Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Questões para a formação em uma residência multiprofissional em saúde mental: os impasses do Acolhimento como produtor de acesso numa Instituição Psiquiátrica
Leandro Moura dos Reis

Resumo


O presente trabalho pretende discutir alguns dos pressupostos adjacentes ao conceito de acolhimento para que este possa ser tomado como um dispositivo produtor de acesso aos equipamentos de Saúde Mental, especialmente num hospital Psiquiátrico de médio porte, tal como se torna imperioso a partir da fundamentação dos princípios do SUS. Tal discussão encontra origem no caso de desinstitucionalização de B., onde mesmo após a estabilização do quadro do paciente a família representada no caso pela mãe manteve por longas datas a internação do paciente por meio de ação judicial. A relação entre a família e a instituição havia se deteriorado profundamente devido ao entendimento de que B. já teria condições de ir para casa, mas que sua família não o queria. Isso estigmatizava a família e inviabilizava o trabalho. A saída de B. só começa se mostrar possível a partir do acolhimento do sofrimento psíquico de sua mãe que se coloca em atendimento como um sujeito distinto. Uma estratégia que visava apenas à mãe como sujeito em vez da produção de um lugar para seu filho como objetivo primeiro. Trata-se assim de sublinhar e problematizar os preceitos e ações clínicas necessárias - tal como sintoma, sofrimento psíquico, demanda, dentre outros –, para que o encontro entre o trabalhador de saúde e o usuário que apresenta seu sofrimento e solicita cuidados, tal como Merhy define acolhimento, possa efetivamente possibilitar a entrada do usuário à rede de cuidados em Saúde Mental. Queremos com isso mostrar, por meio de uma vinheta clínica, a potência desses preceitos e ações e seu tensionamento frente ao endurecimento da Instituição devedores a abordagens menos fundamentadas na atenção psicossocial principalmente no que tange a questão do protagonismo do sujeito em seu tratamento. Acreditamos que, sem essa visada que aqui chamamos de clínica em movimento, corre-se o risco de tornar sem uso o conceito de acolhimento e assim não se produzir acesso a rede de Saúde – ressaltada a especificidade da Saúde Mental, ou de se produzir um acesso na qual a dimensão autonomizadora do processo terapêutico seja prejudicada solapando assim a resolutividade possível dos dispositivos de Saúde Mental.Palavras-chave: Acolhimento, Acesso, Saúde Mental, sofrimento psíquico, autonomia, produção de cuidado, residência multiprofissional.