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OFICINAS EM SAÚDE MENTAL: EXPERIÊNCIA COM O AUTOCUIDADO DE PORTADORES DE SOFRIMENTO MENTAL EM CRISE
Resumo
As oficinas terapêuticas em saúde mental constituem-se em novas práticas que possibilitam a inserção social, permitindo ao sujeito reconstituir seu direito de criar e fazer escolhas, além de promover o desenvolvimento do cuidado consigo mesmo e de trabalho e afetividade com o outro. O cuidado de si, desde a Grécia antiga figura como um dos grandes princípios da cidade, uma regra de conduta da vida social e pessoal e um dos fundamentos da arte de viver. Nesse sentido o projeto de extensão universitária ‘Oficina de Cuidados’ promovido pela Escola de Enfermagem da UFMG, implantado em um serviço público da Rede de Atenção Psicossocial, objetiva promover o desenvolvimento da autonomia e cidadania dos usuários por meio do cuidado com o próprio corpo. Através da demanda dos próprios usuários e do serviço foi criada uma oficina que se intitulou como “salão de beleza”. Fundamentadas no referencial teórico da reabilitação psicossocial e nas ideias foucaultianas sobre o cuidado de si, as oficinas buscam fomentar a vivência dos participantes e sua individualidade. Trata-se da apropriação de um espaço no serviço pelos usuários em que eles podem cuidar das unhas, lavar e pentear os cabelos, fazer a barba, dentre outros. Os usuários são convidados a realizarem o próprio cuidado e a auxiliarem-se uns aos outros. A participação se dá por demanda espontânea. A cada oficina percebe-se que o contato afetivo entre usuários e com as discentes bolsistas que conduzem as atividades contribuem para a permanência e adesão. Pelos próprios relatos, os usuários afirmam sentirem-se mais calmos, com a autoestima mais elevada e uma satisfação em cuidarem de si mesmos. Por possibilitar um espaço de expressão e acolhimento, as oficinas são importantes aliadas como dispositivo terapêutico, na medida em que possibilita a atuação e participação dos usuários, respeitando suas particularidades e experiências, o que permite a expressão das singularidades. Cuidar do próprio corpo vem criando possibilidades, em especial ao paciente psicótico que encontra dificuldades específicas em relação à imagem corporal, de olhar para si mesmo, pensar e repensar as suas noções de estética, seu próprio corpo e seus desejos. Esses fazeres, corriqueiros para não psicóticos, tornam-se elementos essenciais, possibilitando uma maior circulação social, influindo diretamente no resgate da condição de cidadania.
Palavras-chave
enfermagem psiquiátrica; saúde mental; autocuidado.
Referências
1- Costa CM, Figueiredo AC (org.). Oficinas terapêuticas em saúde mental: sujeito, produção e cidadania. Rio de Janeiro: Contra Capa livraria; 2008.
2- Foucault M. História da sexualidade 2: o cuidado de si. Rio de Janeiro (RJ): Graal; 1988.3 – Saraceno B. Libertando identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania possível. Belo Horizonte: Te Corá; 1999.