Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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OFICINAS EM SAÚDE MENTAL: EXPERIÊNCIA COM O AUTOCUIDADO DE PORTADORES DE SOFRIMENTO MENTAL EM CRISE
Nayara Alacoque Coelho, Ana Raquel Silva de Paula, Teresa Cristina da Silva Kurimoto, Annette Souza Silva Martins da Costa

Resumo


As oficinas terapêuticas em saúde mental constituem-se em novas práticas que possibilitam a inserção social, permitindo ao sujeito reconstituir seu direito de criar e fazer escolhas, além de promover o desenvolvimento do cuidado consigo mesmo e de trabalho e afetividade com o outro. O cuidado de si, desde a Grécia antiga figura como um dos grandes princípios da cidade, uma regra de conduta da vida social e pessoal e um dos fundamentos da arte de viver. Nesse sentido o projeto de extensão universitária ‘Oficina de Cuidados’ promovido pela Escola de Enfermagem da UFMG, implantado em um serviço público da Rede de Atenção Psicossocial, objetiva promover o desenvolvimento da autonomia e cidadania dos usuários por meio do cuidado com o próprio corpo. Através da demanda dos próprios usuários e do serviço foi criada uma oficina que se intitulou como “salão de beleza”. Fundamentadas no referencial teórico da reabilitação psicossocial e nas ideias foucaultianas sobre o cuidado de si, as oficinas buscam fomentar a vivência dos participantes e sua individualidade. Trata-se da apropriação de um espaço no serviço pelos usuários em que eles podem cuidar das unhas, lavar e pentear os cabelos, fazer a barba, dentre outros. Os usuários são convidados a realizarem o próprio cuidado e a auxiliarem-se uns aos outros. A participação se dá por demanda espontânea. A cada oficina percebe-se que o contato afetivo entre usuários e com as discentes bolsistas que conduzem as atividades contribuem para a permanência e adesão. Pelos próprios relatos, os usuários afirmam sentirem-se mais calmos, com a autoestima mais elevada e uma satisfação em cuidarem de si mesmos. Por possibilitar um espaço de expressão e acolhimento, as oficinas são importantes aliadas como dispositivo terapêutico, na medida em que possibilita a atuação e participação dos usuários, respeitando suas particularidades e experiências, o que permite a expressão das singularidades. Cuidar do próprio corpo vem criando possibilidades, em especial ao paciente psicótico que encontra dificuldades específicas em relação à imagem corporal, de olhar para si mesmo, pensar e repensar as suas noções de estética, seu próprio corpo e seus desejos. Esses fazeres, corriqueiros para não psicóticos, tornam-se elementos essenciais, possibilitando uma maior circulação social, influindo diretamente no resgate da condição de cidadania.

Palavras-chave


enfermagem psiquiátrica; saúde mental; autocuidado.

Referências


1- Costa CM, Figueiredo AC (org.). Oficinas terapêuticas em saúde mental: sujeito, produção e cidadania. Rio de Janeiro: Contra Capa livraria; 2008.

2-  Foucault M. História da sexualidade 2: o cuidado de si. Rio de Janeiro (RJ): Graal; 1988.

3 – Saraceno B. Libertando identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania possível. Belo Horizonte: Te Corá; 1999.