Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
A SALA DE ESPERA COMO DISPOSITIVO DE IN(TER)VENÇÃO EM SAÚDE MENTAL
Alissia Gressler Dornelles, Edna Linhares Garcia, Carla Franco Hoffmann, Willian Augusto dos Santos, Fabiana Borowsky, Silvana Cristina Jaeger, Adriana Reni Krüger

Resumo


A reforma psiquiátrica brasileira propõe novas diretrizes para o trabalho em saúde mental que visam à reestruturação dos modelos de atenção e cuidado para lidar com o sofrimento psíquico. Neste sentido, ressaltamos a importância da criação de dispositivos que auxiliem na invenção de outros modos de subjetivação e apostamos na contribuição da psicanálise para essa construção. A partir do trabalho realizado no Centro de Atendimento Municipal Especializado (Vera Cruz /RS), encontramos na sala de espera um lugar propício para intervenções, que complementam as outras já realizadas no serviço. O C-AME possui um estagiário do curso de psicologia que atua na recepção. Com a escuta sensível da equipe e a aposta no trabalho interdisciplinar, começamos a realizar pequenas ações, incitadas principalmente pelo estagiário, que se dedica à organização deste espaço de chegada dos usuários. As intervenções não seguem um protocolo padrão, mas ao contrário, são pensadas a partir da sensibilidade de quem as propõe, pautando-se na premissa de que o vínculo terapêutico excede os limites da sala de atendimento e acontece também no ambiente, nos espaços em comum. É neste sentido que a psicanálise fornece suporte ao trabalho em instituições, ao sugerir uma clínica do sujeito dentro da perspectiva da clínica ampliada (RINALDI, 2006). Dentre as intervenções efetivadas, citamos: observação da dinâmica e das relações familiares, conversas informais sobre a história da criança/adolescente e da família, leitura de histórias infantis, produção de desenhos, prestação de esclarecimentos e informações sobre serviços da rede de saúde, realização de pesquisa de opinião com os familiares, discussão dos aspectos observados e do material produzido com a equipe técnica. Trabalhamos com o sujeito na perspectiva da integralidade, mas sempre considerando a sua singularidade, como prevê a Política Nacional de Humanização – PNH (2004). Entendemos que esses deslocamentos de escuta e intervenção fazem parte do processo terapêutico do sujeito, uma vez que continuam a convocar a relação terapêutica não só com o profissional, mas com a instituição que o acolhe, com o espaço de convivência. Porém, para que tais desdobramentos clínicos possam operar, os profissionais precisam estar disponíveis ao encontro com o outro, com a alteridade e sua diversidade, algo fundamentalmente necessário ao trabalho em instituições de saúde pública.

Palavras-chave


Saúde mental; Clínica ampliada; In(ter)venção; Psicanálise; Interdisciplinaridade.

Referências


BRASIL. Ministério da Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: a clínica ampliada. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

 

RINALDI, D. L.; LIMA, M. C. N. Entre a clínica e o cuidado: a importância da curiosidade persistente para o campo da saúde mental. Revista Mental, ano IV, n. 6. Barbacena, 2006.