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A SALA DE ESPERA COMO DISPOSITIVO DE IN(TER)VENÇÃO EM SAÚDE MENTAL
Resumo
A reforma psiquiátrica brasileira propõe novas diretrizes para o trabalho em saúde mental que visam à reestruturação dos modelos de atenção e cuidado para lidar com o sofrimento psíquico. Neste sentido, ressaltamos a importância da criação de dispositivos que auxiliem na invenção de outros modos de subjetivação e apostamos na contribuição da psicanálise para essa construção. A partir do trabalho realizado no Centro de Atendimento Municipal Especializado (Vera Cruz /RS), encontramos na sala de espera um lugar propício para intervenções, que complementam as outras já realizadas no serviço. O C-AME possui um estagiário do curso de psicologia que atua na recepção. Com a escuta sensível da equipe e a aposta no trabalho interdisciplinar, começamos a realizar pequenas ações, incitadas principalmente pelo estagiário, que se dedica à organização deste espaço de chegada dos usuários. As intervenções não seguem um protocolo padrão, mas ao contrário, são pensadas a partir da sensibilidade de quem as propõe, pautando-se na premissa de que o vínculo terapêutico excede os limites da sala de atendimento e acontece também no ambiente, nos espaços em comum. É neste sentido que a psicanálise fornece suporte ao trabalho em instituições, ao sugerir uma clínica do sujeito dentro da perspectiva da clínica ampliada (RINALDI, 2006). Dentre as intervenções efetivadas, citamos: observação da dinâmica e das relações familiares, conversas informais sobre a história da criança/adolescente e da família, leitura de histórias infantis, produção de desenhos, prestação de esclarecimentos e informações sobre serviços da rede de saúde, realização de pesquisa de opinião com os familiares, discussão dos aspectos observados e do material produzido com a equipe técnica. Trabalhamos com o sujeito na perspectiva da integralidade, mas sempre considerando a sua singularidade, como prevê a Política Nacional de Humanização – PNH (2004). Entendemos que esses deslocamentos de escuta e intervenção fazem parte do processo terapêutico do sujeito, uma vez que continuam a convocar a relação terapêutica não só com o profissional, mas com a instituição que o acolhe, com o espaço de convivência. Porém, para que tais desdobramentos clínicos possam operar, os profissionais precisam estar disponíveis ao encontro com o outro, com a alteridade e sua diversidade, algo fundamentalmente necessário ao trabalho em instituições de saúde pública.
Palavras-chave
Saúde mental; Clínica ampliada; In(ter)venção; Psicanálise; Interdisciplinaridade.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: a clínica ampliada. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
RINALDI, D. L.; LIMA, M. C. N. Entre a clínica e o cuidado: a importância da curiosidade persistente para o campo da saúde mental. Revista Mental, ano IV, n. 6. Barbacena, 2006.