a que essas equipes estavam expostas, e construir planos de segurança. A metodologia foi participativa, aproveitando a experiência prática e as estratégias de adaptação das ESF, sistematizando procedimentos de segurança focados na realidade de cada localidade. Cerca de 160 Agentes Comunitários de Saúde participaram ativamente na elaboração e utilização dos planos, protegendo também os pacientes que estavam na USF durante o confronto. As ESF relatam um alívio do estresse e a sensação de segurança em ter um padrão de comportamento, evitando a ação individualizada. Atualmente, 6 USF tem planos de segurança construídos, contemplando 27 ESF, que cobrem cerca de 108 mil habitantes. Outras 4, estão concluindo seus planos. Frente ao sucesso da fase piloto, a SMSDC está preparando um treinamento de multiplicadores da OAS, a fim de ampliar a capacidade de treinamento das Áreas Programáticas afetadas pela violência armada.