Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
Sentidos do trabalho e da saúde entre trabalhadores do MST no estado do Rio de Janeiro
Júlio César Borges dos Santos

Resumo


Introdução: O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é considerado o mais importantes movimento social do campo no Brasil e um dos mais importantes no mundo. Apesar da expressiva atuação política e social dos trabalhadores sem-terra ainda há pouco estudos sobre a saúde desta população. Objetivo: Esta comunicação analisa os significados atribuídos por trabalhadores rurais assentados à saúde e suas relações com o trabalho e o ambiente, bem como as estratégias desenvolvidas para mantê-la e/ou promovê-la. Metodologia: Estudou-se um assentamento rural ligado ao MST, no município de Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro. A perspectiva ergológica constituiu o referencial teórico-metodológico na perspectiva do trabalho como “atividade humana”. Utilizou-se de observação participante, análise documental, entrevista semi-estruturada e grupo focal na produção dos dados, interpretados de acordo com a análise de conteúdo temática. Resultados e Discussão: O trabalho no assentamento adquire significado na medida em que se opõe às experiências anteriores, sendo a narrativa dos sujeitos entrecortada de referências à vida e ao trabalho na cidade e/ou no campo. Desse modo, trabalhar e viver no assentamento proporciona maior saúde, pois está relacionado a dormir bem, ter a possibilidade de uma alimentação saudável e sem agrotóxicos, viver em um ambiente menos poluído e sem violência. Além disso, a saúde é compreendida “como a capacidade de trabalhar e de lutar contra tudo aquilo que nos agride, inclusive a doença”. Os problemas relacionados ao trabalho no assentamento foram o uso de agrotóxicos, a exposição excessiva ao sol, as determinações macro sociais, políticas e econômicas que atuam como normas antecedentes ao trabalho e condicionam sua realização. Por outro lado, o trabalho assentado é visto como liberdade e satisfação, positividade esta associada à maior autogestão e autonomia no trabalho, considerados elementos fundamentais para a saúde. Esta maior autonomia se relaciona às estratégias de saúde, pois, sendo oposto ao trabalho assalariado, a autogestão no trabalho proporciona ao trabalhador organizar os ritmos, intensidade e modos de fazer o trabalho de acordo com sua capacidade e motivações. Conclusão: Os sentidos atribuídos ao trabalho no assentamento configuraram possibilidades de produção de saúde e de resistência às “prescrições” macro – sociais, técnicas, econômicas - impostas pelo modelo hegemônico do agronegócio.