Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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O LUGAR DO CORPO NAS PRÁTICAS DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL: UM CONVITE À TRANSPOSIÇÃO TEÓRICA DA SUPERAÇÃO DO DUALISMO
Ana Caroline Leite de Aguiar, Leilson Lira de Lima

Resumo


Dados quantitativos e qualitativos (SILVA et al, 2005; MOREIRA; SLOAN, 2002) adjetivam necessárias e valorosas iniciativas que visem a um entendimento multidimensional dos transtornos mentais. Dessarte, considerando que o sujeito é corpo, que a subjetividade é algo que neste acontece e dele não se desvincula (FOUCAULT, 1984), e que o corpo tem poder de significação (MERLEAU-PONTY, 1999), resta ele importante em estudos e práticas voltados à Saúde Mental. Unindo isso à relevância social e de saúde pública dos transtornos mentais (OMS, 2008; IACOVIELLO; MATHEW, 2011) e à ideia afim ao SUS de superação do dualismo cartesiano corpo e mente como rumo promissor à saúde, objetivou-se discutir o lugar do corpo nas práticas de cuidado em Saúde Mental do SUS presentes na literatura cientifica. Para tanto, analisou-se como esta aborda o corpo em relação a transtornos mentais e descreveram-se como serviços de Saúde Mental têm ofertado cuidados nesse âmbito a sujeitos assim adoecidos. Realizou-se uma pesquisa qualitativa, exploratória, com uma revisão integrativa das práticas nacionais de cuidado com o corpo na Saúde Mental pública, de 1988 a 2013. Buscaram-se publicações online e na íntegra, nas bases LILACS e SciELO, e, com vistas à descrição das práticas, incluiu-se a consulta ao IdeiaSUS. Os dados estão em análise textual, que tem permitido identificar e isolar conteúdos, categorizá-los e produzir textos descritivos e interpretativos, a partir das categorias, e reflexivos e analíticos, arvorados nas concepções de Merleau-Ponty e Foucault sobre corpo. Mostra-se prevalente um reconhecimento deste que comunga com os autores supracitados, por “ir além” do orgânico: corpo construído pelas relações existenciais, provido de subjetividade e símbolos, assim, ultrapassando, sem negar, a nosografia do adoecimento e a perspectiva biomédica tradicional. Nas práticas de cuidado analisadas, porém, têm predominado ações voltadas a um corpo enclausurado em arestas biologicistas, centradas na prescrição/administração de medicações. Percebe-se, portanto, a tendência a uma assincronia entre compreensões de cuidados corporais em Saúde Mental e práticas dessa natureza, o que faz urgir a necessidade de diversificação e amplitude do cuidar nesse campo, para que se afirme e garanta a integralidade (SUS) e não persistam silenciados e excluídos os corpos, reconhecidos subjetivos e importantes, dos sujeitos com transtornos mentais que chegam aos serviços de saúde pública.